Septo (2016 -) é uma websérie potiguar – a primeira produzida e ambientada em Natal – totalmente financiada pelo Catarse e idealizada por Caboré, um coletivo e produtora audiovisual independente.
Com a questão da sexualidade como um dos pontos altos da série, acompanhamos Jéssica (Alice Carvalho), uma jovem triatleta com um futuro promissor. Logo no primeiro episódio da série, Jéssica recebe a notícia de que será convocada para as Olimpíadas, o que a faz passar mal em mar aberto, sendo, porém, resgatada por Lua (Pricila Vilela), professora de surf em uma ONG e que também é dona de uma lanchonete nas proximidades. Esse encontro levará ambas a repensarem suas vidas, desejos e questionamentos, especialmente para Jéssica que vive uma vida regrada por um pai altamente controlador.
A linguagem simples se comunica principalmente com o público jovem, o que torna fácil de se identificar com as questões da protagonista. Com um “gostinho” de coming of age, Septo aborda as dificuldades de lidar e de explorar a própria sexualidade e de como o autoconhecimento é importante para a formação da própria personalidade e identidade, particularmente nesse momento da vida em que é comum nos sentirmos perdidos dentro dos nossos próprios pensamentos, cheios de questionamentos e dúvidas sobre o que envolve as transformações na vida do jovem adulto.
A primeira temporada é muito breve e conta com apenas 5 episódios, com cerca de 8 minutos cada, os quais estão disponíveis gratuitamente no YouTube. A websérie levanta a bandeira da sexualidade, e a representatividade na equipe e elenco não poderia ser diferente. Desde a equipe de produção, até o elenco principal, a mulher nordestina e LGBTQI+ é representada em um dos Estados mais perigosos para a comunidade no Brasil. O GGB (Grupo Gay da Bahia) levantou uma pesquisa e concluiu que 43% dos homicídios da comunidade LGBTQI+ em território brasileiro, acontecem no Nordeste e o Rio Grande do Norte, onde a série se passa, é o quarto estado do Brasil com mais mortos em face da homofobia. Por isso, é tão importante a representatividade como forma de desmitificar a comunidade LGBTQI+ nas mais diversas formas de mídia em um país tão homofóbico.
Outro ponto forte da websérie é a sua qualidade técnica, fator que a elevou a premiações e festivais de nível nacional e internacional desde o Rio de Janeiro até BAWF em Buenos Aires e até na Alemanha. Mesmo cada episódio tendo sido dirigido por um diretor diferente, não se perde em linearidade ou se quebra o efeito do que a série quer passar através das escolhas técnicas. Já o roteiro, é dividido entre Aureliano Medeiros, Alice Carvalho e Frank Aleixo e conta com uma trilha embalada por artistas nordestinos, além do visual estonteante e praiano de Natal para ambientar os momentos da série.
Em geral, Septo é uma websérie muito boa e cumpre o seu papel de nos deixar ansiando para assistir o próximo episódio. Infelizmente, e mais provavelmente por conta do possível baixo orçamento, fez com que a primeira temporada da série fosse tão curta e com uma sensação de que poderia ter algo mais a ser explorado. Um padrão que, pelo visto, segue nas outras duas temporadas da série. Entretanto, isso não estraga a experiência e vale a pena assistir, não apenas pelo entretenimento, mas também para apoiar o novo cenário audiovisual brasileiro e independente.
A quem se interessar, a websérie Septo está disponível no canal no YouTube Brasileiríssimos, com a possibilidade de adicionar legendas em português (facilitando o acesso) e também em inglês, devido ao seu reconhecimento no circuito internacional.
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Estudante de Cinema e Audiovisual e extremamente taurina com ascendente em peixes. Apaixonada por musicais, Harry Potter e filmes de terror. Talvez um pouco perdida, mas tentando encontrar o seu lugar no mundo.