Chegamos ao último episódio da temporada com muitos assuntos para serem finalizados e que o foram, mas, talvez, não do melhor modo possível. É preciso adiantar que esse episódio deve ter sido difícil de finalizar, visto que deveria ter sido o penúltimo episódio e não o último, já que o último, como já mencionado nos textos anteriores, seria um episódio focado em Lorde Asriel (James McAvoy), mas foi cancelado por conta da pandemia, então com certeza o que foi exibido não foi o que esperavam exibir quando planejaram a temporada.
Direção e roteiro ficaram respectivamente com Jamie Childs e Jack Thorne, mas não sei se essa combinação foi boa como já foi um dia, já que muitas coisas foram convenientes e/ou sem sentido, fora algumas mudanças que pessoalmente não gostei. Eu já esperava uma montagem estranha no episódio, mas algumas coisas me aborreceram demais, como mostrar Citagazze de longe quase todas as vezes em que trocávamos de núcleo, sendo que todos os personagens estão em Citagazze, então não é preciso reestabelecer o cenário tantas vezes se é o mesmo. Além de isso ter trazido de volta a montagem picotada que não ajudou em nada na emoção.
O episódio foi curto, a exibição da HBO acabou antes da meia-noite, o que é estranho para um episódio que passou por tantos problemas. Pensei que na verdade acabaria sento um maior para poder ter todas as informações e acabou que as cenas finais do livro não entraram na montagem.
O destaque mais uma vez fica com o elenco, sempre ótimo, Ruth Wilson sempre é incrível, mas dessa vez Lin-Manuel Miranda também foi maravilhoso, Amir Wilson deu tudo de si e James McAvoy, que apareceu pouco, mas roubou a atenção completamente.
De um modo geral, não foi um season finale tão bom quanto o da temporada passada e como já mencionei, não era pensado para ser o final, mas de certo modo seria, pois antes do especial, seria a finalização dos outros núcleos e precisaria se finalizar bem em si. Acabou que o episódio se aproximou muito mais das falhas do anterior, mesmo sendo mais satisfatório do que o livro em alguns aspectos, mas não sei se isso é uma coisa boa, visto que a intenção do livro era não ser satisfatório.
Os núcleos se encontraram e misturaram bastante, talvez eu tenha organizado os tópicos de um modo confuso, mas vamos lá:
Começando por Mary Malone (Simone Kirby) porque seu núcleo composto por ela mesma não se misturou com nenhum outro. Basicamente ela levou Angelica (Bella Ramsey) e Paola (Ella Schrey-Yeats) para o acampamento nas montanhas onde estão os adultos, mas ela mesma não foi até lá. O acampamento é visto de longe, ela vê pétalas azuis que decide seguir e lê o I Ching de novo, que definitivamente não é tão direto quanto o aletiômetro ou a caverna.
Fiquei um pouco decepcionada, pensei que finalmente veríamos alguns adultos e entenderíamos um pouco mais sobre esse mundo, mas não foi dessa vez e a história das pétalas azuis não se concluiu, levou a Mary para uma cachoeira, mas parece ainda faltar algo. Não sei se é um bom recurso por tirar um pouco a autonomia de Mary em encontrar seu caminho quase que por instinto, mas deve leva-la para um lugar especial na próxima temporada.
Falando de protagonistas, Will (Amir Wilson) está melhor, ele e Lyra (Dafne Keen) ainda estão com as feiticeiras e enquanto todas dormem, Will e Pantalaimon (Kit Connor) conversam sobre a relação de Will e Lyra, conversa que ela ouve discretamente. Depois os dois conversam porque Will quer ir logo atrás do pai, sem as feiticeiras, ele sabe ou sente que elas não podem ir, que a jornada é só deles dois e Pan concorda, mas Lyra tem medo. Ela teme perder Will como perdeu Roger (Lewin Lloyd), seu último melhor amigo que não teve o melhor dos finais.
Porém, mais tarde Pan diz que quer ficar com as feiticeiras, mas Lyra fica preocupada que os espectros as pequem.
Em outro momento ela fala sobre estar mudando, amadurecendo, sobre não estar pronta para mudar. No fim, talvez ninguém nunca esteja pronto para crescer, para amadurecer, nós só encaramos essas coisas, já que não é possível evitar. Mas a série associa muito isso a Will, sendo que Lyra está mudando por tudo que ela está passando por si só e por estar crescendo.
Gosto que quando ela lê o aletiômetro é uma leitura rápida, prática, mas ela poderia ter perguntado muitas coisas a ele, mesmo que ainda tenha receio de perguntar demais, era o momento de fazer perguntar nem que fosse para saber a segurança deles ou a localização do pai de Will.
Toda a discussão sobre ir ou não com as feiticeiras me pareceu um pouco sem sentido, porque de qualquer modo, enquanto Will tiver a faca, ele pode afugentas os espectros, mesmo que na série não seja uma poder muito bom, no livro os espectros não chegam nem perto de Will, ficam alguns metros distantes, mas de qualquer modo ele protege as feiticeiras, deixa-las sem a proteção da faca é deixa-las vulneráveis.
A feiticeira que foi atacada está bem, embora um tanto traumatizada, Will espantou o espectro antes de ela ser totalmente sugada. Inclusive Lyra nos elucida e diz que os nomes das feiticeiras aleatórias são Lena (Remmie Milner) e Reina (Sasha Frost) – parece preguiça de criar dois nomes diferentes – sendo que a que foi atacada é Reina. Lena Feldt existe no livro, mas seu final é um pouco diferente.
Lena informa que seu daemon viu a Sra. Coulter (Ruth Wilson), mas não sabem que é ela e Serafina Pekkala (Ruta Gedmintas) diz para Lena ir dar uma olhada nessa pessoa e nas crianças em Citagazze e para Reina checar se existem espectros no caminho que planejam seguir.
Ambas as ideias sem sentido. As feiticeiras não tem nada a ver com as crianças ou essas pessoas aleatórias, elas as afugentaram para longe no episódio passadp. E já que os daemons estão patrulhando, porque não viram as crianças indo parar as montanhas? Porque não mandar só o daemons para ver o que está acontecendo? Por que enviar Reina que acabou de ser atacada por espectros para ver se existem espectros no caminho? E porque elas teriam que esperar para isso? Se elas podem se separar desse jeito Reina poderia ir à frente e Serafina com as crianças mais atrás, ou algo assim. Pareceu que estavam criando motivos para as feiticeiras demorarem a partir para Will se irritar com a demora delas.
Mas o ponto alto é quando Ruta Skadi (Jade Anouka) volta. Primeiro a vemos em um lugar desconhecido, uma espécie de rochedo, não sabemos em que mundo e ela ouve criaturas que já apareceram na temporada passada, são os avantesmas-dos-penhascos que falam sobre o exército do Asriel, que está cada vez maior, que vai haver outra guerra, maior do que a última, mas ele vai perder. Só teria uma chance contra a Autoridade se tivesse Æsahættr, mas como não tem, eles vão perder e os avantesmas vão se deliciar por anos com os ossos desse exército. Ou seja, eles esperam que o Asriel perca, para poder ter comida por muito tempo por contra da morte do exército.
Mais tarde ela chega onde Serafina está e conversa com ela, mas trouxe muito menos informações do que no livro, o que deixou o diálogo entre as duas bem menos interessante do que poderia ser. Ela conta que esteve com Asriel, não diz onde ou em que circunstâncias, mas que ele tem agentes de todos os mundos indo lutar contra a Autoridade, ela não fala sobre esses agentes, mas fala que quer ir ajuda-lo, convocar todos os clãs de feiticeiras e ir à guerra. Serafina diz que seu dever é com Lyra e o de Lyra com Will.
Ela continua dizendo que Lyra vai acabar com o destino e devolver o livre arbítrio. O que sabemos por Jopari (Andrew Scott) alguns episódios atrás que é o objetivo dessa guerra, mas Ruta não diz nada então talvez Asriel não tenha explicado seu objetivo em tantos detalhes para ela. Então Ruta conta o que ouviu os avantesmas falando de um tal Æsahættr, que definirá a vitória, nós também sabemos por Jopari que esse é um dos nomes da faca sutil, que está com Will. Mais cedo ficou faltando uma pequena fala dos avantesmas sobre Asriel não saber o que é Æsahættr, muito menos que precisa dela.
Serafina dá o assunto por encerrado dizendo para a outra rainha ir atrás desse Æsahættr para Asriel e ficar com ele.
Sra. Coulter por sua vez acha a casa onde Lyra e Will estavam, encontra aquele casaco que não foi nem colocado no Sol, muito menos lavado de Lyra, e provavelmente foi o modo que ela achou a casa, sentindo o cheirinho do casaco.
Um tempo depois Lena chega e Marisa sempre direto ao ponto já pergunta “Lyra está com você? E o garoto? Quantas vocês são?” E Lena ao invés de talvez fugir dali ou só matar Marisa como fizeram com os guardas que protegiam a anomalia, fica lá e o macaco dourado ataca seu daemon, logo ela está incapacitada e um espectro vem chegando. Teoricamente Lena deveria estar com bastante dor, mas não me passou muito isso, senti que ela foi dominada muito facilmente para alguém que estava alerta.
De qualquer modo, a Sra. Coulter vem perguntando sobre a profecia e sobre Lyra e Lena fala que Lyra é Eva. O macaco dourado entrega o daemon dela para o espectro e ela tem sua alma sugada enquanto Marisa pára um segundo para entender o que é ser Eva.
E aqui está a nossa revelação, Lyra é Eva. No podcast oficial de His Dark Materials falam bastante sobre isso, um pouco do que falo a seguir ouvi por lá.
Eva que é tentada pelo conhecimento e pela curiosidade, assim como Lyra é, especialmente crescendo em uma universidade, um lar de conhecimento. Lyra é uma personagem questionadora desde sempre e esse questionamento foi o que nos fez ser expulsos. Existe muito peso nessa figura bíblica agora misturada com a nossa jornada do herói de Lyra, mas se pararmos para pensar a própria jornada do herói é muito bíblica. Lembrei inclusive do primeiro episódio da série, onde Lyra pede para o professor falar sobre um trecho de um livro que fala justamente sobre todo esse assunto para poder fugir da aula.
Será que existe algo mais subversivo, mais diferente do que nossa protagonista ser Eva? Considerando que aprendemos que Eva foi uma mulher escrota que nos fez ser expulsos do paraíso. Mas na verdade quando parei para pensar, Lyra tem vários outros paralelos bíblicos durante a história, ela é tratada como uma salvadora assim como Jesus foi e chegou até mesmo a ser Judas quando entregou Roger e Salcília (Eloise Little) para serem mortos por Asriel, mas assim como Judas, ela não o fez por ser má, fez porque era exatamente o que deveria acontecer.
Porém temos outros personagens relacionados ao gênesis, os anjos disseram para Mary bancar a serpente. A serpente enviada pelos anjos. Lembrando que nós já sabemos por conta daquela nossa conversa sobre Metatron que serafim também pode significar serpente e eles querem vingança. Será que antes também foram os anjos que enviaram a serpente para tentar Eva com o fruto proibido? Então se Lyra é Eva e Mary será a serpente, quem são Adão, Deus e o paraíso? No fim descobriremos que o Pó realmente é o pecado?
Como uma boa teóloga experimental, a Sra. Coulter entende bem rápido o que ser Eva significa, fala da queda do paraíso, mas não explica muita coisa para a audiência e decide que precisa mesmo encontrar Lyra e protegê-la. Enquanto o macaco dourado fica amedrontado com medo do espectro ao que ela responde rispidamente. Momento em que precisamos lembrar que os dois são o mesmo ser, se o macaco está com medo, ela também está e está dizendo para si mesma para parar com essa história de sentir medo.
Os dois vão até a Torre degli Angeli e de certo modo discutem, porque o macaco está com medo e parece estar discordando dela o que a deixa bem zangada, ao que ela claramente diz, ou você está comigo ou contra mim, mas será que é possível estar contra si mesma? Temos que lembrar que os daemons refletem conflitos internos das pessoas, alguma parte de Marisa duvida do que ela está fazendo, ela bate nele, se maltrata de novo e pergunta “do que você tem medo?” Eles precisam prevenir a queda e quando ela levanta a mão para fazer carinho nele pela primeira vez em muito tempo ele se assusta de tão acostumado com agressões.
Ela então sobe até o topo da torre, ali onde Giacomo Paradisi (Terence Stamp) morreu, e invoca os espectros para o alto e foi uma cena esteticamente bonita, mas os espectros já tinham ido ali matar Giacomo – é até possível ver o corpo dele – talvez se ela os fizesse voar além da torre, mais alto ainda e se espalhassem seria uma demonstração de poder melhor. Assim ela e os espectros alcançam Lyra e as feiticeiras que estavam, por mais que parando por causa do Will, do feitiço e do conveniente atraso desse episódio, elas estavam muito a frente, mas reclamo mais disso depois.
Nossos queridos Lee Scoresby(Lin-Manuel Miranda) e Jopari estão na floresta, o balão quebrou e Lee se sente um inseto, mas Hester (Cristela Alonzo) diz que ele não seria um inseto nem se quisesse.
Logo soldados do Magisterium aparecem os perseguindo e temos um momento que eu odiei. O soldado que parece estar no comando manda sua daemon águia para rastrear os dois, até aí tudo bem, eles serem rastreados por daemons é algo muito bacana, mas a distância que aquela águia foi, indo até acima da copa das árvores acabou comigo.
Em certo momento os dois veem a águia, Jopari diz que aquela não é Saya Kotor (Phoebe Waller-Bridge). Me perguntei onde ela estaria e imagino que vigiando o caminho, para saber se estavam seguros, me toquei que ela poderia ter visto os soldados, mas aparentemente ela estava só a frente. Então se iniciou uma perseguição.
No meio da correria Lee leva um tiro no pé e conversando os dois decidem que não vão ultrapassar os soldados então alguém deve ficar para trás enquanto o outro segue em frente e Lee decide que será ele. Levando em conta que ele estava mancando e os soldados se teleportando para lugares altos, era a decisão certa. O aeróstata diz para Jopari encontrar o portador e cumprir a promessa de ele proteger Lyra e os dois se despedem. Falta certa urgência no momento de decisão, por algum motivo os soldados pararam de atirar e só tem alguém gritando ao fundo então é um momento até calmo.
Os soldados vão se aproximando de Lee, ele vai avançando, o pé ferido ainda e a cena passa certa resignação, de algum modo Lee e nós sabemos que não tem saída. Ele se lembra de brincadeiras de sua infância, começa a divagar e conversar com Hester, percebemos que eles estão com um fluxo de pensamento bem frenético, pensando em diversas coisas ao mesmo tempo e é um diálogo tocante. Ele tem 30 balas para não se sabe quantos soldados, e elas terão que bastar.
A música sabe e Lee e Hester sabem que os dois não vão sair dali vivos. Ele leva um tiro na cabeça, mas continua atirando e depois um no braço e eles se lembram do pinheiro que Serafina deixou com ele caso precisassem dela e a chamam. De novo, como a série decidiu nos poupar ao máximo da violência, não sentimos tanto o que Lee está passando porque o máximo que vemos é um pouco de sangue no rosto, Lin leva a cena incrivelmente, ele é um ótimo ator, mas falta sangue, falta mostrar que esse homem está morrendo, mas continua a lutar mesmo assim, por Lyra.
Serafina sente ser chamada e Lyra diz para ela ir até ele. Quando voltamos, já são os momentos finais de Lee e Hester, se despedindo um do outro com a certeza de que ajudaram Lyra. Arrancou uma lágrima minha mesmo sabendo o que ia acontecer, mas com a música e a atuação de Lin, não teve jeito (mesmo que ele tenha morrido de olhos abertos e quando Serafina chega os olhos estejam fechados). Quando Serafina o encontra, conjura um feitiço que a série não explica, mas é para que ele não seja devorado, já que ela não tem como leva-lo agora. Então assim, Lee Scoresby e Hester morrem sem conseguirem se reencontrar com Lyra.
Mas infelizmente apesar dos esforços dos dois, um soldado escapou.
Apesar de o momento ter isso muito bom, não gostei tanto de a série ter dado um motivo físico para Lee ficar para trás, porque mesmo ele se oferecendo, já estava machucado e isso dá um ar de sem saída e ele ainda deixou escapar um soldado. Parece um pouco de maldade com o esforço dele, além de todo esse momento final ter ficado muito picotado pelo episódio, o que prejudicou a emoção. Estamos nos preocupando com eles então corta para Marisa, e volta, e corta para Lyra, várias vezes, foi algo que quebrou muito minha imersão.
Não muito longe dali Will acorda, ainda recebendo chamados estranhos de Jopari dirigidos ao portador, então ele sai andando, deixando Lyra e Reina. E os dois se encontram, se reconhecem, Will já sabia que estava procurando o pai, mas Jopari não sabia que procurava o próprio filho, então ele finalmente parece ter ficado chocado, paralisado, demonstra alguma emoção nova e os dois vão conversar.
Jopari pergunta da mãe de Will,Will pergunta por que ele não voltou e estranha ele ter uma daemon. Existe uma cobrança de Will para ele ter voltado, mas Jopari explica que não conseguiu voltar então tentou aprender sobre os mundos e como ajuda-los. Fala sobre a guerra que ele já falou com Lee e que Will precisa ir até Lorde Asriel e entregar a faca porque é a única arma que pode matar a autoridade, Will se questiona, mas Jopari diz para o garoto não duvidar da escolha da faca e de si mesmo, ele é um guerreiro, não deve lutar contra a própria natureza. Se ele não usar a faca vão roubá-la e usá-la contra ele.
Mas em nenhum momento os dois falam sobre Lyra, ou seja, Jopari não cumpriu a promessa que fez a Lee.
Will pergunta se depois disso tudo eles podem ir para cara e Jopari diz que sim. Momento que me fez sentir vendo de novo Harry planejando morar com Sirius em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, 2004). Porque o soldado que Lee deixou escapar seguiu Jopari e chega ali, atira, Jopari leva o tiro no lugar de Will, Sayan Kotor mata a daemon do homem, o que o mata – que por sinal, mal reagiu. A cena novamente não tem sangue nem nada, só depois um pouco em uma pedra, mas os dois atores dão tudo de si. Jopari diz que a noite está cheia de anjos e que eles vão guia-lo, (talvez como têm guiado Mary? ) e John Parry/Stanislaus Grumman, morre. Will o enterra e literalmente carrega o manto do pai, a missão dele, seu dever.
Acabou sendo uma morte que eu não senti tanto impacto. Talvez porque como a série construiu, parecia o momento ideal para ele morrer. Tudo já havia sido dito, tudo explicado para o filho, tudo tinha sido esclarecido, aquele personagem não teria mais o que fazer, ele já passou a missão para o portador, então o mataram.
Apesar de ter entendido o que quiseram fazer com o soldado, ainda achei um tanto desrespeitoso com a jornada de Lee que só se permitiu descansar depois de cumprir sua missão, óbvio que ele deixar um passar não mudaria a ajuda que ele deu, mas no livro, a morte de Jopari acontece por consequências dos atos dele próprio e vai despertar algo em Will que ele ainda não entende e vai ser importante para sua jornada no terceiro livro, A Luneta Âmbar.
Lá também não existe essa longa conversa entre pai e filho, a lição que fica em A Faca Sutil é que a vida não te dá todas as respostas, nem tudo vai ser respondido, fica um vazio, uma indignação, mas é assim que as coisas são, a realidade não é bonita, a vida não é justa, nós temos duas crianças sendo peças chave de uma guerra contra o céu, não tem nada de justo ai.
Sra. Coulter chega até Lyra, de algum jeito ela os alcançou – talvez os espectros soubessem algum atalho -, mas mesmo com as pausas eles estavam há pelo menos dois dias de caminhada à frente dela, Lee e Jopari estavam mais perto por terem ido de balão e impulsionados por ventos mágicos.
Reina, uma ótima guarda dormindo em serviço, mas tudo bem, não vamos culpar demais a coitada que estava traumatizada depois de ter sido atacada por espectros na noite anterior e é sugada enquanto dorme.
Marisa pegou Lyra. Como ela arrastou a menina montanha abaixo não sei, mas depois a vemos com Lyra em um baú, no melhor estilo Deixe Ela Entrar (Let the Right One In, Låt den rätte komma in, 2008), em um navio, não sabemos em qual mundo, mas algum tempo se passou com certeza entre ela encontrar Lyra na floresta e aquele navio. E se não sabemos onde as duas estão, muito menos sabemos para onde estão indo.
A surpresa no final ficou então com a única aparição de Lorde Asriel e Stelmaria (Helen McCrory) na temporada, com sua narração/discurso. Enquanto ele fala vemos os outros personagens, Will com o manto do pai e se portando como ele, Serafina voando, Mary encontrando o lugar com a cachoeira, Marisa em um navio, dirigíveis do Magisterum e o Cardeal MacPhail (Will Keen).
Nesse rápido momento ele já rouba os olhares todos para si, a atuação de James McAvoy é muito poderosa e ele discursa para anjos em um lugar que parece ser onde vimos Ruta mais cedo, ele está machucado então deve ter sido uma jornada bem difícil até aquele lugar específico e ele provavelmente fez isso há algum tempo, porque Ruta fala sobre ele já ter um exército e muitas pessoas, então esse momento é como tudo começou.
Em seu discurso ele fala sobre sua jornada, que lutou em muitos mundos, – provavelmente aquele lugar é em um mundo que nós ainda não conhecemos – e sacrificou coisas que não queria para chegar até ali. Que sua luta é contra a Autoridade e aqueles que fazem crueldades em seu nome. Sua meta é derrotar a Autoridade e criar uma república no céu acima e uma república de ideias abaixo, que seria composta de justiça, liberdade, igualdade, verdade, aceitação e conhecimento no lugar de intolerância. Com compreensão e verdade para assim o mundo poder se recuperar das coisas ruins que aconteceram.
Mas ele não poder realizar esse sono sozinho, precisa de ajuda, de suporte e convida os anjos rebeldes a se unirem a ele de coração e alma para juntos conquistarem tudo isso, e que não existe neutralidade, ou estão com ele ou contra ele. Ao que os anjos respondem que estão com ele que parece muito mais satisfeito do que impressionado com isso. E agora, vamos nos preparar para a guerra. Esse episódio 8 vai fazer falta, seria incrível ver esses preparativos de como esse grupo de anjos e um homem cansado, machucado e sua daemon montaram um exército.
E claro, tivemos uma cena pós-créditos! Com nosso saudoso Roger inclusive, em uma espécie de visão ou sonho, já que Roger morreu (e não se comunicava telepaticamente) pedindo a ajuda de Lyra no escuro. O que esse momento significa fica no ar, não vou falar nada sobre isso, temporada que vem talvez a gente converse sobre isso.
Sobre os daemons, o que eu mais gosto no season finale da primeira temporada é como a relação dos daemons e humanos é bem trabalhada. Neste aqui, essa relação teve bons momentos, mas faltou um pouco. Novamente a relação da Sra. Coulter e do macaco dourado se mostra muito complexa e interessante de assistir, além do tesouro que é a cena de Lee e Hester, que foi muito tocante.
Mas a distância dos daemons e a falta de toque entre eles e seus humanos, segue um incômodo. Quando o soldado do Magisterium está caçando Lee e Jopari, ele manda seu daemons águia lá para o alto, muito alto e em dado momento Lee e Jopari veem o daemon sem ver o humano, ou seja, além de alto ele está longe e isso não existe. Não terem trabalhado a questão da distância foi um erro difícil de consertar, além de tirar o estranhamento e surpresa quando vemos a Sra. Coulter, as feiticeiras e Jopari fazendo isso.
Quanto à falta de toque, os daemons tocam muito pouco seus humanos. Se bonecos são usados para os efeitos, não existe muita desculpa. Vermos Marisa chutar o macaco dourado não tem o mesmo impacto que teria se víssemos Lyra e Pan trocando abraços ou carinhos. Hester sequer encostou-se a Lee no final, o toque transmite carinho, intimidade, cumplicidade, como no episódio em que a Sra. Coulter e Lee se encontram, para onde foi aquilo? Ficou no episódio 3 com Leanne Welham e Sarah Quintrell? Aquele sentimento se perdeu bastante.
O final realmente de A Faca Sutil, suas últimas páginas, não entrou no episódio. E é algo que considero sim que faz falta, daria uma tensão muito grande para Will porque ele ia voltar, encontrar Reina sugada pelos espectros, Lyra desaparecida e… Outra coisa. Como possivelmente esse momento será o começo da terceira temporada não vou dar o spoiler para quem só assiste a série, mas no tópico abaixo vou falar sobre isso, caso alguém tenha curiosidade.
Momento comparação com o livro!
- No livro, Mary está como comentei nesse momento do texto passado, ela continua andando e subindo a montanha até que encontra uma janela, não para o nosso mundo ou o de Lyra, mas para um outro.
- O diálogo de Will e Pan na caverna é bem parecido, mas Lyra nunca fala com Will sobre isso, apenas com Pan, com quem comenta sobre estar mudando, ele diz que gostaria de ser uma pulga quando se fixar, mas na verdade a discussão é quase uma briga, afinal os dois ainda tem 11 anos e são bem opostos.
- O diálogo dos avantesmas é um pouco maior, mas a essência é a mesma do episódio. O avantesma que fala as informações é um muito velho que está sendo questionado por alguns mais novos e diz que lembra do mundo antes dos humanos, que existem avantesmas em vários mundos e que Asriel não sabe o que é Æsahættr, por isso não vai atrás dela.
- Quando Ruta chega, ela chega com alguns avantesmas que a atacaram no caminho. Depois de comer um pouco ela fala que encontrou Asriel e ele construiu uma grande fortaleza, com carregamentos de tudo chegando o tempo todo e diz algo estranho, sobre Asriel provavelmente vir preparando isso desde antes de elas nascerem (sendo que Serafina tem pelo menos 300 anos), mas não sabe explicar como. Conta que guerreiros de todos os mundos estão indo para lá e ela conheceu inclusive feiticeiras como elas, mas que viviam menos e até homens feiticeiros.
- Ruta também deixa a entender que ela e Asriel tiveram um momento íntimo, mostrando que a tal amante feiticeira de Asriel que a Sra. Coulter fala inclusive no começo da temporada quando tortura a feiticeira sem nome, não era ela e sim Ruta. Ela conta sobre as maldades feitas em nome da Autoridade em outros mundos e que ele convidou as feiticeiras para o exército, todos os clãs. Serafina apoia que Ruta volte para o mundo delas e convoque seu clã, mas ela ficará com Lyra.
- Quando Ruta fala de Æsahættr, fica muito empolgada querendo saber o que isso pode ser, já que significa destruidor-de-deus/destruidor-de-deuses, se podem ser as feiticeiras ou a própria Lyra e que ela gostaria de ter uma filha com Asriel, porque Lyra é incrível, então uma filha deles dois seria ainda mais.
- Assim que as duas terminam de conversar, vão até Lyra e Will, onde veem mais de uma dúzia de anjos ao redor das crianças, que estão dormindo. Serafina entende algo para o qual ela não tem uma palavra para descrever. Uma ideia de peregrinação, que aquelas criaturas esperaram milhares de anos e viajaram milhares de quilômetros para ficar perto de algo importante que os mudaria e faria aquilo valer a pena. Os anjos vão embora e Ruta diz que deviam ser de uma espécie parecida com os que ela acompanhou, mas maiores.
- No livro não acompanhamos a Sra. Coulter, mas continuando o que eu falei no texto anterior, uma feiticeira, que é Lena, está observando Marisa e Boreal e o vê morrer. Ela está usando um feitiço para ficar invisível, mas a Sra. Coulter a sente e logo um espectro envolve o daemon dela, então ela começa a agonizar de dor. Por ser algo terrível, ela conta tudo que a mulher pergunta, quantas feiticeiras estão ali, como estão posicionadas, que Lyra será a mãe, a vida, vai desobedecer e será Eva. Marisa diz que não vai haver queda, mata Lena e vai até um lago e manda os espectros para cima, porque até então eles estão presos ao chão, se movem em uma altura baixa.
- A perseguição de Lee e Jopari é bem parecida. A maior diferença é que além dos soldados no chão, ainda existe um dirigível bem acima das árvores seguindo os dois e Jopari diz que provavelmente vão queimar a floresta para fazê-los sair dela. Eles são perseguidos, mas o xamã tem um problema de coração que o está matando, então ele não consegue correr muito e os dois tem apenas um rifle. Jopari diz que quer o rifle, porque querem matá-lo, mas Lee poderia ser prisioneiro de guerra, porém o aeróstata diz que não levou o homem até ali para deixa-lo no meio do caminho. Ele faz Jopari jurar de um modo bem mais intenso que vai garantir a proteção de Lyra e os dois se separam.
- Lee e Hester ficam sozinhos, com diálogos parecidos com os da série, divagando sobre a infância e atirar, mas tem muito mais sangue e violência. Lee está morrendo, mas não se entrega enquanto é baleado e alguns tiros passam de raspão em Hester. Ela diz que é sua culpa os soldados estarem ali porque no observatório ela o fez roubar o anel do homem que matou para se passar por oficial do Magisterium. Eles lembram do pinheiro de Serafina e a chamam. Lee está fraco, com poucas balas, muitos soldados para enfrentar, então ele atira no zepelim que cai em chamas e os homens restantes morrem. Hester diz que foram todos e que eles ajudaram Lyra, aperta seu corpo contra o corpo de Lee e os dois morrem. Só no momento em que eles têm certeza que todos os soldados se foram é que eles se permitem morrer.
- O encontro de Will e Jopari é totalmente diferente. Primeiro que Will está com muita dor na mão, confuso e ainda sangrando porque o feitiço não funcionou então ele vai meio tonto subir uma colina. Uma feiticeira o segue de longe, para vigiá-lo. Na colina, Will está no escuro quando um homem aparece e agarra seu braço, Will o chuta, os dois começam a brigar, mas o homem está exausto. Eles se acalmam, o homem tateia as mãos de Will e percebe que ele é o portador, obviamente o homem é Jopari, que coloca musgo-de-sangue, um unguento do mundo de Lyra, na ferida e pela primeira vez desde o corte, Will sente alívio da dor.
- Assim como no episódio, Jopari fala, mas de um modo mais ríspido, sobrea a guerra, de modo maior inclusive, sobre a liberdade e a obediência, sobre a faca ser a única arma que pode matar a Autoridade, fala para ele não duvidar da escolha da faca e que ela o escolheu, ele é um guerreiro e não deve lutar contra a própria natureza. Ele conscientemente escolhe quebrar a promessa que fez a Lee e diz para Will ir até Asriel e ignorar todo o resto. E finaliza dizendo que a noite está cheia de anjos, alguém vai aparecer para guia-lo.
- Jopari tira uma lamparina para poder ver Will melhor, e quando eles se olham, os dois se reconhecessem como pai e filho, mas antes que pudessem dizer qualquer coisa, uma flecha desce do céu e mata o Jopari quase instantaneamente.
- Desde o início do livro, na reunião das feiticeiras, quando Lee menciona que vai procurar de Stanislaus Grumman, uma feiticeira jovem chamada Juta Kamaienen, que era muito passional, diz para Serafina que conheceu Grummam, o amou, mas ele a rejeitou e se ela o vir de novo, vai mata-lo. Então a rainha decide leva-la junto para o novo mundo, para não matar o homem antes que Lee o encontrasse. Na busca de Lee ele ouve várias vezes que Grummam negou o amor de um feiticeira, coisa que ninguém faz, pois pode trazer consequências terríveis e pede inclusive para Jopari jurar pelo que o fez rejeitar o amor de uma feiticeira. Foi exatamente ela que seguiu Will para vigiá-lo.
- Quando Juta mata Jopari, Will agarra o daemon dela, mesmo sabendo que aquilo é proibido e causa dor, e pede uma explicação. Ela diz que ele é muito novo para entender, mas ele insiste. Ela diz “Não consigo explicar. Você é novo demais. Não iria entender. Eu o amava. Só isso. Isso basta” Ele mata a feiticeira, perplexo e diz “Não compreendo. É estranho demais.” Ele pega o casaco do pai e volta para onde Lyra estava, mas ela sumiu e várias feiticeiras mortas estão pelo lugar. Ele deduz que foram sugadas por espectros no ar, caíram e morrerem. Sem entender nada, dois anjos aparecem e dizem que estão ali para escolta-lo até Asriel.
- No livro não acompanhamos Asriel, então a cena do discurso não existe.
- A cena da voz de Roger no escuro originalmente acontece apenas no terceiro livro.
Momento informação interessante do HBO Extras!
Até o momento da finalização desse texto, o HBO Extras faleceu, se recusa a abrir e funcionar, então vamos ficar sem essa sessão. Caso o aplicativo volte a funcionar, esse texto pode ser atualizado.
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De um modo geral, o episódio não foi de todo ruim, tivemos bons momentos e ótimas atuações, mas deixou muito a desejar em diversos pontos com relação à história, os pontos fracos da série ficaram muito a mostra, não sendo tão bom quando ao episódio final da temporada anterior, o que me deixa um pouco preocupada sobre como será adaptada a terceira temporada, já confirmada, levando em conta que A Luneta Âmbar é um livro bem mais denso, com mais núcleos, personagens e coisas bem complicadas vão acontecer com nossas crianças.
VEJA TAMBÉM
His Dark Materials: Fronteiras do Univreso – 2×06: Malice
His Dark Materials: Fronteiras do Univreso – 2×05: The Scholar
Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.