O Preço da Verdade – O peso da exposição

Dirigido pelo consagrado Todd Haynes, o enredo de O Preço da Verdade (Dark Waters, 2019) se inspirada na história real de Robert Bilott e no artigo do New York Times ao qual Nathaniel Rich falou sobre o grande caso que tornou Bilott conhecido: o processo contra DuPont. Chega a ser engraçado quando o filme anuncia “baseado em fatos reais” podemos esperar por algo protocolar, mas que só por isso já um fator a ser considerado com relevância. Ter esta estima não é sinônimo de que sempre teremos um resultado exemplar, porém, Dark Waters garante com peso a entrega da sua história, ainda que com altos e baixos.

Mark Ruffalo é quem vive o advogado de defesa corporativa Bilott, que num momento de conforto em sua carreira em casos de empresas químicas, recebe o pedido desesperado de um fazendeiro que vê toda sua conquista com gado desfalecer, apontando que a acelerada tragédia esteja ligada às práticas de uma grande corporação que vem liberando lixo tóxico em sua propriedade. A descoberta tem um efeito tão obscuro que aquece por anos, afetando sua saúde, profissão e principalmente a família.

O objetivo de O Preço da Verdade é simples: trazer a adaptação de um caso que ainda desperta cautela quando se trata da DuPont. Nesse caminho, a direção de Haynes toma um rumo carismático e empolgante — ainda que a montagem de Affonso Gonçalves defina um ritmo lento para narrar essa trajetória acirrada na justiça — ao traçar uma linha de informação que choca e adverte acerca do caos ambiental causado pela DuPont e o quanto a população foi minuciosamente afetada por despejos químicos em tudo que poderíamos consumir: água, a frigideira antiaderente, os materiais básicos que compõem nossas casas, o veneno. Como consequência, mais de 3000 pessoas com resíduos de C8 (ácido perfluorooctanoico) no sangue foram confirmadas, o que levou a doenças como câncer no rim, testículos, alto índice do colesterol, e outras fatalidades a saúde – leia mais sobre a polêmica aqui.

Acompanhando o tom lento, a cinematografia de Edward Lachman fez um belo trabalho com a fotografia alternando entre um filtro gélido e na cor âmbar. Assim como apostou em planos abertos na passagem de tempo em que Bilott fora investigando a corporação, e utilizando de planos mais fechados quando precisava transmitir a pressão que o personagem sofria dado os anos que o processo se estendia, a apreensão por temer por sua vida e na luta ter tanta gente envolvida esperando um desfecho.

Apesar da sintonia de ritmo e fotografia, a atuação de Ruffalo destoa pela sua notória inexpressividade: a cara de tacho de quando tá feliz, tá entusiasmado ou recebe notícia ruim uma após a outra – e nos momentos que contracena com Anne Hathaway fica ainda mais evidente. E mesmo com a função de falar do caráter tortuoso e perigoso da Dupont, o texto de Dark Waters peca por se apresentar tão didático e repleto de frases de efeitos em vários trechos, diminuindo assim o impacto que poderia ter só pelos fatos que trouxe. Frase como: “o sistema é corrupto” que o  personagem de Ruffalo solta como se tivesse num discurso…

Entre caídos e feridos, O Preço da Verdade falha por apelar para arcos dramáticos que não alcançam uma tradução emotiva ou rica em intensidade que a cena em si quer demonstrar. Contudo, as inconsistências ainda deixam um pedaço da torta para chegarmos no final sabendo da relevância e reflexões que a história conseguiu levantar, mesmo que de maneira lenta, fazer a audiência não perder o interesse.