Greyhound: Na Mira do Inimigo – Uma missão falha

Quando se assiste a um filme de guerra, o que se espera é uma retratação de época que cause um certo tipo de imersão que te leve de volta àquela época da trama que está sendo contada. Existem filmes do gênero que são bastante competentes neste quesito como: O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998), Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima, 2006), Dunkirk (2017) e o recente 1917 (2019), todos esses tem um peso, uma carga dramática ampliada, seja pelas atuações do elenco, seja pela competência de seus diretores, pela fotografia ou trilha sonora que deixam uma marca em quem assiste. Por outro lado, existe filmes como Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020) que, apesar da estética caprichada, são muito insuficientes em termos narrativos.

O longa conta a história da embarcação U.S.S Greyhound, durante o transporte de suprimentos no começo da Segunda Guerra Mundial, em que o navio deveria proteger 37 embarcações até um local seguro para reabastecer os aliados no outro lado do Atlântico, mas acaba sendo alvo de um conjunto de submarinos alemães chamados de U-boats. Esta também marca a primeira missão do comandante George Krause (Tom Hanks) que tem que enfrentar um inimigo desconhecido e implacável, ao mesmo tempo em que tenta controlar sua tripulação para que possam cumprir a missão que lhe foi designado.

O filme dirigido por Aaron Schneider começa muito bem, estabelecendo a persona de George Krause, para depois começar a focar na sua missão comandando a embarcação Greyhound. O longa, escrito por Tom Hanks, é um filme que abre mão do peso dramático característico de um longa de guerra em detrimento da ação. Não há como negar o valor de produção de Greyhound, as embarcações, a fotografia pesada e cinzenta, a trilha sonora gratuitamente vibrante e as sequências de ação que evidenciam o melhor da pirotecnia misturados a efeitos visuais que o cinema pode oferecer. Assistindo na TV, o impacto certamente é menor, mas no cinema provavelmente seria bastante interessante de ver, porém ainda é possível se impressionar com as cenas de batalha dos encouraçados com os submarinos que vibram e fazem tremer a tela.

No quesito técnico o longa é impecável realmente, porém em termos narrativos ele mostra suas piores fraquezas. O roteiro escrito por Hanks é muito superficial, desenvolve até bem o personagem do comandante, suas motivações, seus desejos de se casar com a bela Evelyn (Elizabeth Shue), mas também mostra um homem comprometido com a missão e, mesmo se mostrando inseguro as vezes, se mantém como um líder integro e inspirador. Entenda, tudo isso é entregue de uma forma bastante competente por Tom Hanks, que cada vez se mostra mais maduro em papéis do tipo, sua atuação é boa o suficiente para segurar o filme inteiro. Porém, o resto do elenco não tem essa mesma sorte, o roteiro não dá espaço para o expectador conhecer as pessoas subordinadas a Krause e o filme perde muito com isso, atores como Rob Morgan, Stephen Graham e até mesmo Elizabeth Shue, poderiam ter mais espaço, mas entram e somem tanto de cena que você acaba nem lembrando do porquê estarem na trama, uma pena.

O maior problema de Greyhound é se perder em estabelecer um primeiro, segundo e terceiro atos. Enquanto o longa consegue inicialmente estabelecer a história, porém depois que chega na sua segunda metade não se tem respiro entre as sequências e quando você menos espera o longa acabou e os créditos estão subindo. A sensação de que está vendo algo episódico também é sentido e isso quebra um pouco a noção cinematográfica do filme. 

O roteiro bagunçado dá lugar a quebra de ritmo e o longa começa a se perder no próprio caos que criou, porém isso tudo é camuflado mais uma vez pelas excelentes cenas de ação, inclusive uma que fecha o terceiro ato e é bastante impressionante, porém não o suficiente para tampar os defeitos e deixar Greyhound com a sensação de incompleto quando é finalizado, assim que as coisas se acalmam fica o questionamento se valeu a pena ou não ter assistido a narrativa. 

No fim das contas este filme é mais concebido para ser um longa de ação do que um drama de guerra propriamente dito, se você como expectador, gostar de ação, talvez o filme seja suficiente, mas se gosta de um drama de guerra bem desenvolvido, Greyhound falha miseravelmente nesta missão. Ainda que a atuação de Tom Hanks seja muito boa e a produção do filme seja bem caprichada, o longa se perde em não estabelecer seus personagens (precisava no mínimo de uns trinta minutos a mais) e deixa um gosto bastante amargo para aqueles que adoram um bom drama ambientado na segunda guerra, porém todo o patriotismo norte americano pode ser visto de forma bastante explicita, isto deve agradar bastante os expectadores de lá, só não tenho certeza quanto ao resto do público espalhado pelo mundo. De uma forma geral, Greyhound: Na Mira do Inimigo fica no meio do caminho e acaba se tornando genérico dentro de um gênero que atualmente carece de tramas mais bem desenvolvidas.


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