Há como se desviar de spoilers na internet? Ou podemos, ainda, assistir a um episódio de uma série e aproveitar do nosso próprio jeito sem ter a experiência afetada? A resposta é: sim, podemos. Já não é mais novidade (para quem analisa de tal forma) que todos vivemos em bolhas virtuais, e felizes são aqueles chegam no final do dia sem a influência do Twitter, Instagram e outras grandes redes. Sou feliz, contudo, o golpe terminou sendo baixo. Não foi uma, duas ou três vezes que argumentei sobre como esta sétima temporada de The 100 (2014-) está estranha, mas finalmente, graças a Blood Giant (7×13) aquela farpa de madeira que incomoda na pele até inflamar, fez sentido.
Já faz pelo menos dois episódios que o show tem flertado sobre um adeus – com Indra (Adina Porter) e Murphy (Richard Harmon) na ponta da faca -, e junto disso, o retorno questionável e decepcionante de um personagem que tanto gostamos desde o primeiro ano: Bellamy (Bob Morley). E no episódio desta semana (depois de outro hiatus), a morte parecia estar presente para ceifar alguém importante – agora com a foice apontada ora para Indra, ora Raven (Lindsey Morgan). Claro que falarei da trama da vez, mas falar dessa questão antes reflete como Jason Rothenberg consegue estragar algo bom em poucos segundos, e pior, o quanto suas escolhas como produtor e showrunner pondera seu tratamento com o elenco e público: infantil, mesquinho, repetitivo e lamentável.
Vamos recapitular. A primeira grande polêmica se deu em Thirten (3×07), com a morte de Lexa (Alycia Debnam-Carey). O episódio foi importante, mas no desfecho, nos despedimos de forma tosca da personagem. A nota para tal acontecimento foi de que a atriz estaria saindo do elenco regular por ser promovida no mesmo patamar (regular) no cast de Fear the Walking Dead (2015 -). Dois capítulos mais tarde, com Stealing Fire (3×09), Lincoln (Ricky Whittle) também foi morto, e quando o ator falou da tragédia, afirmou que decidiu sair do show por sofrer bullying de um produtor (precisa nem citar o nome), logo, a resposta para o pedido foi a sentença com uma bala no personagem (a primeira foi em Lexa). Então, chegamos neste 7×13. Antes mesmo da estreia do ciclo atual, os fãs já se perguntavam onde estaria Bellamy, sendo que nem aparecia no pôster principal, e na premiere o moço foi colocado num misterioso desaparecimento.
Mas, quando então retornou em Etherea (7×11), o público logo bradou por arrependimento pela descaracterização que Bellamy apresentava. Quando Jason falou do afastamento pedido pelo ator Bob Morley por questões pessoais – o aborto espontâneo que Eliza Taylor sofreu – também informou que teve tempo para trabalhar a ausência do personagem conforme a trama, mas ninguém imaginava que renderia outra polêmica – sim, Bell morreu oficialmente desta vez. Porém, é claro um padrão aqui. Além da forma com que os personagens morrem (com uma única bala, peito, cabeça e agora coração), há o ponto de como outros se corrompem nessa trilha em que importantes personagens são mortos. No 3×09, Titus (Neil Sandilands) estava, mais do que nunca, obcecado em dar cabo em Clarke (Eliza Taylor), e a bala que seria pra ela, atingiu Lexa – desse jeito mesmo, a cena da novela CW. Com Lincoln, Pike (Michael Beach) potencializou seu antagonismo atirando no parceiro de Octavia, e aqui no 7×13, Clarke que apertou o gatilho. Ou seja, além de dar motivo para o público detestar Bellamy (tornando mais fácil a aceitação de sua morte) fez a protagonista feminina da série tomar uma decisão de forma fria. Pasmem.
Tinha jeito de não fazer? Claro! Mas assim como Titus e Pike foram peças para quem Jason queria se desfazer, aconteceu com Clarke. Como disse, o golpe foi baixo. E os diálogos na cena atingiram o ápice de hipocrisia para justificar a “escolha” – certo que os personagens são conscientes da hipocrisia que os moldaram, mas a coisa não foi genuína, mesmo para Clarke que já tomou várias decisões difíceis indo contra quem ama, mas o problema está na forma apressada e repetitiva como tudo aconteceu. Não tem mais o que fazer, mas aceitar também não é viável: Bellamy foi resumida numa pessoa que se perdeu e foi posta de lado friamente. Antes o fizesse sumido como Gaia, e ambos precisassem ser resgatados.
Mas antes disso, Blood Giant estava ótimo. A direção tinha reencontrado um equilíbrio de urgência que fazia os desdobramentos valerem a pena. Clarke arranjando um jeito de poupar Madi (Lola Flanery) das mãos de Bill (John Pyper-Ferguson), Emori (Luisa d’Oliveira) tentando salvar o povo no reator (isso sem saber que parte dos seus amigos estava em Sanctum), o papo descontraído entre Raven e Murphy. Além disso, a chegada de Bill foi direta ao confrontar Sheidheda (JR Bourne), o que garantiu momentos certeiros dos antagonistas, depois, o Dark Commander amarrado junto a Indra, em meio a alucinações da toxina do Sol Vermelho. Resumindo, este foi um episódio que conseguiu aproveitar os elementos em jogo e usá-los de forma tensa e inquietantes, e, finalmente, tirou o peso entediante que tem marcado o Planeta da Lua há semanas.
Infelizmente, Jason soube estragar tudo. Claro que ainda queremos ver o fim, mas que a sensação de decepção e desânimo está forte, é inegável. A medida que desenvolvia o que poderia ser a melhor fase da série, Jason já desenhava outra polêmica.
Últimos comentários:
100: tudo indica que vão para a Terra – como apontei na review anterior -, o planeta desativado na pedra onde os outros personagens foram jogados, e, certamente, é o lugar em que Gaia também se encontra.
99: nunca é demais rever Josephine (Sara Thompson).
98: Clarke matou Bellamy para ele não passar o caderno de Madi para Bill, e ainda assim, o diacho do caderno ficou no chão e dois Discípulos por perto – já imagino Bill com o caderno em mãos. Adiantou matar o homem?
97: sem saco para como vai ficar nossos mocinhos depois de Clarke confessar o que fez. Prevejo o espírito assassino ativo em Echo (Tasya Teles) e Octavia (Marie Avgeropoulos) depois de saberem.
96: Blood Giant em tradução livre é Gigante de Sangue, o que remete a como os personagens tiveram de lidar com questões envolvendo pessoas ligadas a si emocionalmente. Mas principalmente, o maior laço: o familiar – Clarke que o diga.
95: de novo Sheidheda foi poupado (e no que suspeitei, onde Clarke o usaria como bode espiatório para a mente de Madi não ser explorada, parece não fazer mais sentido já que não restou ninguém para que o Dark Commander requeresse submissão) e a boa sequência entre ele e Indea foi novamente desperdiçada com a insistência de mantê-lo vivo. Sanctum já enrola há tempos e se algum momento dos três episódios restantes voltarem para o lugar, só será mais do mesma para esta temporada.
94: é isso. O que acontecer até o fim, que seja. Foi bom enquanto durou.
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.