Abigail – Uma sátira vampiresca despretensiosa

Dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, mais conhecidos pelo nome “Radio Silence”, mesmos responsáveis por Casamento Sangrento (Ready or Not, 2019), Pânico (Scream, 2022) e Pânico VI (Scream VI, 2023), Abigail (2024) é um filme de terror/thriller de humor satírico que diverte na maior parte do tempo mas nem sempre é tão bem sucedido.  

 Acompanhamos um  grupo de criminosos que sequestram a filha de 12 anos de uma figura poderosa. Mantendo-a em um casarão isolado, o plano deles começa a desmoronar quando descobrem que a jovem prisioneira é na verdade uma vampira.  

 O longa se inicia numa cena de introdução bem interessante, a garotinha, Abigail (Alisha Weir), dançando O Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, enquanto vai mostrando os seus sequestradores pondo em prática seu rapto. Logo somos apresentados aos personagens, a maioria pouco desenvolvidos e bastante estereotipados. Temos aqui: A patricinha hacker, Sammy (Kathryn Newton), o brutamontes, Peter (Kevin Durand), o motorista provavelmente sociopata, Dean (Angus Cloud), um ex-policial, Frank (Dan Stevens) e a responsável por observar a Abigail, Joey (Melissa Barrera).

 O sequestro é um sucesso e logo a equipe leva a garotinha para uma mansão e aí as coisas começam a dar muito errado. Um dos pontos que achei que prejudicou o longa foi a decisão de revelar todo o mistério do que de fato a Abigail é através do material de divulgação, e o próprio trailer mostra a maior parte do desenrolar da trama, mesmo que ele ainda guarde algumas surpresas. Nisso, durante uns 40 minutos o filme trata isso narrativamente como um grande mistério. O que pode torná-lo entediante e arrastado. 

 No entanto, durante esses minutos, ao meu ver, o filme nos apresenta um pouco mais os personagens, através de interações entre si para termos uma certa empatia antes deles serem caçados pela vampira. Há inclusive uma cena bem legal onde a personagem Joey entra num joguinho de adivinha. O longa começa a engatar mesmo só depois desses momentos, onde Abigail, que antes se mostrava sempre contida e indefesa, agora se mostra de verdade o que ela é, com seus dentes pontiagudos e olhar imponente. 

 Particularmente eu não conhecia nada sobre os trabalhos anteriores da atriz Alisha Weir, aqui em Abigail, ela está muito bem. Gostei bastante da interpretação dela, Alisha consegue fluir bem entre a inocência da personagem nos primeiros minutos para a forma brutal que a vampira vai se mostrando. Há uma segurança na malícia da voz de Abigail e nas suas respostas com deboche ácido.  

 Para os amantes de terror trash, Abigail é um deleite, a dupla de diretores aqui se diverte nos ataques brutais e violentos da vampira em cenas tensas, divertidas e bem dirigidas, onde vemos muito sangue jorrando na tela, desmembramentos, mordidas viscerais e por ai vai. Aqui há uma subversão de história de vampiros, de como ele pode ser morto ou não, e isso é um acerto bem interessante. O filme abraça aquilo que propõe, a galhofa, e isso o torna divertido. A ambientação do filme é um ponto positivo a se mencionar, pois o casarão onde os personagens estão presos é cheio de estruturas, objetos, estátuas, desenhos talhados na parede que dão um ar gótico ao lugar. Além de citações de livros, como obras de Agatha Christie.

No elenco temos Melissa Barrera como protagonista interpretando Joey. Ela está bem, entrega o que o personagem pede, consegue algumas nuances a mais no papel por ter mais tempo de tela. Kathryn Newton, conhecida pelos trabalhos em Freaky: No Corpo de um Assassino (Freaky, 2020) e o recente Lisa Frankenstein (2024), aqui interpreta Sammy, entrega carisma e bom humor e está em um dos melhores momentos do longa. E por fim Angus Cloud de Euphoria (2019 -), aqui sendo seu último trabalho antes de falecer em 2023. Inclusive nos créditos do filme há uma homenagem em memória de seu nome.  

Abigail é uma mistura de vários gêneros: terror com comédia satírica, slasher, ação, suspense, trash, o que o torna bem divertido de fato. Porém, é um grande misto onde ele não se sabe que caminho deve seguir. Isso fica mais evidente no terceiro ato, onde o filme desanda e o que antes queria subverter o gênero vampiresco acaba se deixando ir para o velho clichê. A um exagero “novelesco” que pode muito bem ser divertido para alguns, mas que pra outros, como no meu caso, é apenas exageradamente ok.  

No fim Abgail é um longa para quem procura se divertir despretensiosamente, apesar de suas falhas o filme entrega o que propõe de forma competente em seu desenvolvimento, um elenco dedicado e uma boa mistura de terror Camp.


Berg Oceania. Resenhista estreante, amante e apreciador de filmes, séries, games, música e teatro. Um eterno aprendiz e apreciador das experiências que a humanidade proporciona e escritor amador de historias habitadas em sua mente agitada. Fã de filmes de terror, tem como franquia favorita os filmes “Scream”.


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