Baseado na saga de romance policial de Lee Child publicada desde os anos 90, a série da Prime Video, Reacher (2022 -), chegou sem grandes pretensões. A plataforma há muito tempo parece ocupar o lugar de melhores filmes de ação e suspense e claro, o mais querido dos gêneros, o famoso “filme de pai”, com filmes e séries que nossos pais e avôs assistiram em suas vidas e passaram para as novas gerações, contendo muitos tiros, socos, piadas ruins e homens brancos e fortes como protagonistas. E bem, foi isso que essa série prometia entregar, sua primeira temporada trazia o – muita ênfase em grande -, Jack Reacher (Alan Ritchson), um ex- soldado militar aposentado que vivia como andarilho pelo país até cair em Margrave, uma cidade no sul dos Estados Unidos.
Com 5 minutos dentro da pacata cidade, ele é preso acusado de assassinato e levado sobre custódia, na típica história em que o protagonista não tem nenhuma relação com o caos que está acontecendo e é puxado para o emaranhado que ele mesmo precisará resolver, claro, com uma única diferença: Reacher é um armário em forma de gente que não só atrai confusão, como também adora provocá-la.
A primeira temporada da série busca adaptar o primeiro livro de Child: Killing Floor de 1997, no Brasil ganhou a tradução: Jack Reacher: Dinheiro Sujo, e diferente dos filmes adaptados em 2012 e 2016, a interpretação de Alan Ritchson não é nada sutil e reflexiva, coisa que Tom Cruise – como em todos os seus filmes de ação -, optou para o personagem. Para esse ex-soldado, a violência é a única solução para um homem com suas habilidades e claro que não se espera muito diálogo de uma pessoa crescida e alimentada pelo exército dos Estados Unidos, mas fica sendo impossível não comparar sua cara fechada e nenhuma carisma com a carinha de bom moço e corrida engraçada de Cruise.
No entanto, acredito que a ideia foi essa, uma série muito mais violenta do que os filmes se propuseram e deixando as piadas e rostos amigáveis para os personagens que vão ficar ao redor do protagonista, aqui eu abro um rápido parênteses: mesmo nunca tendo lido qualquer livro dessa saga, acredito que a adaptação sofreu com a mesma questão que tiveram os roteiristas de Refúgio (Harlan Coben’s Shelter, 2023) – série spin off da série Myron Bolitar de Harlan Coben -, pois livros escritos desde os anos 90 não estavam muito focados em trazer representatividade étnica e de gênero em suas obras, no caso de Refugio, Mickey Bolitar foi mudado de um garoto loiro para um rapaz negro e acredito que essa questão de diversidade dentro dessa série também tem sido um ponto a ser trabalhado.
Voltando ao assunto, nessa primeira temporada eles trazem como uma espécie de ajudantes de Reacher, o detetive – delegado Finlay (Malcolm Goodwin), um forasteiro negro que não se encaixa na cidade sulista do interior e a novata Roscoe (Willa Fitzgerald), policial e a última de uma das famílias fundadoras da cidade. A escolha de personalidade desses personagens foi no mínimo fora do esperado, enquanto Finlay é um playboy acadêmico cheio de manias e uma ética e moral inabalável, Roscoe, com seus um metro e sessenta, carrega em si tanta raiva e determinação que às vezes acaba por superar a do protagonista, além disso, ambos os personagens ficam responsáveis em trazer carisma e momentos mais leves com o ex-militar, que por si só seria impossível.
A trama se intensifica quando é descoberto uma série de assassinatos em Margrave e por ser uma típica cidade que cresce apenas ao redor de uma única empresa, quando crimes violentos começam a se tornar comuns, todo mundo para. As cenas de ação não são perfeitamente coreografadas e definitivamente a direção não entrega nada além do mínimo, mas acredito que nem mesmo seja essa a intenção.
Reacher é uma série para você se sentar no domingo e deixar o tempo passar, seja ao lado do seu pai ou qualquer representante paterno que tenha ou até mesmo sozinho. Essa temporada tem apenas oito episódios e a trama para desvendar o mistério vai te deixando dicas para montar o quebra-cabeça, não é nada muito entregue de mão beijada, mas também nada impossível que vai te impedir de dormir, como já esperado nesse tipo de gênero, a história vai ser explicada no final e, particularmente, eu não esperava essa resolução e fiquei satisfeito com os episódios finais. Para quem gostou dos filmes, a série traz um personagem mais aprofundado, mostrando seu passado, além da construção de pistas que lembram tanto os filmes como outros livros da saga, provavelmente deixando feliz os fãs da saga.
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Estudante de Letras, ainda fingindo ser escritor, mesmo nunca lançando nada. Um paulista perdido pelo nordeste e obcecado por bolinho de chuva. Apaixonado por Duro de matar e filmes de heróis, evito musicais e romances clichês.