Susana Garcia é a diretora da maior bilheteria de um filme nacional, Minha Mãe É Uma Peça 3 (2019), mas assina também o roteiro e direção de duas obras protagonizadas por Paulo Gustavo e Mônica Martelli, a série Os Homens São de Marte… e É pra Lá que Eu Vou (2014 – 2019) e o longa Minha Vida em Marte (2018). Marcados pela comédia, seus filmes se mostraram ser agradáveis para o público de nosso país a colocando na posição de diretora brasileira com trabalhos mais vistos pelo público na história do cinema nacional. O mais recente projeto da cineasta é um filme com uma semelhante temática familiar ao da franquia Minha Mãe É Uma Peça, estrelado por grandes nomes da história da comédia audiovisual brasileira – Ingrid Guimarães e Tatá Werneck. Partindo de uma ideia das duas atrizes protagonistas, onde Ingrid também assina o roteiro junto de Susana Garcia, Célio Porto, Veronica Debom, Leandro Muniz e Fil Braz, o filme conta sobre uma aventura das duas irmãs: Mirian (Ingrid) e Mirelly (Tatá).
Existe um belo contraste não apenas no filme, mas dentre as muitas e recentes personagens de Ingrid Guimarães e a personagem de Mirian. Honestamente se eu pensar em uma atriz para interpretar uma dona de casa, conservadora, cuja a maior responsabilidade e sonho é cuidar de uma casa e uma família não pensaria em Ingrid Guimarães. Isso é um dos acertos do filme, pois consegue trazer para essa comédia uma certa nuance da personagem dela que possivelmente não seria alcançada com outras atrizes. Ter acompanhado outros trabalhos da atriz trouxe uma certa surpresa para sua personagem caricata lidando com o mundo real, tecendo comentários sobre feminismo e eventualmente encontrando o seu verdadeiro caminho. O filme estabelece bem em seu primeiro ato pequenos momentos onde Mirian mostra seu descontentamento com a sua vida ou é silenciada por seu marido (interpretado por Márcio Vito). Outra parte extremamente importante para estabelecer a comédia no filme é a tentativa de sotaque da atriz em sua personagem.
Se de um lado temos uma personagem cujo enredo se trata de se conformar às expectativas de uma sociedade do seu papel, tentando estar sempre correta e direita, temos o caos do outro lado. A verdade é que Tatá Werneck não é uma atriz de muito alcance em seus papéis, mesmo recentemente ganhando o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante nos Melhores do Ano de 2023. Para a surpresa de ninguém, sua personagem é extremamente desbocada, sem vergonha, vida louca e sinceramente responsável pelas situações mais cômicas. Embora minha opinião pareça uma crítica, apenas afirmo sobre como Tatá consegue entregar momentos hilários em todas as suas tentativas até agora. Falando do Brasil, ela é um dos grandes nomes da comédia dos últimos anos e todas suas conquistas e papéis são a prova disso. A química entre Tatá e Ingrid funciona como engrenagens ao longo do filme, se encaixando para a obra funcionar. Não apenas funcionar como uma comédia, mas trazer leves momentos de drama, mas nada extremamente pesado.
O elo responsável por unir essas duas mulheres é a sua mãe, Dona Marcia, interpretada por Arlete Salles. Muito prazeroso ver um filme de comédia trazendo uma das grandes referências de comédia brasileira que tive enquanto crescia. Infelizmente é o desaparecimento da personagem de Arlete o responsável pelas duas irmãs se unirem, então a personagem e a atriz não recebem o tempo merecido de tela. Como o próprio título do filme já fala, é uma história sobre essas duas irmãs e o tempo de tela das protagonistas é muito bem aproveitado para construir essas personagens e essa relação. Um trabalho até admirável do roteiro como, mesmo ausente ao longo da obra, a personagem de Arlete funciona muito bem e recebe um desenvolvimento merecido. Como dito anteriormente, ela é a responsável por essas duas personagens existirem e a mesma fala sobre como a sua criação é responsável pelas moças estarem onde estão.
Mesmo a obra tendo garantido boas risadas na sala de cinema, não consigo deixar de lado o quanto o som me incomodava por uma falta de sincronização das falas com as bocas dos personagens por grande parte do tempo. Se fosse só isso, mas muitas vezes não havia uma ambiência adequada para o som sendo emitido na cena e as falas pareciam frequentemente ditas em salas vazias. A própria montagem do longa frequentemente parecia não conseguir acompanhar de forma adequada o ritmo das cenas e do filme, deixando muito a desejar. Pelo lado bom, o filme conta com muitas aparições especiais de estrelas brasileiras como IZA, Lázaro Ramos e até a dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó.
O filme Minha Irmã e Eu (2023) foi lançado nos cinemas brasileiros no dia 28 de Dezembro, garantindo boas risadas nessas férias.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.