Meninas Malvadas (2004) – Cuidado com a Regina George em pele de cordeiro

Clássico teen do começo da década de 2000, Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004) é, sem dúvidas, um marco da cultura pop mundial. Escrito por Tina Fey e dirigido por Mark Waters, o filme foi lançado em 2004, está prestes a completar 20 anos e a ganhar uma nova versão nos cinemas – agora musical.

Cady (Lindsay Lohan) é uma adolescente que morava e foi criada na África por seus pais, e que retornou recentemente aos EUA. Tendo sido educada em casa durante toda a vida, seu primeiro contato com a escola foi justamente no famoso e temido “high school”. Chegando na escola, Cady se depara com as diversas “tribos”, todas devidamente apresentadas com os clássicos estereótipos: os nerds do clube de matemática, os atletas, os “esquisitos”, as patricinhas. De início, Cady é bem recepcionada pelos esquisitos, Janis (Lizzy Caplan) e Damian (Daniel Franzese), mas logo chama a atenção das Plastics, as patricinhas: Gretchen (Lacey Chabert), Karen (Amanda Seyfried) e a líder delas, Regina George (Rachel McAdams). Ela logo é “adotada” pelas patricinhas e apresentada a todo seu universo de regras e futilidades. Cady também conhece e se interessa por Aaron Samuels (Jonathan Bennett), o galã da escola que é ex namorado de Regina. Ao saber disso, Regina manipula o jogo e reconquista Aaron, despertando o ódio de Cady, que para se vingar, passa a tentar sabotar o reinado de Regina. Apesar de Cady odiar Regina, ela passa a gostar de ter esse poder, e a partir disso se desenrola um jogo de gato e rato entre as duas e os demais personagens.

Tina Fey (que também está presente como atriz no filme, interpretando a professora Srta. Norbury), ótima comediante com uma carreira extensa, constrói a trama e os personagens a partir dos clássicos estereótipos do colegial norte americano. Estão presentes no filme inevitáveis referências a Atração Mortal (Heathers, 1988), As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless, 1995), dentre outros da mesma temática que foram clássicos nos anos 80 e 90. O tom de estereótipo e sátira é o diferencial, trazendo através do humor e das situações nonsense a crítica a esse estilo de vida “adolescente”. Uma pena que, mesmo hoje, muitos espectadores (principalmente uma parte dos gays) não entendem essa crítica, não percebendo que a mensagem é justamente não ser e agir como Regina George, fazendo justamente o contrário. Regina é fútil, falsa, manipuladora, invejosa, e usa disso e de seu status social para se sobrepor e controlar os outros. Os personagens aos poucos acordam para essa realidade, mas algumas pessoas na internet, ao longo dos anos, em vez de criticá-la, acabam por idolatrá-la. Um comportamento infelizmente clássico em relação a esse tipo de personagem.

Um ponto interessante no filme é que, mesmo que o protagonismo seja de Lindsay Lohan e Rachel McAdams, o tempo de tela dos personagens coadjuvantes é bem balanceado; mesmo os personagens terciários tem brevemente seu momento de brilhar. Destaque para a participação divertidíssima de Amy Poehler como a mãe de Regina George. Muitos dos atores do elenco tiveram seu pontapé em Hollywood com Meninas Malvadas. É o caso de Rachel McAdams, Amanda Seyfried e Lizzy Caplan. Indo em sentido inverso, Lindsay Lohan, que já vinha de uma carreira como atriz mirim de grande fama, teve em Meninas Malvadas um de seus últimos sucessos. Alguns anos após o filme, e após um período turbulento na vida pessoal, ela acabou tendo mais presença nos tablóides e portais de fofoca do que no mundo da atuação, fazendo apenas filmes de pouca divulgação ou com críticas negativas. Há alguns anos ela tenta fazer um comeback, tendo estrelado a comédia romântica natalina da Netflix Uma Quedinha de Natal (Falling for Christmas), em 2022, e recentemente, junto a outras atrizes do filme, revisitou Cady e o universo de Meninas Malvadas em uma série de comerciais da rede Walmart. 

No mais, Meninas Malvadas é um filme cuja mensagem de feminismo e sororidade permanece atual. É claro que, por se tratar de uma produção que já tem 20 anos (!!!), algumas coisas ficam datadas e não seriam mais aceitas para os padrões de hoje. A própria estereotipação de alguns personagens (Damian, por exemplo, não passa muito de ser “o amigo gay”) não soa bem. Certo, essa estereotipação faz parte da proposta satírica do filme, mas não envelheceu bem. Outro ponto: Cady foi criada na África, mas algumas situações em que ela fica deslocada devido ao choque cultural são bem forçadas, afinal, mesmo não sendo como hoje, em 2004 a internet já existia e a globalização também, então o roteiro peca um pouco nesse quesito. A falta de diversidade do elenco principal, majoritariamente branco, também é outro ponto negativo. Aparentemente, esses pontos serão corrigidos e atualizados na nova versão que estreia em breve.

É fato inegável que Meninas Malvadas se tornou parte da cultura pop mundial. Tendo ou não visto o filme, é bastante provável que você já tenha se deparado (e até mesmo usado) com os bordões que viraram memes nas redes sociais e são adaptados  para as mais variadas situações (“Entra no carro otária, vamos fazer compras”; “Eu estava obcecada. Passava 80% do meu tempo falando sobre Regina George e nos 20% restantes eu torcia para que alguém falasse dela, só para poder falar mais um pouco”; “No dia 3 de outubro, ele me perguntou que dia era”). Usar rosa nas quartas feiras se tornou um fenômeno assimilado pela população (pode reparar em lugares públicos). É um filme que está entranhado na memória cultural da geração dos anos 2000. 

Uma continuação foi lançada em 2011, sem o envolvimento de nenhum membro da equipe e do elenco principal do primeiro, e justamente por isso passou batida, sem quase nenhuma repercussão. Em 2017, Tina Fey adaptou o filme para um musical para a Broadway e foi um grande sucesso. Essa versão musical ganhou uma adaptação para filme, com um novo elenco e a trama atualizada e repaginada para os dias atuais, e estreia dia 11 de janeiro nos cinemas brasileiros, colocando as Meninas Malvadas novamente em evidência dando uma nova oportunidade para essa obra ser apresentada para as novas gerações.


Pablo Silvino

Graduado em Cinema e Audiovisual pela UFC e atualmente cursando Jornalismo na UFCA.


VEJA TAMBÉM

The Archies – Juventude, rebeldia e músicas na luta por justiça

Tá Escrito – E bota culpa no signo, ai ai esse signo