Avatar: O Caminho da Água – Tecnicamente brilhante, mas aguado em termos de história

Quando o primeiro Avatar estreou no final de 2009, foi um marco no cinema moderno, com um visual acachapante e introduzindo o novo 3D para o público, e acabou por impactar todos os filmes que vieram depois. O longa faturou mais de 2 bilhões, se tornando a maior bilheteria da história até então e ainda conseguindo levar três Oscars nas categorias técnicas, consolidando ainda mais James Cameron com seu toque de midas que já tinha arrebatado o mundo após lançar o mega sucesso Titanic (1997).

Após treze longos anos e com Cameron imerso no seu quartel general desde 2017 localizado parte na Califórnia, nos EUA, e parte em Wellington, na Nova Zelândia, filmando sequências de seu maior sucesso, eis que no final de 2022 o esperado Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way of Water, 2022) estreou nos cinemas do mundo inteiro num período pós pandemia e pronto para abraçar novamente os blockbusters nesta retomada, que serviram como alívio para donos de rede de cinemas espalhadas pelo planeta.

O segundo capítulo faz parte de um ambicioso plano que ainda terá mais três filmes, alguns já filmados, outros em pré-produção avançada, mostrando que James Cameron não poupou despesas para entregar ao público a melhor experiência possível. Muito se especulou sobre do que se trataria esta sequência e qual tecnologia o diretor iria usar para mais uma vez mudar a história do cinema.

É perceptível que a inovação não veio da forma que gostaríamos, ficou mais nos bastidores, com aperfeiçoamento da tecnologia de captura de performance, agora podendo ser utilizada em ambientes aquáticos, mas a qualidade técnica continua sendo a maior marca da franquia Avatar. Em O Caminho da Água, voltamos a acompanhar Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana) que vivem nas florestas de Pandora, agora com uma família para chamar de sua, e se veem novamente ameaçados por forças humanas em busca de vingança após a última batalha ocorrida na lua.

Existe duas máximas aqui que devem ser ponderadas e que o expectador deve estar preparado, a primeira é que estamos diante de um dos filmes mais bem filmados dos últimos anos com uma parte técnica fantástica. A segunda é que o roteiro escrito as três mãos pelo próprio Cameron, além de Rick Jaffa (Planeta dos Macacos: O Confronto) e Amanda Silver (Mulan), é um emaranhado de ideias recicladas que acabam por dar a péssima sensação de que estamos vendo não só mais do mesmo, mas algo em certos momentos repetido.

Ainda assim, não há dúvidas que Avatar: O Caminho da Água é um espetáculo visual que sabe contar sua história usando uma fotografia limpa, efeitos visuais impecáveis e uma ambientação fantástica ampliada por um 3D que aqui realmente funciona, principalmente quando a história coloca Jake e sua família para fugir das florestas e se refugiarem com a tribo da água onde somos introduzidos a uma nova espécie de Na’Vi, em um bioma que explora mares e oceanos, bem como a fauna e a flora do lugar.

Neste quesito James Cameron sabe como atiçar nossos sentidos, afinal este longa é uma obra que precisa ser sentida, vivida e experimentada no cinema, onde somos agraciados com o melhor que um blockbuster pode oferecer. Seguindo esta linha a construção de universo é muito bem feita, colocando como cerne a temática da família em primeiro plano, onde a narrativa explora bastante os quatro filhos dos protagonistas, Neteyam (Jamie Flatters), Lo’ak (Britain Dalton) e a pequena Tuk (Trinity Jo-Li Bliss), além da filha adotiva Kiri (Sigourney Weaver) que é cria do avatar inerte da Dra Grace Augustine (Sigourney Weaver) que faleceu no final do primeiro filme, fechando o clã com humano Spider (Jack Champion), filho do vilão do Quaritch e também adotado pelo clã.

Talvez a maior crítica que se pode fazer a este filme é a forma como recicla tramas e não consegue fazer o plot principal evoluir do começo para o final, enquanto a família de Jake tem uma jornada de crescimento e amadurecimento no recife onde habita a tribo dos Metkayina, Cameron acaba por criar um vilão que é uma cópia avatar do anterior, montando um esquadrão de elite de avatares que precisam caçar e destruir Jake e seu clã que vem destruindo todo a tentativa de expansão dos humanos que retomaram a colonização de Pandora depois da derrota no último filme.

O roteiro é simples em trazer uma narrativa que consegue emocionar, o elenco mirim é muito bom ao proporcionar estes momentos, diga-se de passagem, mas falha em aprofundar pontos que parecem se repetir bastante do longa original, inclusive as resoluções na luta entre humanos versus Na’vi. Mesmo assim, a direção consistente de James Cameron não deixa o filme sair dos eixos, é o diretor que tem total controle do seu espetáculo e não deixa os pontos baixos sobressaírem num filme que te conquista pelos personagens e faz com que você se importe com o universo principalmente quando põe em movimento a trama dos Tulkuns, espécie de mamíferos semelhantes a baleias que são sagrados para os Metkayinas e cobiçados pelos humanos.

A mensagem sustentável e ambiental é embutida na narrativa e isso é traduzido através das belas imagens que parecem quadros em movimento, mostrando as criaturas em sua maioria aquáticas interagindo com personagens e cenários que parecem criar vida a cada nova cena tamanha cuidado técnico da produção envolvida no Blockbuster, que realmente é grandioso como precisa ser, além de misturar bem drama, aventura e ação de uma forma bastante equilibrada que resulta num terceiro ato excelente e cheio de emoção.

De uma forma geral, Avatar: O Caminho da Água é um grande filme no quesito blockbuster e entrega tudo aquilo que se espera de uma aventura que é uma verdadeira experiência visual e sensorial que Cameron faz questão de oferecer o melhor para seu telespectador nos lembrando porque amamos tanto ir aos cinemas. É claro que narrativamente a obra tem muitas ressalvas que provavelmente vão ficar maiores à medida que o longa for revisitado, mas em termos gerais, há muito o que se gostar aqui deixando um gostinho de quero mais após a sessão, afinal com diversos ganchos em aberto, o retorno à Pandora está garantido e se continuar neste nível técnico altíssimo, nós com certeza estaremos lá para testemunhar.


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