Bridgerton – Declaro aberta a temporada social

Se você está de férias da sociedade, num ano sabático antes de assumir o seu título, ou simplesmente ainda está no campo enquanto a “temporada social” não começa, pode ainda não ter ouvido falar da nova série da Netflix, em sua primeira produção conjunta com a Shondaland: BRIDGERTON (tá-dááá!)

É uma história adaptada para as telas da série homônima de livros escrita pela Julia Quinn, que é uma sensação entre leitores amantes de romance regencial (e erótico). Deixo avisado que é uma série que contém 9 livros, um para cada irmão ou irmã encontrando seu verdadeiro amor; e um “felizes para sempre”. Assim, temos todos os indícios para esperar várias temporadas no futuro. Inclusive, a série já alcançou mais de 63 milhões de visualizações em menos de um mês de estreia. 

A Netflix me deixará muito feliz se eu puder aproveitar por anos essas locações lindíssimas; ou esse figurino maravilhoso – que foi criado, tingido e costurado à mão mais de 7.500 peças!!!; ou essa trilha sonora composta por um misto de músicas originais e versões clássicas, estilo quarteto de cordas, de músicas contemporâneas. “Thank you, next” ficou incrível, né? Ou simplesmente acompanhar o crescimento desses personagens fofos, carismáticos e extremamente atraentes.

Começamos essa temporada com a filha mais velha, Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) sendo apresentada à sociedade londrina de 1813. Tudo é perfeito, até a rainha dá seu selo de aprovação! Mas o que tinha tudo para ser uma temporada sublime, com um caminho fácil para o altar, deixa a desejar. Os pretendentes que se aventuram por perto logo são apavorados pelo seu mais velho: Anthony Bridgerton (Jonathan Bailey).

É então que aparece Simon, o Duque de Hastings (Regé-Jean Page), velho amigo de Anthony, inclusive, e um libertino (ooooh). O retorno do duque à sociedade londrina se torna um tanto sufocante para ele, pois o mesmo se torna o solteiro mais cobiçado da temporada; e no jogo do amor, as mães são quem dão as regras. Em total desespero, das duas partes, o duque e a Daphne entram em um namoro de mentira: ela vai conseguir mais (e melhores) pretendentes, e ele vai se livrar das debutantes e suas mães desesperadas. E então temos o clichê: o que poderia dar errado!?!?

Se apaixonar pela irmã do seu melhor amigo? Querer passar mais tempo com o seu namorado de mentira do que com os outros pretendentes? Saber que não existe um futuro possível entre um homem que pretende não casar e não ter família, e uma mulher que sonha em ter exatamente o contrário? Ou Londres inteira estar a par de cada passo seu, inclusive a rainha?

Falando em fofoca, preciso falar da Lady Whistledown (narrada pela Julie Andrews) e do seu boletim. A sociedade a ama e a odeia em proporções iguais; suas matérias destroem e constroem reputações, e ninguém sabe quem ela é… Bem, ainda não sabem. Temos uma exímia investigadora no caso, nossa querida Eloise Bridgerton (Claudia Jessie), a quinta irmã de oito filhos da viscondessa Violet Bridgerton (Ruth Gemmell): Anthony, Benedict (Luke Thompson), Colin (Luke Newton), Daphne, Eloise, Francesca (Ruby Stokes), Gregory (Will Tilston) e Hyancinth (Florence Hunt).

Eu pessoalmente adorei que os plots dos outros irmãos já foram minimamente apresentados; são várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas nos livros não tem como perceber direito a sobreposição. Enquanto nos contam sobre os problemas com o título que o Anthony enfrenta, a vocação de artista de Benedict, o drama do Colin e a investigação da Eloise, senti uma maior conexão com essa família. Cada um tem uma personalidade e cada um é protagonista da própria história.

São muitos personagens e muitos plots, pois a Julia Quinn criou uma comunidade inteira nos livros. E eu fiquei nada menos que encantada em ver esse mundo em movimento, com suas regras complexas e seus humanos imperfeitos. E, apesar de ter como fundo a sociedade inglesa de 1800, é uma história contemporânea. O plot da Daphne, inclusive, tem muito sobre como as mulheres são educadas numa redoma em que sexo não existe, ou desejo sexual sendo um tabu, e como isso incapacita uma tomada de decisão consciente sobre o próprio futuro.

Sobre sexo: ele existe! Inclusive, temos cenas explícitas na série desde o primeiro episódio! É importante perceber que ele compõe o plot dos personagens tanto quanto o romance, e mais: parte do ponto de vista feminino. Isso é o mais raro e talvez o grande diferencial de Bridgerton. Essa série se encaixa em um vazio que há muito tempo foi preenchido no mundo dos livros, o de histórias de amor de grande circulação que sejam divertidas, com personagens complexos e instigantes, e com sexo, muito sexo, voltadas para o público feminino.

Se você está em busca de uma série leve, com humor sarcástico, de romance, em que toda vez que você assiste percebe novos detalhes para se apaixonar, Bridgerton é a minha recomendação. Dito isso, vou ali terminar de rever a temporada e sonhar que eu tenho um duque pra chamar de meu.


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