Durante o período da quarentena e isolamento social impostos pela pandemia de COVID-19, resolvi, como um projeto pessoal, terminar jogos que estavam há muito tempo na minha estante ou biblioteca. Em uma dessas buscas, acabei por me deparar com What Remains of Edith Finch (2017). Acredito que o jogo tenha vindo na PS Plus e que por isso salvei na minha biblioteca, mas nunca tive a oportunidade de jogá-lo. Sem muita expectativa, instalei-o e tive uma grata surpresa.
What Remains of Edith Finch é um daqueles jogos que logo nos primeiros minutos te capturam. Seja pela trilha sonora excelente ou pela constante curiosidade de saber onde essa história tão misteriosa vai te levar. A perspectiva do jogo é em primeira pessoa e passa a sensação de descobrimento junto com a personagem. Ela vai lembrando de acontecimentos e narrando para nós jogadores, que somos uma espécie de voz na sua cabeça, ouvimos todos os seus pensamentos e sabemos os mistérios que aquela aventura aguarda.
A premissa do jogo é bem simples. Conhecimento sobre sua história. Seus antepassados, mãe, pai, avós, avôs, tios, tias, irmãos, primos etc. Tudo isso é nos apresentado, seja por lembranças da própria Edith ou por diários e recordações deixados pelos seus antepassados. O tom misterioso e constante da narrativa pode parecer um pouco com os elementos do gênero terror, mas o jogo foge dessas convenções e busca contar sua história de modo único e imersivo, contando com as sensações e sentimentos deu seu público.
Entrando um pouco mais sobre as histórias que o jogo conta, nós temos a de Milton, irmão de Edith, que um belo dia desapareceu e todas as buscas foram em vão. Ao chegarmos no quarto de Milton durante a jogabilidade, percebemos que Milton era um grande artista e que seu sumiço tenha acontecido por ele mesmo entrar em um reino que foi criado em seus desenhos. Outro exemplo é de seu outro irmão, Lewis, que faleceu. Ao chegarmos no quarto dele percebemos várias notas de seus médicos, sobretudo sua psiquiatra. Lewis tinha transtornos e sua mente fugia e criava as mais notáveis fantasias, dentre elas destaca-se no jogo a sua coroação e a criação de um reino que era considerado justo e confortável.
A trilha sonora também reforça os sentimentos presentes nas histórias. Ela funciona quase como um personagem e quando surge geralmente tem a função de arrebatar o jogador. E essa trilha é a mais variada possível, desde músicas originais como o próprio tema do Milton até músicas clássicas consagradas como The Nutcracker, Op71, TH.14/ Act2: No. 13 Waltz of the Flowers do Piotr Ilitch Tchaikovski. Também há presença de músicas comuns da cultura pop, como o tema do filme Halloween cedido pelo próprio John Carpenter.
What Remains of Edith Finch é um jogo narrativamente relevante e esteticamente arrebatador, seja pela sua trilha sonora espetacular ou pelos seus personagens profundos. O jogo foi uma grata surpresa durante o período de quarentena e tem o poder de gerar reflexão no jogador sobre a vida, a morte e o lugar no mundo. Embora seja um jogo relativamente curto, sua história cativante e sua jogabilidade aprazível garantem ao seu público uma experiência inesquecível.
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Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.