Raio Negro: O Rei Aprisionado – A falta que faz um grito

Chega às bancas tupiniquins a ganhadora da categoria “Melhor Série Estreante” no Eisner 2018. Raio Negro: O Rei Aprisionado tem o roteiro assinado pelo literário Saladin Ahmed, desenhos comandados por Christian Ward (que também escolhe as cores), Fraser Irving e Stephanie Hans, e letras por Clayton Cowles.

Deixemos a premissa para segundo ponto, já que qualquer HQ impressa começa pela capa. Linda e minimalista, ao ponto de quase não precisar de um título escrito. E falando em escrita, a edição peca em não creditá-la em sua fronte os nomes da desenhista Stéphanie Hans e do letrista Clayton Cowles. Aproveito para destacar a bela arte de Hans, com um esfumado em cores que além de ser sua identidade, aumenta o nível das cores da edição, estas que já são um dos seus pontos altos. As letras e balões de Cowles dão vida é característica aos personagens tal qual obras como Sandman, conhecidas por essa identificação. Pelo menos nesse texto, os referidos artistas estão justamente citados e louvados.

A história começa com Raio Negro trancado numa psicótica prisão e impossibilitado de usar seus poderes. O poder de sua fala é misteriosamente subtraído, ao mesmo tempo que se reúne com outros prisioneiros para tentar escapar do lugar.

É indiscutível que Ahmed escreve um roteiro coeso, com bons diálogos, redondo, imerso na gangorra de propostas como pode. Mas a impressão é que a história não se decide em seu início e desenvolvimento pra onde ela quer ir. E quando tardiamente acontece, ela não tem tempo para mergulhar nela. De início, ela perde uma ótima oportunidade de dar seguimento ao discutir os conceitos de condenação e privação de liberdade. Quando ela pode tornar-se interessante ao debater alguma problemática do sistema prisional que o inumano enfrenta, se distrai com sequências de fuga e quebras de expectativa (por sinal muito bem descritas) e parte para dramas pessoas. A cada novo bom tema sinalizado, a habitual e – as vezes – cansativa “ação de quadrinhos estadunidenses de super-heróis” passa à frente. Depois, agora decidida, parte para as prisões afetivas e nossos arrependimentos. Porém, a história precisa de uma conclusão e, com soluções bélicas, necessita terminar.

Quando uma história tem oscilações como estas, é claro que a construção mais afetada é a de seu protagonista, pois é o personagem que move a narrativa. Incompleto e com potencial desperdiçado de ser um Inumano mais um humano, não cresce. A vantagem do personagem não ser um grande conhecido do público como Capitão América, Thor ou mesmo um Doutor Estranho (e com pouco histórico de títulos diante dos demais), faz ter um compromisso menor e auxilia em entregar um Raio Negro carismático e fio-condutor do começo ao fim.

A HQ é uma prova que enquadramentos arrojados, ótimas escolhas de cores e balões/letras distintos ajudam demais os desenhos belos e com momentos preguiçosos por Ward e Irving.

Segue sendo um bom quadrinho. Merece ser lido do mesmo modo que poderia escapar da prisão “Marvel/DC de Histórias de Super Heróis” e contar uma história ao nível de Senhor Milagre ou de seus concorrentes no Eisner que mereciam bem mais o troféu da categoria.

Assim como seu protagonista, Raio Negro: O Rei Aprisionado é um sussurro que causa uma discreta curva na média. Porém, faltou gritar.


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