Depois de uma primeira temporada boa, mas que falhava em desenvolver melhor a história e uma segunda temporada mais consistente abraçando a aventura, eis que a série Locke & Key (2020 – 2022) finalmente fecha seu ciclo com a terceira e última temporada e a perspectiva de concluir sua jornada de uma forma satisfatória que agradasse sua fã base, mas será que a série cumpriu o prometido? Veremos a seguir.
Depois do fim do arco de Dodge (Laysla De Oliveira) que resultou na morte de Abby (Leishe Meyboom) e Eden (Hallea Jones), além do retorno de Ellie (Sherri Saum) do mundo dos demônios e o surgimento de uma nova ameaça com o inescrupuloso Frederick Gideon (Kevin Durand) conseguindo chegar ao presente depois dos eventos que fecham a temporada, eis que com os ganchos e arcos todos armados, a terceira temporada chegou recheada de expectativas e prometendo ser a melhor até então.
Neste caso, ela cumpre essa promessa em parte, após alguns meses de calmaria, a família Locke segue sua rotina, agora com Nina Locke (Darby Stanchfield) sabendo sobre a existência das chaves mágicas após Bode (Jackson Robert Scott) usar a chave da lembrança para ativar sua memória, o mesmo foi realizado com Tyler (Connor Jessup) mas com efeito contrário o fazendo esquecer dos eventos que levaram a morte da namorada Abby, levando a se afastar da família por meses.
O seriado começa com o episódio The Snow Globe (3×01), que traz uma nova chave à tona e a chegada de novas ameaças. Neste caso, Locke & Key consegue nos deixar empolgados mesmo com tom de despedida no ar. E agora a série parece entender que uma aventura precisa de ganchos e precisa criar expectativas, desta forma o gancho deixado no primeiro episódio é o pontapé inicial para um possível confronto entre os Locke e Frederick Gideon.
Depois que a série aprendeu a entregar aquilo que seu público almeja, a trama flui agora mais fácil com um dinamismo e um mistério que nos faz empolgar nos episódios Wedding Crashers (3×02) e Five Minutes Past (3×03), as chaves agora são usadas a todo momento e o roteiro criado por Meredith Averill, Carlton Cuse e Aron Eli Coleite consegue ainda inserir novas dinâmicas e novas tramas que ajudam a dar uma sensação de novidade a uma temporada que inicialmente cresce bastante.
Talvez o maior problema de Locke & Key seja algumas decisões de roteiro que fazem com os personagens ajam da forma mais burra possível, isso sempre foi o calcanhar de Aquiles da série, mas nesta temporada fica evidente as conveniências que surgem para que de certa forma alguns arcos funcionem a favor do que os roteiristas planejaram. Desta forma episódios como Deep Cover (3×04) e Siege (3×05) empolgam pelas reviravoltas, mas irritam seu público por algumas obviedades que poderiam ser resolvidas se os personagens fossem 10% mais espertos que aparentam.
E esse tipo de comportamento faz diminuir a qualidade da série? Isso vai depender do seu nível de comprometimento. O seriado é sim uma aventura escapista com uma mitologia rica que é até bem desenvolvida, mas claramente não foi feita para quem deseja algo mais. Ainda assim, é possível gostar desta última temporada que ao menos entrega uma produção caprichada em termos técnicos, com efeitos visuais que se mostram decentes e caprichados, além de uma trilha sonora que dá uma sensação mágica ao seriado.
Desta forma é possível se importar com os personagens, mesmo que não sejam tão intelectualmente dotados em alguns momentos, isso se deve ao fato de a série conseguir ao longo de três temporadas criar um forte vínculo entre a família Locke e os expectadores, desta forma nós sentimos melancolia e felicidade quando Kinsey Locke canta em diversos momentos deste último ano, num claro aproveitamento dos talentos vocais da atriz Emilia Jones recentemente saída do sucesso do vencedor do Oscar, No Ritmo do Coração (CODA, 2021).
Sem falar que a série ainda tem em Bode sua maior referência, com o ator Jackson Robert Scott evoluindo no crescimento do personagem, mostrando um talento bastante palpável após uma reviravolta atingir a vida do pequeno Locke, num desfecho que trouxe um dos episódios mais bacanas temporada, Free Bird (3×06).
Mesmo em alguns momentos soando um pouco irregular e trazendo um vilão capenga que não empolga, a obra cumpre o papel da aventura de fantasia. Esta adaptação da obra de Joe Hill é a prova de que a Netflix está criando uma galeria boa que já tinha a série adaptação Desventuras em Série (A Series of Unfortunate Events, 2017 – 2019) e a aventura espacial Perdidos No Espaço (Lost in Space, 2018 – 2021) encerradas, coincidentemente com três temporadas cada, numa linha que agracia o expectador com passatempos para toda a família com histórias que são puro entretenimento.
No geral, a terceira temporada de Locke & Key termina de uma forma satisfatória, os dois últimos episódios Curtain (3×07) e o final de série Farewell (3×08) trazem mortes inesperadas, sacrifícios interessantes, o retorno de personagens bacanas como Rufus (Coby Bird) e a conclusão decente para a jornada de Bode, Nina, Kinsey, Tyler e Duncan (este último ganhando um casamento bacanudo com marido, festa e tudo), deixando aquele gostinho nostálgico e mágico de que um dia a história poderia continuar de alguma forma. Quando a última cena surge, a emoção é inevitável, afinal são três temporadas acompanhando o amadurecimento e a união definitiva da família Locke, quando as letras sobem, o que fica para nós, é aquela melancólica saudade.
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Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.