RESENHA | Sol da Meia-Noite, de Stephenie Meyer – Inesperado em mais de um sentido

Stephenie Meyer revolucionou o mercado editorial 15 anos atrás com a Saga Crepúsculo. A história de uma humana que se apaixona por um vampiro chegou na hora certa, seja pela necessidade desse tipo de narrativa para o público feminino jovem, seja pela potencialização que a internet pôde proporcionar, seja pelo sentimento de conhecer e fazer parte de uma comunidade de adoradores. Deu tão certo que, em seguida, diversos livros foram lançados com a temática amor juvenil sobrenatural. S. Meyer lançou tendência.

A série fez tanto sucesso, mas tanto, que, mesmo quem não leu os livros ou viu os filmes na época dos lançamentos, ainda assim sabia sobre o que se tratava – e muitas vezes até tinha opinião formada, se era time Edward ou time Jacob, escolha que abala muitas amizades até os dias de hoje. Além das milhares de cópias vendidas dos livros e das adaptações para o cinema, ainda tivemos o fascinante movimento de uma fanfic com tanto sucesso que foi editada e publicada (como livro físico, tá!?), e posteriormente adaptada para os cinemas… Vos entrego a série de Cinquenta Tons de Cinza.

 A Saga Crepúsculo foi realmente um marco na cultura pop. As adolescentes ao redor do mundo, que sentiam não ter nada de muito especial sobre si, viram seus anseios e desejos refletidos na Bella, nesse romance perigoso. E começaram a sonhar em sorrisos de canto, músicas de piano exclusivas, olhares intensos e até em visitar Forks (por que não!?). Imagina você ter 15 anos e não ter medo de gritar numa sala de cinema toda vez, eu repito, toda vez que o seu ator, personagem ou shipp favorito aparecer na tela. Era uma energia incrível, empoderadora.

Era também um lugar seguro, na perspectiva de que você sempre encontrava alguém pra falar sobre Crepúsculo, dividir teorias, desejar spin offs de personagens, sonhar em dirigir os carros dos Cullen, ou ouvir repetidamente os artistas que fizeram parte da trilha sonora da Saga (que é perfeita, convenhamos). Pessoalmente, o melhor dessa série foi exatamente isso: ter com quem conversar sobre todos os sonhos e as incertezas; compartilhar e discutir trivialidades e sofrer com a espera do lançamento de Sol da meia-noite.

Então, mais de uma década depois do lançamento do primeiro livro (no Brasil foi em 2008), Stephenie Meyer surpreende com o lançamento da versão pelo ponto de vista do Edward dos acontecimentos de Crepúsculo. Sabemos que foi um processo longo e difícil, a começar com o vazamento dos primeiros capítulos enquanto a série original ainda estava sendo publicada. Depois, houve o lançamento de A breve segunda vida de Bree Tanner (2010, Intrínseca) e Vida e morte (2015, Intrínseca), enquanto Sol da meia-noite não dava sinais de quando, ou se, iria ser terminado.

Como era de se esperar, a internet entrou em polvorosa desde o anúncio da publicação, no dia 4 de maio de 2020, até o lançamento simultâneo, dia 4 de agosto. Recebendo o livro em mãos, fica claro o trabalho enorme que a Intrínseca teve (só de tradução foram seis pessoas trabalhando nesse livro). Sol da meia-noite tem quase 800 páginas, faça as contas. Na questão editorial, eu senti falta de uma página de gramatura maior; e quando terminei de ler, o título já estava desgastado. Mas nada disso é uma questão com o livro digital.

Quanto à narrativa, eu realmente não estava esperando rir tanto. Não acho que seja intencional, mas em muitas partes a dramaticidade exacerbada do Edward são hilárias. Em outros momentos, a gente percebe que uma pessoa que passa quase 100 anos tendo 17 anos não tem mesmo como se manter racional – vampiro ou não. Já outros momentos de ansiedade são bem relacionáveis, na verdade. E achei ótimo que quanto mais ele se relaciona com a Bella, mais ele se surpreende por ainda conseguir experimentar novas sensações humanas.

Existem várias informações novas, não só pela leitura de mente, que é uma parte importante. Como é outro ponto de vista, realmente alguns eventos não tinham como a Bella saber, e esses são os que mais adicionam camadas ao que vimos em Crepúsculo. Prefiro não entrar nas discussões sobre o quão errada são várias das atitudes do Edward, ou como esse relacionamento não é saudável – ainda mais porque é a primeira vez que os dois se apaixonam. Prefiro focar em como ele vê força e compaixão e várias características da Bella que ficam ocultas na narração dela.

Nos é mostrado mais dos Cullen e dos dramas adolescentes dos amigos da Bella – que ela mesma não notava. E foi ótimo isso tudo. Mas em algum momento, a repetição de sentimentos e pensamentos do Edward se torna cansativa; e eu ainda não me recuperei da cena do jogo de baseball… Que dura um capítulo inteiro, só o jogo, sem a parte do enfrentamento. Entretanto, o frenetismo perto do fim do livro recupera a narrativa e, quando terminei, tive vontade de reler Crepúsculo e Lua Nova. Era exatamente esse o sentimento que eu esperava, além daquele calor no coração da nostalgia.

Agora eu convido você a se aventurar por Forks de novo e dividir essa experiência comigo 🙂


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