Você pode notar que este ano a Netflix está investindo mais do que o normal em filmes de ação. Um plano que provavelmente começou a ser desenvolvido no ano passado, está rendendo frutos agora e ainda contando com a sorte de ter sido beneficiado pela pandemia, afinal, se você tem que ficar em casa, é melhor que seja na companhia de um bom filminho para passar o tempo. O serviço de streaming começou a mostrar suas armas em Abril com o acelerado thriller de ação Resgate (Extraction, 2020) protagonizado por Chris Hemsworth e apadrinhado pelos irmãos Russo, hoje um dos filmes mais assistidos da plataforma, o mesmo ocorreu no mês passado com popular o The Old Guard (2020), adaptação em longa metragem dos quadrinhos de mesmo nome protagonizado pela bela Charlize Theron. E agora, sem mostrar sinais que vai desacelerar, nos apresenta o thriller de ação original Project Power ou simplesmente “Power” como foi nomeado aqui no Brasil, protagonizado por Jamie Foxx.
Este longa, que traz em sua premissa a história de uma droga misteriosa que começa a circular pelas ruas de Nova Orleans e que dá poderes durante um período de cinco minutos para quem a toma-la, é um blockbuster em menor escala ideal para este período de meio do ano, ainda mais com cinemas fechados em boa parte do planeta. “Project Power” é um filme bastante familiar, pois bebe da fonte dos super-heróis dos quadrinhos (X-Men) e lembra também a vibe de longas como Sem Limites (Limitless, 2011) e Lucy (2014), mas ainda assim o roteiro escrito por Mattson Tomlin consegue achar sua própria identidade ao trazer a trama para o gueto e distribuir a narrativa equilibrando o papel do trio protagonista.
O primeiro ato do filme é competente em apresentar seus personagens, ao mesmo tempo que cria um suspense em relação a droga “power” e o que ela pode fazer no sistema do usuário. Aqui acompanhamos três personagens: a jovem Robin (Dominique Fishback), que trafica o produto para tentar levantar um dinheiro para ajudar a mãe, o policial Frank (Joseph Gordon-Levitt) que usa os poderes dados pela droga para proteger sua comunidade local e Art (Jamie Foxx) que está na trilha dos líderes do esquema de distribuição e assim resgatar sua filha. São histórias diferentes que em algum momento se cruzam tomando um destino em comum.
A trama não foge muito daquilo que estabeleceu, à medida que o filme avança, descobrimos mais sobre a distribuição do produto e dos poderes que vão surgindo aos montes pelo caminho tornando a cidade Nova Orleans um laboratório ambulante de testes de super pessoas, principalmente criminosos que transformam o local num caos. O roteiro as vezes peca por não aproveitar muito o potencial de sua premissa, as sequências em que bandidos e mocinhos usam a tal droga, são muito boas, porém bem pontuais, talvez um recurso para economizar a grana do orçamento com efeitos visuais, mas mesmo assim mereciam cenas mais extensas para aproveitar melhor a ação.
Outro problema da escrita, é que as explicações são bem superficiais, descobrimos como a droga foi produzida através do vilão Biggie (Rodrigo Santoro), mas explicações mais aprofundadas sobre a empresa que produziu, ou como conseguiram sintetizar ela fica muito nas entrelinhas. Eu citei os vilões, estes também podem ser considerados outro ponto baixo, já que são bem estereotipados servindo apenas como antagonistas padrões em prol da narrativa, sem grandes vertentes ou desenvolvimento.
Ainda que tenha esses percalços, “Project Power” possui muitas características que podem ser apreciadas, uma delas é o elenco. Talvez o filme fosse menos interessante senão tivesse a presença do trio principal segurando as pontas, Jamie Foxx liderando a narrativa consegue transmitir carisma e segurança num papel que não exige muito, porém o ator domina bem. Joseph Gordon-Levitt em alguns momentos parece deslocado em cena, mas ainda assim seu personagem tem virtudes humanistas que o ator consegue passar em tela. E fechando o trio temos Dominique Fishback, talvez a grande surpresa do filme, a jovem atriz se sai muito bem no papel dessa garota que almeja ser rapper, mas não foge das responsabilidades ao assumir o papel de cuidar da mãe doente, tudo transparece em tela, pois a menina tem muito carisma e consegue aproveitar bem o destaque o roteiro da a sua personagem.
Em termos de produção, não temos muito o que reclamar aqui, o filme tem efeitos visuais bastante consistentes e caprichados, uma boa fotografia exaltando um visual urbano e peculiar de Nova Orleans, a trilha sonora do rapper Chika também é muito boa – aliás, as sequências de “freestyle” com Robin foram escritas por ele e são momentos bacanas no filme. A direção da dupla Henry Joost e Ariel Schulman me deixou um pouco dividido, as vezes é acelerada demais e com pouca personalidade, em outras demonstram boa consistência em entregar sequências de ação decentes e grandiosas.
No final das contas “Project Power” é um bom filme, não é extraordinário, mas é um filme de ação estiloso e muito bom de assistir, talvez com polimento maior poderia render um pouco mais, porém a história não deixa a desejar e mesmo tendo um final praticamente fechado, é possível explorar mais deste universo em futuras sequências. Este blockbuster entrega aquilo que prometeu, nem mais e nem menos, um thriller acelerado com boas sequências de ação e efeitos visuais, o bônus fica por conta da ótima atuação de Dominique Fishback, de uma forma geral o entretenimento é garantido aqui numa aventura ideal para quem busca algo descompromissado para assistir no fim de semana.
Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.