RESENHA | O Colecionador, de John Fowles

“Ele é um colecionador. Esse é o grande lance mórbido a seu respeito”. 

Publicado originalmente em 1963, O Colecionador é o romance de estreia de John Fowles, vindo a se tornar referência e um dos livros mais famosos do gênero thriller. No Brasil, contamos com a edição belíssima e pensada em cada detalhe da editora Darkside.

O livro nos conta a história de um stalker, não aquele stalker que busca detalhes da sua vida através da internet, mas um stalker digno de diagnóstico psiquiátrico. Ferdinand cria uma obsessão por Miranda, quando esta ainda era uma estudante de colégio e isso vai tomando proporções gigantescas até o ponto em que ele planeja e executa o seu sequestro, quando Miranda já está na casa dos 20 anos.

A história nos é contada em 4 capítulos, sendo o primeiro pela visão de Ferdinand e o que acontece em sua vida até que chegue no ponto de que a paixão que sente por Miranda acabe se tornando um crime, e o segundo pela visão da Miranda, através de um diário que ela mantém no seu cativeiro. Nos dois primeiros capítulos conseguimos sentir o que o autor desejou nos transmitir através de sua escrita: o que nós, leitores, sentimos em relação aos personagens, não pensando neles como bons ou ruins. O livro nos faz questionar o tempo todo nossa simpatia e empatia por ambos os personagens, nos causando muito desconforto diversas vezes e sentindo o gosto amargo da falta de esperanças que vai consumindo Miranda nos seus dias de cativeiro.

Os dois últimos capítulos, entretanto, são os mais chocantes, pelo menos ao meu ver. Não é válido contar aqui quem são os narradores destes, mas após se envolver com os dois personagens principais e sentir o que cada um pensa, vê e passa durante os dias do sequestro, conseguimos criar fortes opiniões e nesse ponto já não temos como não escolher um lado. Dois capítulos fortes, importantes e que nos fazem quase atravessar as páginas para resolver tudo com nossas próprias mãos.

Até que ponto a infância e a vida de Ferdinand o influenciou para que uma paixão à primeira vista o transformasse em um stalker e em um carcereiro? O que Miranda poderia ter feito para merecer os cruéis dias em que passou trancada e sem poder ao menos ver a luz do dia? Qual o nível de envolvimento que os leitores conseguem alcançar com os personagens tão densos dessa história? Convido vocês a mergulharem nessa leitura e tentarem responder essas questões!


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