Shazam! Fúrias dos Deuses – Cadê o estatuto da criança para heróis?

A DC Comics tem errado em muitas coisas. Seja contratando sexistas misóginos para dirigir filmes condenados, seja para correr atrás do sucesso de uma querida concorrente que mesmo errando, não erra tanto. Depois de muitos fracassos e cancelamentos de coisas que REALMENTE poderiam dar em algo, a DC Comics vai se reinventar, agora guiado por James Gunn e trazendo esperança para os amantes das HQs e animações.

A proposta de ser sombrio e gótico nós deixamos para os adoradores de The Batman (2022), aqui falaremos sobre Shazam!, um herói que sempre me foi amável durante os episódios de Liga da Justiça nos domingos de manhã e que ganhou as telas em live action em 2019. No primeiro filme, mesmo que pouco, nós temos Asher Angel interpretando o jovem Billy pulando de abrigo em abrigo numa busca de encontrar sua mãe biológica e a esperança de viver com ela. Depois de receber seus poderes e abandonado, ele se une ao irmão adotivo Freddy (Jack Dylan Grazer) e tenta descobrir o que é ser herói. 

Já nessa sequência, Billy enfrenta alguns problemas além de espinhas e provas, como o fato de ser líder da Família Shazam – também conhecida como os “Fiascos de Filadélfia”, por sempre sair nas manchetes como os responsáveis pela destruição da cidade -, e ter como missão mantê-los unidos enquanto crescem e descobrem coisas novas de si, o garoto precisa lidar com o peso de ser o campeão e não saber muito o que isso significa.

A dinâmica dos irmãos em Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2023) avança muito bem nessa sequência, não apenas como amor fraterno da convivência, como também como salvar a população de grandes desastres e até mesmo explorar a “Toca”, mesmo sentindo falta de mais tempo de tela de alguns personagens específicos, como Super herói Eugene (Ross Butler), Super Heroína Mary (Grace Caroline Currey) e até o Super Herói Pedro (D.J. Cotrona), que parece estar o tempo todo coexistindo ao redor de sua sexualidade, o sexteto ainda possui carisma, química e entrosamento difícil para um grupo grande assim.

Freddy e Darla são os que novamente dão nome. Freddy com a sua necessidade de ser independente e sempre sair por cima no caos que deixam para trás, nessa sequência se encontra apaixonado e corajoso, além da sagacidade de sempre, o rapaz possui a coragem de enfrentar tudo e qualquer coisa por quem ama e isso o torna um dos melhores heróis do grupo. Além disso, temos a Darla com sua ingenuidade refletida muito bem pela Meagan Good, que tem aquele brilho nos olhos que a personagem pede, conseguindo levar com graça pela novinha Faithe Herman o terceiro ato sozinha e sem esforços.

Agora deixando de lado um pouco a família Shazam, encontramos outra família, afinal, tudo sempre é sobre família, as filhas de Atlas. O mistério que rodeava a origem dos poderes do herói não fora explicado no primeiro filme e não se aprofunda no segundo, só deixando claro que Atlas fora vencido e seu planeta deixado em trevas e por conta disso, suas filhas vão a terra em busca de recuperar os poderes dado aos campeões e vingança por seu pai.

Mesmo com a faca e o queijo na mão, Lucy Liu entrega uma interpretação morna de um personagem genérico, Calipso não convence nem em sua loucura/sadismo, nem em um ideal pelo qual diz lutar, me fazendo ficar horas olhando cenas e mais cenas de um CGI muitas vezes capenga e que não se convence em nada. Helen Mirren está apenas batendo ponto e preferindo se dedicar às cenas cômicas, principalmente trocadas com o protagonista, do que em ser temida. Ela não parece nem mesmo estar se divertindo demais, sendo em alguns momentos apática as situações que necessitavam de seu personagem uma postura mais rígida e temerosa. No entanto, Anthea é a que acaba por ser mais interessante, não por ser um personagem profundo e bem desenvolvido, até porque as cenas cortadas e atitudes não explicadas e incoerentes não a ajudam muito, mas ela traz uma sensação dúbia durante todo o filme que a deixa com mais camadas que suas irmãs.

Ao mais tardar chegamos ao entendimento que Shazam! Fúrias dos Deuses não será tão bom quanto Shazam! (2019) e que suas vilãs serão esquecidas assim que sairmos da sala de cinema, mesmo que seja uma grande fonte abordar mitologia grega. Mesmo assim, a investida nas cenas de ação e os momentos da família Shazam podem levar esse filme a outras sequências e eu realmente gostaria de ver mais deles como um coletivo, se aprofundando em crianças sendo heroínas e suas relações.

Para quem tinha dúvidas, até o momento Shazam continua conectado ao mundo da DC Comics Filmes e parece um dos poucos que tem potencial de se manter nessa nova era.

Obs: E a esperança de ver um certo herói nas telas de cinema também acaba por me animar.


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