Sideral – Que falta essa Terra te faz?

“Astronauta ‘tá sentindo falta da Terra?

Que falta que essa Terra te faz?

A gente aqui embaixo continua em guerra

Olhando aí pra lua implorando por paz”

Foi impossível não pensar em “Astronauta” de Gabriel, O Pensador ao assistir Sideral (2021), curta potiguar de Carlos Segundo que foi um dos indicados a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2021.

Enquanto a cidade se movimenta com o lançamento de seu foguete tripulado, nos deparamos com algumas fagulhas de aflições de Marcela, que trabalha no setor de limpeza no Centro de Lançamento. Seu filho é um amante da astronomia e seu esposo é alheio a tudo que o curta pretende tomar como tema de início.

Com um acontecimento um pouco inusitado, tudo muda. As comportas da tragicomédia se abrem, como também uma enxurrada de sensações que significa muito o que jogamos no espaço. Carlos Segundo consegue expressar em pouco diálogo – e tanto silêncio – seu cerne. Ironicamente, o ponto alto do filme é literalmente alto. É longe, breve. Mas ao mesmo tempo, o ponto alto é aqui. Ao anunciar tal clímax, o filme inverte seus polos: a Terra é sufocante. Em pés firmes, seus tripulantes estão uniformizados de sonhadores e de maus-caracteres. Um planeta que fecha seus elmos e não se importa com o fôlego de quem nos chega. Se existe um vácuo maior que do espaço sideral é o vácuo para onde jogamos o outro.

Sideral é chão. Sobre quem olha para o céu em busca de um sinal por não aguentar mais os pousos forçados de quem é esquecido. A propulsão que nos falta. Não sobre a fuga do desertor, mas sobre o escape do prisioneiro.

Sobre gravidade.

“Eu vou pra longe, onde não exista gravidade

Pra me livrar do peso da responsabilidade

De viver nesse planeta doente

E ter que achar a cura da cabeça e do coração da gente

Chega de loucura, chega de tortura

Talvez aí no espaço eu ache alguma criatura inteligente

Aqui tem muita gente, mas eu só encontro solidão

Ódio, mentira, ambição

Estrela por aí é o que não falta, astronauta…”

Quem sabe lá em cima existam mesmo deuses e deusas que se abraçam e beijam no céu. Até porque…

“A Terra é um planeta em extinção”

[Sideral foi exibido no Curta Cinema 2021 – 31º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro e será exibido no 31º Cine Ceará]


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