Depois de quase cinco anos, a série The Boys (2019 -) se consolidou como um fenômeno, não só por ser uma adaptação de quadrinhos celebrada pela crítica e audiência, mas pelo texto afiado e muitas vezes ácido, que traz à tona todos os absurdos possíveis para um mundo dominado por super-heróis controversos e mocinhos que precisam usar de métodos nada convencionais para deter a tirana corporação de supers, Vought International.
Depois de um terceiro ano simplesmente impecável, a série da Amazon Prime Video entrou numa incógnita após chegar no topo da qualidade narrativa. Eis que a estreia, no ano passado, do quarto ano trouxe muito do que a série criada por Erik Kripke, adaptada dos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Roberton tem de melhor, mas abriu espaço para alguns problemas que estavam ali, mas agora parecem sobrepor a qualidade dominante do texto.
É claro que o seriado começa de uma forma acelerada nos episódios Department of Dirty Tricks (4×01), Life Among the Septics (4×02) e We’ll Keep the Red Flag Flying Here (4×03), lidando com a repercussão da morte de Soldier Boy (Jensen Ackles) e o assassinato de um cidadão aleatório pelas mãos de Ryan (Cameron Crovetti), agora ao lado do pai Homelander (Anthony Starr).
Os “Boys” continuam sua saga imparável de tentar alguma forma de deter Homelander e companhia, porém inicialmente parecem dispersos e cheios de conflitos entre si. Enquanto Butcher (Karl Urban) descobre uma doença rara e começa ter alucinação da esposa morta, Hughie (Jack Quaid) e Starlight (Erin Moriarty) tentam consolidar seu relacionamento, enquanto a heroína trava uma guerra midiática particular contra Homelander e seus conservadores. Mother’s Milk (Laz Alonso) fica mais próximo de Hughie na missão de deter os supers, enquanto French (Tomer Capone) encontra um novo amor e Kimiko (Karen Fukuhara) precisa lidar com seus próprios demônios do passado.
Neste ponto, o que se sobressai na trama é a forma como o texto de Kripke e seus roteiristas parecem finalmente abraçar de vez a crítica a extrema direita e expor a veia fascista de Homelander e seus apoiadores, numa chacota sem fim que gerou inclusive incomodo em alguns amantes do seriado que parecem não ter entendido a mensagem da série desde a primeira temporada, mas vamos dar um desconto porque inteligência interpretativa nunca foi muito o forte desta galera.
A série não para por aí, ao se apoiar nesta crescente política, a narrativa parece perder suas amarras e abraçar ainda mais o bizarro, se utilizando de reviravoltas e cenas antológicas numa escala ainda maior que das temporadas anteriores. O problema é que ao fazer isto, The Boys começa a perder força exatamente por repetir os desequilíbrios de Homelander, que ao se sentir mais vulnerável acaba ficando ainda mais violento no decorrer da temporada, como fica claro em Wisdom of the Ages (4×04), que apesar dos pesares, ainda é um excelente episódio.
O grande trunfo da série neste novo ano, é a personagem Sister Sage (Susan Heyward), conhecida pela inteligência aguçada, ela se junta aos “Sete” para ajudar Homelander a concretizar seu plano de finalmente ascender politicamente nos EUA com a “ajuda” de Victoria Neuman (Claudai Doumit). Outro ponto positivo é a jornada de redenção de A-Train (Jessie T. Usher) que serve como um aliado improvável para Mother’s Milk, Hughie e o resto do grupo.
O melhor aqui também é que a série não esquece de ligar seu universo expandido, então o arco da primeira temporada de Gen V (2023 -) tem uma repercussão bastante significativa aqui, potencializando a reta final da temporada com o grupo tentando achar a vacina anti-super para deter Homelander, isto resulta no engraçado e maluco episódio Beware the Jabberwock, My Son (4×05) com direito a uma sequência escatológica com ovelhas assassinas a base de V perseguindo nosso esquadrão favorito.
Infelizmente, a série às vezes oscila com episódios como Dirty Business (4×06), onde a trama parece cozinhar muito, mesmo que tenha momentos interessantes, como uma revelação bacana sobre Butcher, ou o grupo acabando no meio de uma instalação subterrânea cheia de sadomasoquistas em outra cena com a cara do seriado.
A reta final felizmente pega gás de novo e os dois últimos episódios, The Insider (4×07) e o ótimo final de temporada Season Four Finale (4×08), aparam as arestas e cruzam os arcos de uma forma inteligente que finalmente direciona o seriado para um desfecho definitivo. As reviravoltas aqui são muito boas, as sequências de ação funcionam muito bem e todas as pontas soltas deixadas revelam um futuro ainda mais caótico e sombrio na guerra Homelander versus The Boys.
Por tudo o que foi comentado, devo dizer que a quarta temporada de The Boys é muito boa, daquelas que entretém não só por duplicar as bizarrices já conhecida do seriado, por finalmente escancarar a crítica aos extremistas, colocando Homelander no centro da narrativa mostrando o vilão fascista, nazista e racista com um QI de um bebê chorão, além de finalmente mostrar um ponto de definição que deve potencializar a quinta e última temporada. Ainda que oscile mais que o normal neste novo ano, a série continua sendo um dos entretenimentos mais honestos, controversos e divertidos da atualidade.
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Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.