Por Duda Rocha
Texto resultado da OFICINA DE CRÍTICA DE CINEMA PARA PESSOAS DISSIDENTES, COM ERIC MAGDA LIMA – MINISTRADA NA CASA AMARELA EUSÉLIO OLIVEIRA DURANTE O PERÍODO DE 18 DE JUNHO A 02 DE JULHO.
Em A Filha do Palhaço (2022), do diretor cearense Pedro Diógenes, também responsável por Pajeú (2020) e pela co-direção de Inferninho (2018), é retratada a relação da adolescente Joana (Sutter Lis) com seu pai, Renato (Demick Lopes), artista que faz shows humorísticos caracterizado como a personagem Silvanelly. Quando Joana decide mentir para a mãe e ir passar uma semana na casa do pai, os dois se veem em uma situação onde laços que até então não haviam sido estabelecidos, começam a ser lentamente construídos.
Mais uma vez, Pedro Diógenes usa da sensibilidade para contar suas histórias, trabalhando temas de suma importância, como o abandono parental cometido por Renato, que o distanciou de Joana até aquele momento; os desafios do personagem por ser um homem gay e como isso afetou seu papel de pai após se divorciar da mãe de sua filha; os ataques homofóbicos sofridos em seus shows por ele estar caracterizado como mulher; além do amadurecimento de Joana com todas as questões que ficam mais latentes durante o período da adolescência.
O roteiro faz uma escolha interessante ao mesclar o enredo principal com as apresentações de Silvanelly, explicando os fatos para o telespectador de maneira cômica. Outra característica do longa que enriquece ainda mais a história é a trilha sonora, que usa de músicas como “Assum Preto”, do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e “Tô Fazendo Falta”, da cantora Joana, como forma de aproximação entre os protagonistas.
O ator Jesuíta Barbosa faz uma pequena participação no longa, como um possível interesse romântico de Renato, mas por ter um tempo de tela reduzido, acaba ficando um pouco deslocado em meio a trama. Ainda assim, é compreensível sua adição, pois serve para desenvolver esse lado do personagem, que ainda sofre por ter perdido seu ex-companheiro.
Ademais, destaque para a atuação de Demick Lopes, que interpreta os papeis de Renato e Silvanelly com maestria, agregando características bastante específicas em cada. Lis Sutter também se desenvolve bem como Joana, sendo possível observar o crescimento da personagem em tela, que inicialmente era bem fechada, mas aos poucos foi possibilitando que o pai se aproximasse.
Por fim, acredito que o filme leva o espectador a refletir sobre quem ele é de fato, seu verdadeiro eu, apesar dos julgamentos. Uma estrutura familiar não convencional, ainda assim é uma boa estrutura familiar. Joana e Renato mostram que estreitar relações, embora possa ser difícil, inicialmente, ainda mais em contextos complicados, pode ter um excelente desfecho, e que, no fim, o carinho e o respeito conseguem prevalecer.
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