Harley Quinn: 2ª temporada – Mais violenta e apaixonada

A primeira temporada de Harley Quinn (2019 -) foi uma grata surpresa quando chegou e logo sua segunda temporada já foi confirmada, passando a ser muito aguardada. Com ares de 5ª temporada de Gotham (2014 – 2019), alguns toques de Batman Ninja (2018) e a pegada de Os Jovens Titãs em Ação (Teen Titans Go!, 2013 -), a história das HQs da Dama do Delírio segue sendo adaptada e volta com muito mais gore e beijo na boca, com direito até mesmo ao período que ela passou em Apokolips sendo sutilmente mostrado.

Gotham agora é Nova Gotham (e posteriormente se torna Nova Nova Gotham), oficialmente separada dos Estados Unidos e sob o domínio dos maiores vilões do Batman. No meio desse caos, nossa anti-heroína não tem muitas ambições e se preocupa apenas em jogar gasolina na fogueira que virou a cidade, até que os cinco que agora dominam o lugar mexem com ela: é aí que tudo começa de verdade.

Por enquanto, ainda não temos uma versão dublada da série, mas seu áudio original segue muito bem conduzido, todos os atores da temporada anterior voltam para reprisar seus papéis, inclusive Kaley Cuoco como Arlequina, Lake Bell como Hera Venenosa e Christopher Meloni como James Gordon, contando ainda com vozes novas como Brianna Cuoco (irmã da nossa protagonista), chegando como Batgirl.

Tudo na temporada se complementa bem, direção, fotografia e som trabalham juntos com sucesso e os personagens seguem fiéis a si mesmos. A animação melhorou, comparada à temporada anterior, para as cenas mais dinâmicas com movimentos ousados e bem animados, as acrobacias de Arlequina sendo mais usadas e os poderes de Cara de Barro melhor explorados, e com direito até mesmo a inserts 3D. 

O sangue volta jorrando com gosto e de formas mais criativas, assim como o humor ácido, do qual ninguém nunca é poupado: nem o universo da DC Comics, nem os super-heróis de um modo geral, nem a série em si e dessa vez nem mesmo os haters escaparam.

Uma coisa triste é que, com a desculpa de estar separada dos Estados Unidos, outros vilões passam a evitar a cidade e nem mesmo as participações bizarras e aleatórias de heróis esquecidos temos nessa temporada, mas isso não impede que tenhamos Darkside, Zatanna, Mulher-Gato, Tim Burton (não, você não leu errado) e até mesmo a ilha de Themyscira na tela.

Mas os produtores foram ainda mais corajosos ao criarem uma nova origem para a Batgirl; matarem dois vilões principais e icônicos do universo do Batman e nos darem um vilão final inesperado, mas que se sai muito bem. E, claro, o que todos esperávamos: finalmente temos o romance de Arlequina e Hera Venenosa sendo explorado! Segundo o que foi dito pelos criadores, o romance não aconteceu na primeira temporada porque o amor vem aos poucos e é confuso sentir algo assim por sua melhor amiga, o que é até uma desculpa boa para isso, mas não justifica em nenhum momento o namoro forçado de Hera com o Homem Pipa, vindo do nada e sem nenhuma química.

Somos presenteados também com um episódio focado na Bat-família e um flashback mostrando quando nossa palhacinha chegou a Gotham e começou a se relacionar com os personagens que já viviam ali. Mas, além de reconquistar Gotham, a temporada é sobre amor. Sobre o que acontece depois de um relacionamento abusivo, sobre se amar e se permitir amar outra pessoa e até mesmo a pessoa abusiva do relacionamento anterior aprendendo a como amar de verdade, sem crueldade ou joguinhos. O que, sim, pode acontecer, mas com o personagem em questão fica um pouco difícil de engolir.

O namoro de Hera e Pipa dita a temporada, tem algum significado, ao contrário da temporada anterior, conhecemos mais sobre ele e sua vida, o que o faz deixar de ser um personagem raso. Temos criado então um triângulo amoroso com a Arlequina, algo que eu pessoalmente não gosto muito, acho novelesco demais. Nada contra novelas, inclusive gosto. E fica ainda mais estranho porque em diversos momentos da temporada, vários personagens dizem que Hera odeia as pessoas, menos Harleen, mas não se fala do Homem Pipa. Tudo bem ela não odiar a melhor amiga, mas e o namorado? No fim, poderiam existir outras dezenas de motivos para impedir o romance das duas de acontecer rapidamente, como nos quadrinhos em que Hera quer se dedicar a sua causa antes de se dedicar a um relacionamento, ou até mesmo criar um par romântico que tivesse sido mais desenvolvido ou fizesse mais sentido, que não precisasse agora ficar a cada episódio nos dizendo “ei, mas olha, o Homem Pipa é legal”.

E com esse foco, a equipe tão carismática que demora tanto a se formar na temporada anterior, fica sem propósito em grande parte do tempo e os episódios agora passam a ser divididos em duas tramas para falar das duas e dos outros rapazes. Acaba que, individualmente, cada episódio é incrível, engraçado e divertido, mas, olhando no geral, a temporada parece uma colcha de retalhos. Arlequina não tem um objetivo claro até se focar em seu romance, que começa para valer mais para o meio da narrativa.

Tudo fica um pouco sem rumo. Supostamente ela deveria derrotar os cinco vilões que dominaram a cidade e tomar Gotham para si, mas, do nada, faltando ainda dois deles, ela está tomando cerveja em um bar como se nada estivesse acontecendo, como se não estivesse sendo caçada e um bar realmente pudesse funcionar tão bem e perfeitamente naquele cenário onde de longe a cidade literalmente é mostrada pegando fogo. 

A verossimilhança não é bem trabalhada na série e estraga nossa suspensão da descrença, que para quem não conhece o termo, é basicamente quando vemos uma coisa na obra e achamos ok, porque faz sentido naquele contexto, naquele universo. Por exemplo: se em um filme existirem gatos falantes, outros animais falarem não será tão estranho ou se o Superman voa, outros podem voar também.

Os cidadãos parecem viver suas vidas normalmente, indo ao banco, indo ao bar, mas se a cidade ruiu, foi separada do país e está sendo dominada por vilões e suas gangues, porque alguém se importaria em ir ao banco? Se a equipe da Arlequina, formada só de vilões quase não conseguia comida, como uma família do subúrbio seguia sua vida tranquilamente? Como bares e restaurantes funcionam normalmente com vilões atirando e batendo com tacos em todo lugar e a todo o momento?

Em algum episódio as coisas começam a voltar ao normal, mas não é mostrado como isso ocorre. Batgirl e Gordon conseguiram consertar tudo? Parece até que faltam episódios. Além de outras questões que não sabemos as repostas. Se na temporada anterior a Rainha das Fábulas prendeu a Liga da Justiça em seu livro, o que aconteceu com o resto do mundo sem eles? Se Gotham explodiu sem o Batman, o que poderia acontecer com o resto do planeta? Outros heróis assumiram? Não sabemos.

Além do que, temos agora mais algumas personagens femininas de destaque, ainda não tantas quando os homens, mas temos até mesmo um episódio só com elas, mas que poderiam ser mais recorrentes e mais amigas da protagonista. Não que ela seja obrigada a gostar de outras personagens só por serem mulheres, mas acaba ficando um ar de que só Arlequina e Hera são personagens femininas legais.

Harley Quinn continua uma série ótima e engraçada, seus personagens continuam muito bons, mas acaba se perdendo no meio com a pressa em mostrar para os fãs o que eles tanto querem e se esquece de ter uma história mais consistente, que olhe para si mesma.

Uma terceira temporada ainda não foi confirmada, mas o final da segunda deixa um grande gosto de quero mais e sim, queremos mais!


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