Kipo e os Animonstros: 2ª Temporada – Há que endurecer, mas sem perder a ternura jamais

Lembra quando eu escrevi, NESSE TEXTO AQUI, que a era da representatividade chegou e que os conservadores devem correr para as montanhas? Então… Eu estava certo!

Acho bom você se apressar para assistir à segunda temporada de Kipo e os Animonstros (Kipo and The Age Of Wonderbeasts, 2020 -) que estreou em 12 de junho na Netflix antes de ler essa coluna, porque não tem como eu não soltar spoilers dado o nível de paixão que sinto por essa série. E se a primeira parte de Kipo foi uma enxurrada de fofura e aventura de alto nível, a segunda temporada não fica por baixo.

Pode me chamar de suspeito. Eu sentei pra ver esses novos episódios com a empolgação lá em cima! E não me decepcionei quase nada – ela não é perfeita, mas a gente vai chegar lá.

Nessa parte da aventura, a nossa protagonista tenta salvar o pai que foi sequestrado por Scarlamagne, o mandril falante que tem um plano para escravizar humanos e se tornar o rei do mundo da superfície. Durante o processo, Kipo ainda precisa aprender a controlar os poderes que a transformam em uma “mega-onça” e descobrir como extrair o máximo de si, para vencer o inimigo que já conhecíamos e os novos que se apresentam, dessa vez, humanos.

São tantas revelações nessa temporada que a gente até fica tonto com a quantidade de informações. Tem que permanecer atento pra não perder nada. E isso não é uma reclamação! Eu simplesmente adoro quando a trama caminha e, diferente de outras animações igualmente maravilhosas, das quais eu já falei aqui, Kipo não possui episódios “barriga”.

É muito fácil que você comece e termine os capítulos todos no mesmo dia porque a aventura simplesmente não para. Ela vai do início ao fim numa pegada contínua que faz parecer que o espaço entre um episódio e outro é o intervalo de três minutos que a gente era habituado a ver na TV aberta. Em cada um desses trechos de aproximadamente meia hora fazemos novas descobertas sobre o passado dos pais da Kipo, sobre como ela foi criada, porque ela tem poderes e qual é o destino da mãe dela, que todo mundo achava que tinha morrido de “catapora mutante”.

Não apenas isso, também descobrimos a origem de Scarlamagne, uma das mais gratas surpresas da animação. Certamente, você também vai sentir empatia pelo vilão e vai esperar que ele se regenere tanto quanto a menina Kipo esperava.

Mas talvez o mais importante a se dizer aqui seja que a principal característica desse desenho na primeira temporada se manteve com competência: o aprendizado sore a natureza humana. Kipo é uma garota tomada pela boa vontade. Ela me lembra outros personagens de animações mais antigas como EeK! O Gato (Eek! The Cat, 1992-1997), ou Sakura (Kadokyaputa Sakura, 1998-200), dadas, é claro, as devidas proporções.

O fato aqui é que Kipo está disposta! Ela quer ouvir, entender, aprender… E tentar resolver as adversidades da melhor maneira possível. A garota está absorvendo o máximo do mundo ao seu redor. Está se descobrindo, descobrindo a sua origem e ainda precisa ajudar os amigos, salvar o pai sequestrado e seu próprio povo. É meio complicado fazer isso quando você tem apenas 13 anos e não é um “cavaleiro de Athena”. Você precisa lidar com suas próprias complicações.

Não ajuda muito quando você descobre que sua mãe se transformou em macaco gigante pra salvar sua vida e quando os cientistas que deveriam ser amigos dos seus pais estão tentando matar você para “involuir” os animais cuja mutação os imbuiu de consciência. Esses “animais mutantes” do universo de Kipo expressam sentimentos, comunicam-se com os humanos e possuem, eles mesmos, suas questões sociais, antropológicas.

Foi justamente nessa investida que os pais de Kipo descobriram como misturar os DNA’s desses animais com seres humanos, o que originou a nossa protagonista – e o mandril falante que odeia os humanos porque foi abandonado à própria sorte por aqueles que o criaram.

A surpresa, por fim, fica na decepção da garota que descobre, da pior maneira, que nem sempre conseguimos salvar os renegados, mesmo com toda compreensão possível. Tal como na vida real, há aqueles que não querem se redimir e usam os traumas para justificar suas atrocidades, mesmo que elas beirem a barbárie. E esse é um dos grandes feitos da animação: esse paralelo verossímil com a realidade, onde nem sempre “tudo acaba bem” e que, vez por outra, nós nos decepcionamos com as pessoas por quem a gente se apega.

Tudo isso sem esquecer da Loba, que precisa continuar amadurecendo seu modo de se relacionar e de se aproximar dos amigos, de trabalhar sua confiança depois dela ter sido destruída pelos lobos que a criaram e, claro, Benson e Dave, maravilhosos, mostrando pra gente que mesmo a mais bem estabelecida amizade às vezes estremece e que nem sempre nós somos a melhor versão de nós mesmo – e tá tudo bem. E eu nem falei aqui que Benson arranjou um namoradinho e que essa descoberta entre eles é a coisa mais fofa! Os autores continuam tratando as relações homoafetivas de maneira natural e mostrando elas como qualquer outra relação romântica adolescente deve ser: desajeitada e despretensiosa. O sogro do Benson é uma graça!

A única coisa que me entristeceu um tiquinho foi a falta de canções que apareceram pouquíssimas vezes. Talvez – eu reforço, TALVEZ – ser tão parecida com a temporada anterior tire um pouco da magia da série, uma vez que já sabemos pelo que esperar quando apertamos o play. Ou talvez esse seja eu querendo dizer que consigo enxergar defeitos no desenho, mesmo que eu tenha amado tanto.

Kipo e os Animonstros é uma parceria entre Netflix e Dreamworks, possui duas temporadas até agora com 10 episódios cada uma. No elenco original estão estrelas como Karen Fukuhara, de Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), Sterling K. Brown, de Pantera Negra (Black Panther, 2018) e Dan Stevens de A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 2017) e Legião (Legion, 2017-2019). Roteiro e produção são de Bill Wolkof e Radford Sechrist. O brasileiro Caio Martins é o responsável pelo design de personagens.


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