A Fera (Beast, 2022) é um filme do diretor Baltasar Kormákur, mostrando as férias de um pai, Nate (Idris Elba), com suas duas filhas, Mare (Lyana Halley) e Norah (Leah Jeffries), tendo como um dos locais desejados a “África”, numa tentativa de recuperar o laço entre eles e superar o luto pela presença materna que foi perdida algum tempo antes. Lá, eles encontram um amigo da família, Martin (Sharlto Copley), que os leva para conhecer a Savana na qual ajuda a cuidar e proteger as alcateias de leões de caçadores e também onde a mãe falecida viveu e deixou raízes. No entanto, quando uma feroz criatura deixa rastros sangrentos por onde passa e encontra com essa família, eles farão de tudo para sobreviver.
Obviamente, esse roteiro não seria muito original, pois além de correr o risco de ficar engessado, ele também não é inovador já que temos inúmeros filmes assim, como é o exemplo de Caçados (Prey, 2007), e talvez por isso ele busca focar três pontos muito claros: paternidade, luto e vingança.
Isso poderia aprofundar a obra com inúmeras camadas, e fica claro que tentam fazer isso, seja com as discussões e debates sobre alienação parental e cuidados paliativos ou até a rasa crítica ao trabalho ilegal de caça e venda de animais selvagens, mas que acabam sendo mal colocadas e desconectadas das cenas, ficando muito pouco orgânica ou apenas soltas, isso quando não é apenas ignorado pelo resto da trama. Fora isso, eles também optam em transformar o leão, grande vilão, em um ser quase místico, já que nada parece o afetar – provavelmente para preencher às 1 hora e 33 minutos até o grande plot. E de certa forma funciona.
Apesar disso, o filme consegue segurar muito bem as cenas de tensão, causando aflição e inquietação muito bem feitas e sustos efetivos. Assim como as cenas a noite, cenas de devaneios e a escolha da câmera de focar na reação dos personagens nos momentos de ação, o que ajuda a manter o suspense. O filme prende nos momentos certos e talvez os diálogos não cheguem a incomodar o suficiente para perder o clima.
Não podemos esquecer do carisma de Idris Elba, que carrega com facilidade o personagem médico e pai, além das irmãs que criam uma dinâmica entre si que funciona muito bem, com destaque à atuação da Leah Jeffries que rouba a cena nos momentos de descontração. Tendo também a história do leão, que por si só consegue transmitir raiva, fúria e paciência para conseguir o que quer: se vingar.
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Estudante de Letras, ainda fingindo ser escritor, mesmo nunca lançando nada. Um paulista perdido pelo nordeste e obcecado por bolinho de chuva. Apaixonado por Duro de matar e filmes de heróis, evito musicais e romances clichês.