Dunkirk – Um épico de guerra visceral

O ano é 1940, a missão de resgate era denominada Operação Dínamo, mas ficou popularmente conhecida como Evacuação de Dunkirk, onde tropas do Império Britânico, belgas e francesas estavam cercadas pelos inimigos alemães no início da Segunda Guerra Mundial em uma das batalhas mais famosas da história, não só pela sua importância geopolítica, mas também pelo impacto que a mesma causou na vida dos britânicos durante aquele período.
É através desta premissa verídica que o novo filme de Christopher Nolan toma forma, um projeto que o cineasta almejava realizar há anos, mas que somente se concretizou em 2017 quando o longa foi lançado em pleno verão norte americano cercado de expectativas do público e da crítica especializada.
O maior diferencial de Dunkirk (2017) é a maneira como o diretor escolheu para contar a história, o primeiro é que o filme trabalha em três linhas narrativas em períodos diferentes do tempo, uma hora no ar acompanhamos a jornada do piloto Farrier (Tom Hardy) tentando destruir um avião inimigo de forma a proteger embarcações de resgaste, um dia inteiro em alto mar acompanhamos a jornada de um civil britânico Dawson (Mark Rylance) que atende o chamado de seu governo e tenta resgatar os soldados no local que dá nome ao filme e uma semana na terra onde acompanhamos a jornada do jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) tentando escapar com vida, a qualquer custo, durante o resgaste na praia.
O segundo diferencial do longa é a forma como a ausência do som é usada para construir um suspense crescente, o controle de sonoridade é tão meticuloso e bem calculado que cria uma espécie de tensão constante em quem assiste num trabalho magistral de Hans Zimmer que assina a trilha sonora. Dunkirk é um filme que não explora a violência característica do gênero, ao invés de mostrar um banho de sangue e corpos mutilados como o filme O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998) e o recente Até O Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016), o diretor de Amnésia (Memento, 2000) e Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) prefere criar uma espécie de terror claustrofóbico que permeia toda a narrativa dando uma ênfase aos horrores da guerra através de um inimigo que nunca mostra o rosto em tela, dando a sensação de que o perigo pode vir de qualquer lugar.
Fica nítido que este é o trabalho mais maduro de Christopher Nolan, o diretor monta um quebra cabeça e deixa que o público encaixe as peças por conta própria, surpreendendo a cada segundo à medida que as três linhas narrativas vão se intercalando, ainda que o terceiro ato caia um pouco na armadilha de explicar demais correndo o risco de soar repetitivo. Outro ponto que talvez cause certa estranheza em certa parte do público é o fato de o longa não ter um protagonista definido e trabalhar mais com pessoas, em sua maioria anônimos, sem um maior aprofundamento de suas histórias e motivações, mesmo que a narrativa que se passe em alto mar tenha sido a mais desenvolvida na jornada de seus personagens, o espectador pode sentir falta de se identificar melhor com os personagens e se importar mais com suas trajetórias.
No geral,  Dunkirk é o frescor que o gênero de guerra necessitava; uma experiência cinematográfica única como poucas que precisa ser assistida na maior tela e melhor som possível, visualmente impecável e tecnicamente brilhante. Com oito indicações ao Oscars 2018 incluindo melhor filme e melhor diretor, é um longa que sabe ser um blockbuster moderno, ao mesmo tempo em que entrega um drama consistente mostrando a história de pessoas comuns capazes de feitos extraordinários, mas que em outros momentos sucumbem à sua própria humanidade quando o extinto de sobrevivência se sobressai à razão e ao bom senso.