Percy Jackson e os Olimpianos – 1×01: Sem querer, transformo em pó a minha professora de iniciação à álgebra

Era maio de 2020 quando surtamos com o anúncio dessa série. Tivemos outros surtos no meio do caminho com cada nova notícia, cada pessoa do elenco anunciada, cada teaser, cada trailer e aqui estamos nós, dezembro de 2023 surtando com os primeiros episódios de Percy Jackson e os Olimpianos (Percy Jackson and the Olympians, 2023 -). Foram três anos de espera e aqui estamos nós, então vamos lá!

Avisos importantes!

Eu estou escrevendo estes textos conforme os episódios são lançados. Então se eu apontar ou perguntar algo aqui que é abordado ou respondido em um episódio mais à frente, lembre que no momento da escrita deste texto eu não tinha como saber que isso aconteceria.

Durante o texto vou discutir o que pode/vai vir nos próximos episódios da série, então ele pode conter alguns spoilers do primeiro livro da série literária e da própria série.

A primeira surpresa deste episódio na verdade veio na noite anterior ao lançamento, que deveria ser na quarta-feira dia 20 de dezembro às 5h como geralmente são as estreias do Disney+. Foi especulado que os dois primeiros episódios poderiam sair mais cedo, mas nada foi confirmado, até às 23h do dia 19 quando eles foram lançados de surpresa. 

O primeiro episódio leva o título do primeiro capítulo de O Ladrão de Raios e adapta os capítulos de 1 a 4. Foi dirigido por James Bobin, que dirigiu Os Muppets (The Muppets, 2011), Muppets 2: Procurados e Amados (Muppets Most Wanted, 2014), Alice Através do Espelho (Alice Through the Looking Glass, 2016) , Dora e a Cidade Perdida (Dora and the Lost City of Gold, 2019) e dois episódios de A Misteriosa Sociedade Benedict (The Mysterious Benedict Society, 2021 – 2022). Um currículo que eu não sei muito bem o que pensar, mas Rick Riordan, escritor da série literária, anunciou animado que James dirigiria o episódio, que ele conhece bem os livros, que ele e seus filhos são fãs, então decidi confiar no tio Rick, já que ele é a pessoa que mais quer que essa série dê certo.

Assisti ao episódio duas vezes, uma vez dublado e outra legendado. A dublagem está boa, mas senti que faltou um pouco de direcionamento em momentos de atuações que saíam da entonação padrão e pediam uma diferente.

A minutagem dos episódios também me preocupou, mas depois de reler o livro e conferir os capítulos, parecia possível que 8 episódios de até 45 minutos, conseguissem adaptá-lo inteiro. Porém, depois de assistir ao piloto fiquei com medo da pressa, mas falo mais disso daqui a pouco. Nem tudo dos capítulos 1 a 4 está presente aqui, mas sabemos pelos trailers que vão estar na série, então foram apenas colocados em outro lugar ou modificados, o que é comum em uma adaptação.

O episódio começa com a clássica introdução “olha, eu não queria ser um meio-sangue.” – que já provoca em quem é fã aquele grito interno – e um flashfoward de uma cena misteriosa, para logo depois introduzir nosso protagonista, Perseu Jackson (Walker Scobell), seu passado, sua infância e momentos em que ele viu através da Névoa. Ele se apresenta como um garoto problemático, mas seria por ver coisas? Não é mencionado seu TDAH, sua dislexia ou ele ser um briguento de primeira, no máximo quando Nancy Bobofit (Olivea Morton) esbarra de propósito em Grover e ele faz menção de se levantar. Ver coisas estranhas não me parece grave, na verdade é algo bem fraco para torná-lo um problema, se for o caso, talvez a série nos diga depois que todos esses diretores eram monstros disfarçados e pegavam no seu pé por isso. Acabei sentido falta de entendermos mais porque ele tira notas baixas, tem dificuldades e é briguento.

Começamos com a Academia Yancy e o Museu Metropolitano de Arte – o The Metropolitan Museum of Art, ou apenas The Met. Com a fotografia mudando de cores frias para quentes quando somos apresentades à Grover (Aryan Simhadri) e já sabemos que ele é tudo e merece o mundo. Sr. Brunner (Glynn Turman) introduz porque os mitos são importantes para nossa vida e entrega a caneta para Percy, mas ele não diz nada e seria o momento perfeito para uma sacada sarcástica sua. As letras no dever de Percy se mexem, com o mesmo efeito do filme (que sabemos que Rick gostou), mas sem sabermos ainda o porque.

Em um flashback com sua mãe, Sally Jackson (Virginia Kull), descobrimos que seu nome vem da mitologia grega, do herói Perseu, filho de Zeus, que teve uma vida difícil, mas um final feliz. O que achei interessante é que Sally faz um questionamento que fez eu me perguntar se a Medusa será retratada de forma diferente na série, já que nos últimos anos, vem surgindo uma interpretação para seu mito de que ao invés de ter sido namorada de Poseidon, teria sido estuprada por ele. Não acho que vão pegar tão pesado, mas fiquei com a pulga atrás da orelha.

As pernas de Grover aparecem, mostrando que aqui ele não vai escondê-las como estávamos acostumados, no livro não fica muito claro porque Grover precisa se disfarçar e não é escondido pela Névoa e parece que resolveram isso, então sem muletas ou boné para o sátiro agora, que inclusive se mostra maduro e sensato, uma voz da razão.

Na cena de Nancy caindo na fonte já temos o ataque da Fúria Alecto (Megan Mullally) disfarçada de Sra. Dodds, uma sequência que como de ação eu não gostei muito, mas como sonho ou delírio, funcionou bem. Logo vamos para a sala do diretor onde de novo, acho que não deram muitos motivos para Percy ser considerado um problema, apenas jogar uma colega na fonte daria suspensão ou punição, mas expulsão me pareceu demais. 

Em casa, conhecemos o padrasto Gabe Ugliano (Timm Sharp), que nessa adaptação parece um estereótipo de eleitor do Donald Trump, um novo jeito de chamá-lo de desprezível que é de um primor sutil, mas ainda acho que faltam atitudes odiosas, como pedir cerveja para Sally, ele está mais para folgado do que tóxico. Na cena também senti falta da insolência de Percy, esperava muito que ele chamasse Gabe de cheiroso.

Conhecemos Sally de vez, ela entrega as jujubas azuis para Percy, boas para plantar a ideia da cor azul que ele pode explicar para Grover ou Annabeth mais adiante e fala que a tempestade só vai piorar. Preciso dizer que gostei muito de como Sally foi adaptada aqui, menos paciente com Gabe, o enfrentando e não se curvando. Nos livros ela é extremamente boazinha, retrato da abnegação e do sofrimento, o que me desagrada. Eu sei que Rick a escreveu inspirada em sua esposa Becky, que é uma pessoa muito legal, mas com certeza essa nova Sally deve fazer mais jus a ela.

Em Montauk/a caminho de lá começamos a engatar de verdade. Percy tem sua primeira visão da figura misteriosa, no livro ainda teria outra de um cavalo e uma águia lutando na praia, que acredito que vai ficar de fora, já que deveria ser uma metáfora para disputa de Zeus e Poseidon. Ele fala um pouco mais sobre se distrair, mas ainda sem mencionar o TDAH, ao que sua mãe tenta explicar toda a questão de deuses e semideuses, mas o garoto se recusa a acreditar, até que Grover aparece com suas pernas de bode e um gorro cobrindo orelhas pontudas e chifres. Aqui eu fiquei INDIGNADA, pois tiraram Percy perguntando se Grover é metade burro, esse é um dos meus diálogos favoritos.

Agora em fuga para o Acampamento Meio-Sangue enquanto são perseguides pelo Minotauro, temos mais algumas informações. Gosto de como Grover é retratado como responsável, mas com medo, menos bobo que no livro, mas não tão audacioso como no filme, entretanto fiquei esperando ele comentar como semideuses dificilmente passam dos 13 anos e que ele não pode falhar de novo, já que ele começa a tagarelar e diz que tem 24 anos – ele está mais novo, originalmente era 28, mas concordo, mais novo deixa a situação um pouco menos estranha – o que me deixou encucado sobre como ele vai ser trabalhado. Falam sobre a Névoa e sobre como ela não deveria ocultar nada do protetor, então algo poderoso deve estar interferindo. Vai vendo. E eu preciso confessar, senti muita falta de Brandon T. Jackson dizendo que está chovendo vacas, podem me julgar.

É mencionado que as cartas de mitomagia eram um treinamento, poderia ter sido engatada uma frase de que isso foi feito para ajudar com o TDAH e a dislexia, para ele focar em algo que gostasse e aprender ao mesmo tempo. Ainda durante a perseguição, gosto de como fica subtendido que Sally pode ter ajudado a quebrar o chifre do Minotauro e que ela o enfrente antes de se desfazer, que ela lute mais ativamente ao invés de ser uma donzela em perigo. Os efeitos do Minotauro ficaram muito bons, dos movimentos até seus músculos balançando quando ele sofre algum impacto, mas ser à noite e na chuva com certeza ajudou. E nem preciso dizer como me arrepiei ao ver o pinheiro no topo da Colina Meio-Sangue.

A caneta não ficou ruim, souberam criar uma tensão para quando foi usada, mas ainda acho um pecado ela não ser de clique, era a melhor ideia do filme, mas entendo que tio Rick seja chateado com eles e queira ser mais protecionista com sua obra. A luta é boa, gosto que mostra como Percy tem talento, mas faltam habilidades, conhecimento.

E o episódio finaliza com mais um sonho ou visão misteriosa, uma menção a um “escolhido” e um encerramento lindo, como os que o Disney+ tem feito para suas séries, cheio de referências do que vem por aí na temporada.

No geral, gostei do episódio, meu coração de fã ficou muito aquecido. Percy loirinho tem uma vibe surfista muito legal, fiquei feliz demais de terem mantido um a ideia de um Grover não-branco e amei a nova personalidade de Sally. O episódio constrói bem a relação de mãe e filho

Me agradaram muito os pequenos detalhes como Percy pegando a fatia de presunto do sanduíche de Grover e dando sua fatia de queijo, porque Grover não come carne E ELES SÃO FOFOS! Fora os elementos azuis discretos, os dados de RPG de Percy e os detalhes no banco em que ele senta.

Porém, achei Percy muito fofo e tímido . Senti falta do rebelde que fala sem pensar, porque o mar não pode ser contido. O que foi um pouco frustrante porque em O Projeto Adam (The Adam Project, 2022) ele é basicamente um mini Percy! Contudo, gosto de pensar que ele se contém por se considerar um problema e vai se soltar com o tempo. Talvez mais narrações com as frases sarcásticas ajudassem nesse sentido.

As várias plantations, informações plantadas que serão retomadas depois, pistas do que vamos ver, são muito bem colocadas, como a chuva torrencial na televisão de Gabe, o caderno desenhado, o jogo de cartas, – um conceito ótimo, gostaria que se mantivesse e fosse mais explorado – as estátuas, algumas falas de Sally e claro, o encerramento.

Os efeitos ficaram ok, bons quando precisam e souberam driblar algumas dificuldades e apesar de bem dirigido, com alguns conflitos sendo criados para não deixar a trama sempre no mesmo tom, senti o tom muito sério no episódio, faltou humor, faltou irreverência, fiquei com medo de ser sério assim até o fim da temporada. O episódio tem só 39 minutos e sabemos que poderia ter mais, mas ele corre e deixa de ter frases simples que poderiam enriquecer o que está sendo criado e pressa foi uma das coisas que prejudicou os filmes.

Sinto que faltaram maiores referências misteriosas ao raio-mestre, para criar urgência e introduzir melhor o tema e Sally fazendo Grover prometer que vai proteger seu filho, me fez acreditar que vão cortar o passado do sátiro com Thalia para motivação.

Temos imagens do próximo episódio, mais especificamente: Annabeth, o Conselho dos Anciãos do Casco Fendido e a caça à bandeira.

Vale lembrar que em preparação para a série, também tivemos textos sobre o primeiro livro de Percy Jackson e os Olimpianos, e sua adaptação para o cinema.

Nos vemos no episódio 2!


VEJA TAMBÉM

RESENHA | Percy Jackson e os Olimpianos – Livro Um: O Ladrão de Raios, de Rick Riordan

Percy Jackson e o Ladrão de Raios – Deveria ser sobre coexistir, não sobre colidir