Desde que Turma da Mônica: Laços (2019) foi lançado uma demanda popular extremamente importante surgiu na população brasileira. Precisávamos de um filme assim, mas do Chico Bento. Agora é 2025 e o povo está feliz, chegou Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa (2024).
Como uma boa fã da turminha até hoje, eu tinha expectativas bem altas para este filme. Chico pode não ser meu personagem favorito, mas suas histórias tem toda uma vibe, uma energia diferente, ele é o que temos de mais próximo de um hobbit brasileiro, precisando de pouco mais que uma sombra e algumas goiabas para curtir a vida ao máximo.
Em Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa temos a personagem título nos apresentando um causo, como ele mesmo diz, que começa com seu nascimento ao mesmo tempo em que uma goiabeira é plantada e leva para anos mais tarde, quando ele e es amigues se unem para salvar a dita goiabeira de ser derrubada para a construção de uma estrada asfaltada.
O filme é dirigido por Fernando Fraiha, que dirigiu episódios de Ninguém Tá Olhando (2019) e produziu Turma da Mônica: Laços. O roteiro é dele juntamente com Elena Altheman que escreve episódios de O Menino Maluquinho (2022 -), Raul Chequer conhecido por interpretar Murilo dos Anjos em Choque de Cultura (2016 – 2023) e também participar da escrita do programa, os dois já trabalharam escrevendo para Irmão do Jorel (2014 -) e Acorda, Carlo! (2023 -). A fotografia é de Gustavo Hadba, que fez a fotografia de Grande Sertão (2023) e Eduardo e Mônica (2020). A trilha sonora é de Fábio Góes que trabalhou Um Ano Inesquecível: Primavera (2023) e Turma da Mônica: A Série (2022) e Daniel Rezende, que iniciou tudo isso dirigindo Laços, está na produção do longa.
Do jeitinho que o povo gosta
O filme não adapta nenhuma Graphic MSP, reimaginações de outres artistas usando personagens de Maurício de Sousa, como a princípio se imaginou que faria, mas sim a obra da personagem num geral, uma história original inspirada nos quadrinhos que todes crescemos lendo. A direção abraça essa leve fantasia que temos nos gibis, trazendo realidade na medida certa para o filme, com quebras da quarta parede, algumas animações bem localizadas e claramente muito carinho pelo que está fazendo.
Se você gostou de Laços ou é grande fã desse garotinho caipira, vai gostar desse filme, ele tem essa energia de infância genuína, gostosa e meio lúdica que faz a gente se encantar e querer dar um mergulho no ribeirão da Vila Abobrinha, que por sinal foi trazida ao mundo de modo impecável com uma direção de arte primorosa.
O resultado é uma história simples, mas que condiz perfeitamente com a personagem título e que contém todos os elementos clássicos e essenciais para uma história do Chico Bento, temos muito sotaque caipira, goiaba, histórias de assombração, um viés ambiental forte, sem, claro, esquecer sua parceria de crimes com o primo Zé Lelé e sua paixão por Rosinha, que é retratada de forma bem inocente e ingênua, como deve ser.
Pequenas mudanças foram feitas, como o Chico andar de botinas, Nhô Lau (Luis Lobianco) apenas assustar no grito – até nos quadrinhos os seus famosos tiros de sal já foram abolidos – e a inclusão de uma personagem que também é mais recente nos gibis.
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Obviamente, sendo histórias de Maurício de Sousa, o melhor da história está sempre nas personagens, em como elas são interessantes e reagem às situações, então desde o início dessas obras live action, com pessoas, o elenco foi uma grande preocupação e um dos pontos fortes, aqui não é diferente.
Isaac Amendoim simplesmente é Chico Bento, ele é natural, espontâneo e carismático, ele tem vivência com aquele mundo do interior, é seu habitat natural. Anna Julia Dias como Rosinha brilha muito, sabendo ser doce ou azeda quando precisa, bem como sua contraparte dos quadrinhos. Pedro Dantas rouba a cena com seu Zé Lelé quase sempre, é impossível não rir quando ele mais uma vez tem que parar de correr e pegar seu chapéu que caiu. Enzo Henrique como Genesinho é perfeito, eu nunca tive tanto ranço de uma criança rica e mimada como tive dele. Lorena de Oliveira como Tábata, Davi Okabe como Hiro e Guilherme Tavares como Zé da Roça tem menos tempo de tela, mas honram seus personagens e tem seus momentos de brilhar.
O elenco adulto também se sai muito bem, os casais pais de todas as crianças aparecem na história e Rafael Saraiva se destaca como Leocádio, o pai de Zé Lelé, mas também temos participações mais que especiais de Taís Araújo e Débora Falabella.
“Que mundo é esse que troca goiaba por asfalto?”
O filme deixa uma lição poderosa e muito atual sobre preservação, mas não apenas da goiabeira e do meio ambiente. A árvore frutífera pode servir de símbolo para tantas coisas, basta pensar em coisas que mereciam mais atenção e são desvalorizadas em favor do lucro, ou como toda história do Chico Bento nos faz pensar, talvez a melhor coisa seja dar uma freada no progresso, nas inovações tecnológicas e na pressa, para conseguirmos nos conectar melhor com o mundo e as pessoas que amamos. É uma crítica maior do que realmente parece.
Além de algumas mais leves e simples: saber ouvir e valorizar o coletivo. Chico é cabeça dura e mandão, mas vai precisar aprender que não se faz nada sozinho, ou sem entender as pessoas com quem se está trabalhando junto, especialmente aquelas que podem oferecer soluções que não pensamos.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é um filme fofo, colorido e alto astral que tem muito a ensinar para crianças e adultos, trazendo a magia da infância e dos quadrinhos para as telas, aproveite para fazer uma sessão dupla quando for assistir O Auto da Compadecida 2 (2024).
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Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.