Por Pedro Igor, Ruan Nascimento, Duda Rocha, Lucas Hilário Gomes e Victor Comenho
Texto resultado da OFICINA DE CRÍTICA DE CINEMA PARA PESSOAS DISSIDENTES, COM ERIC MAGDA LIMA – MINISTRADA NA CASA AMARELA EUSÉLIO OLIVEIRA DURANTE O PERÍODO DE 18 DE JUNHO A 02 DE JULHO.
O documentário é um formato audiovisual que permite misturar ficção e realidade para construir uma história única. E enquanto produto cinematográfico, o documentário também permite explorar diferentes perspectivas e pontos de vista em uma mesma narrativa. Pensando nisso, elencamos cinco documentários brasileiros para conhecer um pouco das diferentes histórias que compõem o nosso país, sob múltiplos pontos de vista e perspectivas únicas.
Flash Happy Society
Guto Parente, 2009
Uma enorme festa é filmada de cima em plano geral. A cada vez que o flash de alguma câmera é acionado por seus participantes (o que ocorre com muita frequência), a filmagem é desacelerada. O resultado é uma orquestra imagética deslumbrante, fantasmagórica e surreal, além de uma fonte quase inesgotável de reflexões sociológicas e filosóficas, que vão desde a espetacularização da vida em uma cultura midiática até a natureza do próprio tempo.
Definida por seu diretor, Guto Parente, como uma “Ficção científica baseada em fatos reais”, Flash Happy Society é sem dúvidas uma experiência cinematográfica única, o que faz valer a pena passar seus quase 8 minutos contemplando nada além da sucessão ininterrupta de luzes aprisionadas — e o aprisionamento do tempo humano junto a elas.
Assista o curta completo aqui:
Jogo de Cena
Eduardo Coutinho, 2007
Em uma produção que mescla a realidade e ficção de uma forma irresistivelmente carismática, Jogo de Cena traz as histórias de diversas mulheres que foram convidadas pelo diretor, Eduardo Coutinho, a compartilharem suas narrativas e vivências. Essas histórias reais foram contadas e documentadas no Teatro Glauber Rocha, no Rio de Janeiro. Em seguida, atrizes diversas foram chamadas para interpretar a narração dessas histórias à frente das câmeras, a partir do material original captado anteriormente.
O filme costura, com muita habilidade, realidades e vivências das mais diversas, recortando, editando e juntando fragmentos de narrativas e criando uma experiência única.
Onde assistir: Netflix
Elena
Petra Costa, 2012
A jovem Elena se muda para Nova York com o intuito de se tornar atriz. Mais tarde, 20 anos depois, Petra viaja para o mesmo destino à procura da irmã, seja através de pessoas, registros ou memórias.
Elena, de Petra Costa, é emocionante, contemplativo e real. O roteiro inicia contextualizando quem foi Elena, sua infância, suas motivações e, aos poucos, vai fazendo um paralelo com a própria Petra, que apesar dos medos da família, seguiu os passos da irmã no teatro.
As gravações das ruas de Nova York feitas por Petra em primeira pessoa fazem o telespectador se sentir na pele da própria Elena, fora os documentos e depoimentos, que tornam as questões e medos da protagonista ainda mais reais. Por fim, as últimas cenas, dotadas de um quê contemplativo e subjetivo, mostram o quão Elena foi importante na vida da diretora e que apesar de sua singularidade, ela representa muitas jovens e mulheres que estão passando pelo processo do amadurecimento em meio a pressão da vida.
Onde assistir: Netflix
Transversais
Émerson Maranhão, 2022
Um filme transgressor para sua época, o que não o deveria ser. O documentário de Émerson Maranhão retrata as histórias de vida de cinco pessoas transgênero no Ceará. Entre sonhos e arrependimentos, as personagens relatam suas lutas, individuais e coletivas, por respeito, dignidade, visibilidade e cuidado.
Transversais quase não chegou às telas. O então presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que pretendia “abortar” o filme, quando decidiu vetar a captação de recursos públicos por meio da Ancine para projetos com temática LGBTQIAPN+ em 2019. Mesmo com atraso, o filme estreou em alguns festivais, sendo bem avaliado pela crítica, e entrou para o catálogo brasileiro da Netflix logo depois. Transversais nos transporta para dentro da vida de suas personagens e nos faz entender porque se trata de um filme transgressor demais para o seu tempo, por mais que não o devesse ser: vivemos no país que tenta apagar a todo o custo a existência de pessoas transsexuais, mas elas existem… e resistem. Como transversais que são.
Onde assistir: Netflix
Ana Rúbia
Diego Baraldi e Íris Alves Lacerda, 2022
Neste documentário acompanhamos o cotidiano de Ana Rúbia, professora e palestrante, em Mato Grosso. Os dezoito minutos de mergulho na vida de Rúbia nos banham com as diversas vivências de uma mulher prestes a lançar seu livro “Memórias Escolares de Travestis”.
No compartilhar a vida com uma amiga enquanto essa faz suas sobrancelhas, na rotina familiar, na palestra de apresentação do livro, tanto no meio acadêmico quanto em um grupo religioso católico, no banhar do corpo no rio da cidade, nos momentos de lazer e celebração com os amigos em um barzinho no pós dia de lançamento, vamos conhecendo e contemplando Ana Rúbia viva e plena escrevendo sua história no tempo e no espaço. E é nesse contemplar dos mais diversos momentos da vida cotidiana de uma mulher trans, de tudo que ela é e pode ser, que reside a delícia e a beleza desse documentário.
Assista o curta completo aqui:
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