Boneca Russa: 2ª temporada – Explorando o espaço-tempo

-CONTÉM SPOILERS-

A gente sempre pensa que aproveitaria melhor a vida se soubesse que está próximo de morrer. Que faria tudo diferente se tivesse uma nova chance. Será mesmo? Em Boneca Russa (2019 – ), Nádia (Natasha Lyonne), protagonista da série, morre no dia do seu aniversário de 36 anos, mas volta várias vezes ao mesmo ponto, horas antes de sua morte, refazendo esse momento repetidas vezes com o intuito de não morrer no final. Essa é a premissa da 1ª temporada da série. O que Nádia demora a entender é que não se trata apenas de tentar não morrer, mas de mudar sua forma de pensar e agir. É sobre ter uma nova chance para fazer as coisas diferentes. É divertida e prende bastante a atenção do espectador. Essa 1ª temporada chega inclusive a ter um fechamento da narrativa (eu mesma não imaginava que haveria uma nova temporada). Mas, após três anos desde sua estreia, a Netflix lançou a 2ª temporada (2022) da série criada por Natasha Lyonne, Leslye Headland e Amy Poehler.

E o que esperar da 2ª temporada se aparentemente a 1ª deu como encerrada o looping temporal vivido por Nádia e Alan (Charlie Barnett)? As criadoras da série decidiram ir mais fundo no universo da Nádia (e do Alan) e trabalhar não só com o looping temporal nessa narrativa, mas também com a viagem no tempo e múltiplas linhas temporais simultâneas. Nádia e Alan têm a oportunidade de revisitar o passado e viver literalmente na pele da mãe e avós. E, sabendo dos resultados das ações de suas famílias no passado, ambos vão tentar mudar essas ações, interferindo na ordem do espaço-tempo. E, se você já viu qualquer ficção sobre a existência de outras linhas temporais, certamente você sabe que não é indicado fazer qualquer alteração nelas porque isso modificará o curso de outras narrativas no futuro. Mas eu é que não vou julgar os personagens porque também penso em como seria minha vida se certas coisas tivessem acontecido de outra forma no passado. Quem nunca?

Essas viagens no tempo e encontros com o passado tornam a 2ª temporada de Boneca Russa mais densa e mais profunda nos aspectos psicológicos e afetivos dos personagens, em especial da Nádia, com quem estamos a maior parte do tempo. Por isso pode ser um pouco mais difícil de ver do que a 1ª, que tem o humor como característica mais forte. A 1ª temporada parece fluir melhor, é mais rápida e mais objetiva (a intenção é Nádia fugir da morte e estamos com ela o tempo todo). A 2ª temporada revela aos poucos tanto para Nádia, quanto para o público, o que se pode esperar a partir dessa possibilidade de vivenciar o passado estando no corpo de outra pessoa. Então ficamos um pouco perdidos nos primeiros episódios, que parecem mais longos. No entanto, conforme Nádia descobre fatos decisivos do seu passado e resolve agir para efetivamente mudá-los e consequentemente repercutir no seu futuro, passamos a entender e acompanhá-la nessa jornada.

Um ponto interessante dessa 2ª temporada é que a série vai trazer temas como a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, o período pós Segunda Guerra com a Alemanha dividida em duas (oriental e ocidental), os imigrantes húngaros (dos quais Nádia é descendente) e ganeses (dos quais Alan é descendente), explorando alguns fatos históricos que fazem parte da vida dos antepassados de Nádia e Alan. Essa viagem na história vai nos fazer conhecer um pouco mais sobre os dois personagens e pensar sobre nossa própria história de vida e dos nossos antepassados. Mais do que fazer rir, essa temporada é uma experiência imersiva e reflexiva sobre o que constitui nossa história. Então indico vê-la com tempo para digerir cada episódio e estar atento a cada nova informação que surge na narrativa. É sempre imperdível ver a atuação de Natasha Lyonne (quem viu OITNB, não esquece a Nichols) e se tratando dessa série, a qual ela co-criou e co-dirigiu, então, é genial!


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