Rodson ou (Onde O Sol Não Tem Dó) – Uma fritada distópica

O ano é 3000. Rodson encontra no lixo um deteriorado robô, o adotando pelo nome de Caleb. Fugindo da repressão dos pais, a dupla segue estrada onde transforma as cidades de Fortaleza e Pacajus numa louca e psicodélica realidade.

Inspirado num fanzine de nome “Onde O Sol do Icó Não Tem Dó”, o filme cearense abraça, desde os seus créditos iniciais, um conceito retrô-futurista, informando que, com o avanço dos anos, muitas coisas não progrediram. Para isso, ele toma emprestado uma série de estéticas como anos 90-2000 com aquelas cores, distorções, fontes do Word Art, com a sensação de que por onde a história discorre os parafusos da loucura vão caindo pelo caminho.

Rodson e Caleb cumprem as funções de uma boa paródia: satirizar os filmes estadunidenses de ficção científica que exaltam a robótica como também critica as formas como as sociedades atuais encaram a saúde mental, as relações homoafetivas, os artistas, o capitalismo entre outros. Sempre apostando no tosco e brutesco.

Sua câmera transmite essa impressão: a toda cena temos a sensação que ela não está numa só mão. Ora trêmula, pessoal, distante, passando por óticas nos gliths e distorções do seu formato SDTV.

Os poucos momentos de certa lucidez ficam para as trilhas sonoras afro-ameríndias, numa mensagem quase explícita que o futuro sem nossas raízes é um futuro caótico. 

Em alguns momentos essa caoticidade perde o controle para a desorganização, mas como o filme é uma fritada alucinógena, a retomada é sutil. A lombra continua adentrando nas ideias que não deveriam ser reprimidas até a hipocrisia dos opressores.

Rodson ou (Onde O Sol Não Tem Dó) (2020) realmente não tem dó da extravagância onde faz questão de se afastar do centro das coisas. É como uma fritada em festa rave ao som do tema do Globo Rural: “nada a ver” é uma ideia.

(O filme encontra-se disponível gratuitamente até o dia 30 de janeiro no site da 24º Mostra Tiradentes)


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