8 álbuns da primeira metade de 2020

Todos já sabemos que a arte tem sido um dos maiores alívios para esta época de isolamento social. O que seria de nós se não tivéssemos nossos filmes, séries e, claro, música, tanto pra distrair quanto pra refletir sobre a situação que nos assola. E não estou falando apenas das já recorrentes lives que pipocam a torto e a direito e estão dando o tom das festinhas virtuais, mas também dos lançamentos que muitos músicos estão liberando neste período. Desde fevereiro muita coisa interessante surgiu, então preparamos essa lista que vai do Pop ao Rap Nacional.


Tame Impala – The Slow Rush

(14/02)

Tame Impala é a ideia de Kevin Parker, que escreve, produz e grava praticamente toda a música lançada pelo pseudônimo. Seguindo o álbum de 2015, Currents, não seria uma tarefa fácil. Apaziguar aqueles que ainda se apegavam à possibilidade vaga demais de um retorno às raízes psicodélicas e mais movidas pela guitarra de Innerspeaker (2010) e Lonerism (2012) seria uma tarefa mais árdua. Apesar disso, Parker optou por apenas continuar seu namoro com um estilo mais pop inspirado na banda setentista Supertramp.

Para aqueles que ainda persistem na procura do som mais psicodélico conhecido do Tame Impala, ainda existem resquícios como em “Tomorrow’s Dust”, que é guiada por um violão hipnotizante ao longo da música, mas toda vez que pensamos estar voltando para o ano de 2012, somos rapidamente recapturado pela vibe pop dos anos 80. O que me faz pensar no talento enorme do Kevin Parker de conseguir coincidir dois gêneros conflitantes num só álbum. Outra coisa conflitante, é o jeito como as letras das músicas vão meio que perdendo sentido após algumas reproduções, menos “It Might Be Time”, que é um hino para jovens indecisos no meio dos seus 20 anos.

Uma coisa que o álbum falha, no entanto, é alcançar os altos estratosféricos dos trabalhos anteriores de Parker. Não há solos de “Endors Toi” para falar, nem guitarras vibrantes de Innerspeaker, nem “Let It Happen”. Sim, é verdade que o álbum é provavelmente mais consistente que o Currents, no entanto, quando seus esforços em Currents atingiram, eles atingiram muito mais do que em The Slow Rush. É ótimo, sem ser excepcional.

No geral, eu pessoalmente adorei The Slow Rush. Infelizmente, correndo o risco de parecer um pouco sentimentalista que é incapaz de lidar com a mudança, não posso deixar de olhar para o passado sem um certo carinho nostálgico. O Slow Rush era tudo o que eu esperava que fosse, com sua produção nítida e músicas envolventes, mas nada me fez “vibrar”, como foi o caso dos álbuns anteriores.

Por Tatiana Ferreira


Djonga – Histórias da Minha Área

(16/03)

“Djonga é apelido, eu me chamo Gustavo, agora pode falar que o brabo tem nome” dispara Gustavo Djonga na faixa “Gelo” num disco que vem pra reforçar esse pensamento.  Histórias da Minha Área, o novo capítulo na carreira de Djonga vem com uma das melhores capas da história do Rap Nacional, na sequência do ótimo disco Ladrão (2019) o CD mantém o padrão de qualidade, com toda a falta de papas na língua e a sobra de técnica de rima do rapper mineiro, vem falando da própria ascensão social e financeira, e os problemas que vem com elas (afinal mo’ money mo’ problems) sem deixar o viés político que o consagrou, abordando até o sentimento sobre o nascimento de sua filha onde ele mostra sua sensibilidade e versatilidade, quase todas as faixas vem assinadas pela produção do Coyote Beatz mas o destaque na questão do instrumental fica para “Amr Sinto Falta da Nssa Ksa” produzida por Renan Saman, faixa que encerra um ótimo disco onde Djonga mostra, mais uma vez, que pode ser romântico e sentimental sem deixar de tacar fogo nos racistas.

Por Hugo dos Santos


Dua Lipa – Future Nostalgia

(27/03)

O segundo álbum de estúdio da cantora britânica Dua Lipa, Future Nostalgia,  veio para mostrar como ela conseguiu atender às expectativas do mundo pop e se reinventar. Uma vez que sua estreia trouxe muita atenção para o que viria após os sucessos de seu primeiro álbum Dua Lipa (2017) com músicas como “New Rules”, “IDGAF” e “Hotter than Hell”. Nesse novo álbum ela explora o pop com referências da era disco, bebendo de inspirações em Gwen Stefani, Blondie e Outkast. O título, além de ser sugestivo, acaba por se tornar bastante óbvio e funciona como um adjetivo ou resumo para caracterizar a sonoridade ali construída.  As músicas possuem um sentimento nostálgico ao mesmo tempo que trabalha com sintetizadores e sonoridades já presentes em suas músicas. A nostalgia é explorada pelo mercado quase como uma tendência que se reflete não só na música, como também na moda e na produção artística como um todo. E é através desses novos usos, de releituras,  que se cria uma estética futurista. E isso é bastante positivo uma vez que ela demonstra coesão e conhecimento sobre  o que isso tem a acrescentar às suas canções.  Destaques para os singles “Don’t Start Now” e “Physical”, e pras músicas “Levitating” e “Hallucinate”.

Por Pedro Palácio


5 Seconds of Summer – CALM

(27/03) 

Depois do anúncio em fevereiro, a banda australiana 5 Seconds of Summer lançou o quarto álbum de estúdio no final de março. Composto por 12 faixas, já conhecíamos aos menos cinco singles que bombaram no ano passado: “Teeth”, “Easier”, “Wildflower”, “Old Me” e “No Shame”  — com o primeiro fazendo parte da trilha sonora da 3ª temporada de 13 Reasons Why (2017 – 2020). De tranquilidade, o disco não tem nada. O título de 4 letras se refere a junção das iniciais dos integrantes e ao mesmo tempo funciona como uma celebração da trajetória dos membros, e também, uma vez que o álbum combina uma influência do pop rock dos anos 90 e 2000 com a pegada do pop. O resultado é uma valorização de guitarras e inserções de batidas eletrônicas e altos vocais de Luke Hemmings. Como de praxe, as letras falam de coisas bem específicas e reflexivas. Se na faixa de abertura “Red Desert” cantaram uma consumação de amor explosiva de viver, na segunda “No Shame” jogaram a crítica sem vergonha sobre a busca exasperada pela fama e sucesso e o retorno da mídia para isso. Em “Old Me”, aquela pausa a respeito de olhar para si, a pescada no passado, no que tem feito. Nas demais músicas, a banda divaga sobre relacionamentos incertos (“Easier”) términos, o lado doce, as mentiras brandas que contamos para não magoar (“Thin White Lies”) e até falam da maneira daltônica de enxergar como se relacionam. Em suma, o álbum é contagiante de ouvir, e certamente uma das melhores fases da banda que juntou 12 faixas pulsantes que embalam com ritmo e batidas.

Por Felipe Oliveira


Fiona Apple – Fetch The Bolt Cutters

(17/04)


Oito anos. Foi o tempo que se passou desde que a nova iorquina Fiona Apple havia lançado seu último disco, o When The Pawn Hits The Conflicts He Thinks Like A King What He Knows Throws The Blows When He Goes To The Fight And He’ll Win The Whole Thing Fore He Enters The Ring There’s No Body To Batter When Your Mind is Your Might So When You Go Solo. You Hold Your Own Hand And Remember That Depth Is The Greatest Of Heights And If You Know Where You Stand. Then You’ll Know Where To Land And If You Fall It Won’t Matter, Cuz You Know That You’re Right (sim, o nome do disco é um poema inteiro). Mas foi só em 2014 que eu a descobri, após me apaixonar instantaneamente por sua voz no tema de abertura da série The Affair (2014 -). Em seu novo álbum, Fetch the Bolt Cutters, a cantora traz ainda mais forte a intimidade que tanto havia me chamado atenção em seu trabalho anterior. Não apenas nas letras, como já é de costume, mas apresentando essa intensidade também no acompanhamento de seu piano, quase perceptivelmente tocado com força tamanho o uso de notas graves;  da incomum, mas certeira, percussão utilizada (às vezes tenho certeza que são panelas); mas especialmente por sua voz estridente, muitas vezes usando quase todo o fôlego possível, como se a canção estivesse entalada em sua garganta. Parece caótico, e talvez seja mesmo, afinal não é comum ouvirmos cães latindo enlouquecidos em uma música, mas nossos sentimentos são caóticos, e são seus sentimentos que Fiona está nos entregando na forma de sua obra. Em Fetch the Bolt Cutters Fiona Apple se confirma, em minha opinião, como uma das artistas mais inventivas e potentes das últimas duas décadas.

Por Elvio Franklin


The Strokes – The New Abnormal

(10/04)

The Strokes sempre foram definidos, para o bem ou para o mal, pelos seus dois primeiros álbuns icônicos, Is This It e Room on Fire. Esses álbuns catapultaram a banda diretamente para o status de “salvadores do rock” no início dos anos 2000. No entanto, essa reputação não foi mantida nos três próximos discos, que nem de longe tiveram o mesmo sucesso. Na minha opinião, os dois primeiros álbuns soavam muito parecidos e, após algum drama entre bandas (o trabalho solo do Julian Casablancas), eles decidiram quebrar o molde dos dois primeiros álbuns com estilos diferentes. Algumas pessoas gostam de bandas que têm um som consistente, mas sou da opinião de que as bandas devem mudar com o tempo. É uma progressão natural. Então, aqui estamos sete anos depois e minha grande pergunta para este álbum foi “Quanto eles mudaram?”

Bem, eles mudaram muito. Todas as músicas ainda possuem aquele som distinto do Strokes, com a guitarra dupla intercalando entre intervalos, letras cativantes e o “groovy bass”, que como baixista é algo que sempre me atenta na banda, mas cada música tem seu próprio estilo único, que confere ao álbum uma variedade incrível de sons que nenhum de seus outros álbuns sequer tentou alcançar. Certamente, existem algumas músicas que parecem inspiradas em outros álbuns do catálogo do The Strokes, como é o caso da faixa inicial do álbum, “The Adults Are Talking”, que com seu tempo bastante rápido e repetitivo remete direto ao início de Room on Fire, mas mesmo essas músicas têm um estilo novo que as torna muito mais do que apenas uma jornada pelo passado da banda. Este álbum é um passo ousado para o futuro da banda e você pode realmente sentir toda a criatividade que eles criaram ao longo dos anos.

Por Tatiana Ferreira


Froid – Oxigênio (Corona Disco)

(22/05)

O disco abre com uma literal busca por ar na intro que antecede a ótima faixa “Best Friend”, a melhor faixa do disco e que da o tom da produção, Oxigênio (Corona Disco) de Froid vem para acalantar o período que passamos, um disco suave e leve de ouvir onde Froid desfila todo seu estilo característico enquanto fala sobre a vida, sua história e sua visão de mundo, um bom destaque do disco são as participações, Cynthia Luz em “Best Friend” e “Inverno”, Clara Lima em “O Mundo É Mal”, os irreverentes e criativos Hot e Oreia em “Seu Edson” e o sempre ótimo Rincon Sapiencia em “Tio Phill”, tambem participam do disco Sampa e Santzu, pra quem ta ansioso e estressado é um bom disco pra ouvir e relaxar enquanto passamos por esse período conturbado.

Por Hugo dos Santos


Lady Gaga – Chromatica

(29/05)

O sexto álbum de estúdio de Lady Gaga veio para reforçar sua força enquanto um grande nome da música pop. A cantora se reinventa mais uma vez mostrando seu poder camaleônico como os ícones David Bowie e Madonna. Gaga bebe da onda de nostalgia da era disco e trabalha com experimentações que trazem a resposta da pergunta: “Se Born This Way (2011) e Artpop (2013)  tivessem um filho?”. O rosa é algo muito marcante dessa era e serve como disfarce para a atmosfera punk da mensagem progressista da criação de um novo mundo, um novo olhar sobre si e sobre os outros. Gaga se apresenta como uma guerreira punk que usa a bondade como arma e que se mostra bastante coerente  com o universo que ela cria e seu ser político. As letras trabalham sua relação com o amor, fama, traumas  e dor, tudo isso embalado por uma batida dançante que atende o público que quer apenas se jogar na pista e o que busca por composições. As colaborações de Ariana Grande, Black Pink e Elton John apenas comprovam que Gaga nunca será óbvia em suas escolhas e por mais que possa surgir a dúvida de como algo pode funcionar ela trará a resposta. Gaga domina as camadas de leitura em suas composições, esse álbum é de muita dor mas também de muita celebração. “I rather be dry, but at least i’m alive.” Existe algo doloroso em mudar a forma que vemos as coisas, em ressignificar, mas depois da dor o que nos resta é a vida. E se pudermos dançar que o mundo seja essa pista de dança.

Por Pedro Palácio


Alguns outros álbuns que merecem sua atenção:

Letrux – Letrux aos Prantos (13/03)

Childish Gambino – 3.15.20 (22/03)

Academia da Berlinda – Descompondo o Silêncio (27/03)

Baco Exu do Blues – Não Tem Bacanal na Quarentena (31/03)

Mateus Fazendo Rock – Rolê nas Ruínas (24/04)

Gilberto Gil e BaianaSystem – Gil Baiana ao Vivo em Salvador (30/04)

Milton Nascimento e Criolo – Existe Amor [EP] (08/05)

Adriana Calcanhotto – (29/05)