Ator e também vocalista da banda 30 Seconds to Mars, Jared Leto recentemente fez o papel de Coringa, parte do Snyderverso – atuando em Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016) e também da versão de Snyder da Liga da Justiça (2021). A algum tempo o ator foi anunciado para protagonizar o filme sobre o vilão vampiro do Homem Aranha, Morbius. Nos quadrinhos, o cientista Michael Morbius, nascido na Grécia, visava curar uma complicada doença sanguínea com um tratamento experimental envolvendo morcegos que se alimentavam de sangue.
Bem, o anúncio do filme não foi exatamente bem recebido pelos fãs já que o Sonyverso de filmes do Aranha teve dois filmes bastante criticados por fãs e críticos. Afinal, não fazia tanto sentido os filmes baseados em vilões do Aranha quando existe uma grande quantidade de outros personagens no universo do herói com histórias realmente heróicas a serem contadas. Seria o filme sobre Morbius, um vampiro, melhor recebido e melhor executado do que a franquia do Venom?
É importante ressaltar o quanto há sim uma maior fidelidade às origens do personagem nos quadrinhos, tanto por ele vir sim da Grécia, quanto a razão dele ter se tornado um vampiro vivo. Na lista de coisas boas e decentes sobre o filme está a fidelidade ao material de origem e a atuação de Leto. Apesar do envolvimento do ator e músico com gruppies menores de 18 anos na sua época do 30 Seconds, o mesmo mostra seu talento para a atuação há um bom tempo. Foi premiado pelo Clube de Compras de Dallas (Dallas Buyers Club, 2013), onde interpretou uma transexual (provavelmente porque Hollywood ainda associava ou associa a ideia de mulheres trans a homens cis).
Desde o começo do filme é sentida uma grande confusão do ponto de vista narrativo, tanto pelas escolhas do roteiro em seu primeiro ato, quanto uma montagem extremamente datada do mesmo. Podemos seguir um caminho de horror por se tratar de um vampiro ou então um caminho mais voltado à ficção científica pelos experimentos que resultaram no surgimento do protagonista, até mesmo misturar e brincar entre os dois gêneros. O problema do filme é ele não fazer nada disso, ele não se decide o que deseja ser, com um fio narrativo extremamente simples de ‘anti herói relutante’ e uma história de ‘bela e fera’ o filme não se sustenta exatamente como nada.
São muitos elementos narrativos mal explorados, uma história ao mesmo tempo corrida e que parece não encontrar um final de forma alguma. Efeitos visuais que à primeira mão poderiam ser algo original e agradáveis de se assistir terminando por ser apenas poluição visual na tela por terem errado a mão no uso dos efeitos. O filme, diferente de Venom (2018) e sua sequência, leva a si mesmo a sério, mas o problema é como a audiência leva um filme a sério quando o mesmo não se decide o que quer ser.
Os personagens presentes no filme são tão rasos quanto qualquer personagem de filmes da sessão da tarde nos anos 90/2000. Até mesmo uma dupla de agentes do FBI, um bonzinho e um mais durão, estão presentes no filme para investigar os misteriosos assassinatos. Temos a dama em perigo, vivida pela atriz Adria Arjona, uma trope a muito tempo largada pela maioria de filmes de super heróis, mas a Sony ainda acha adequado a estar usando em 2022. Sem falar no vilão que não tem motivação nenhuma, não tem presença de tela, não vai a canto algum.
Num acúmulo de problemas narrativos e imagéticos, Morbius (2022) garante ser um filme sem identidade, sem diversão e com um bom protagonista desperdiçado. A Sony precisa realmente mudar a rota de como usar este ‘Aranhaverso’ nos cinemas porque honestamente o trabalho feito está digno do Framboesa de Ouro.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.