Por Lugares Incríveis – Aquele filme que você já assistiu

Há menos de um mês, fomos apressados assistir Para Todos Os Garotos: P.S Ainda Te Amo (To All the Boys: P.S. I Still Love You, 2020), ainda assim, dentre muitos outros títulos do gênero, a Netflix não cansa de trazer mais um filme com a cara daquele que já assistimos várias e várias vezes em produções diferentes. Mesmo com a temática de Por Lugares Incríveis (All the Bright Places, 2020) sendo considerada para maiores de 16 anos, sejamos sinceros: não há nada que não tenhamos visto aqui, mas vale a pena ver de novo?

A história adaptada do livro homônimo de Jennifer Niven (que também foi roteirista ao lado de Liz Hannah), traz Violet Markey (Elle Fanning) e Theodore Finch (Justice Smith), dois adolescentes que em meio às complicadas situações de suas vidas, vêem a chance de se ajudarem, enquanto lidam com as inevitáveis contestações que surgem no caminho.

Poupando a troca de olhares em algum momento aleatório, ou a esbarrada no corredor do colégio para depois descobrirem que têm muito em comum, o longa dirigido por Brett Haley faz essa união já destacando os turbilhões de sentimentos que ambos compartilham: a tragédia emocional, o abalo psicológico e tão desgastante para alma. Para Violet a dor do luto, para Finch, a depressão. Dentre tantas diferenças entre a obra literária e a adaptação, o ponto de partida se mostrou um acerto, mas ao mesmo tempo, apontava para um dos maiores problema da história: o péssimo desenvolvimento de Finch.

A maneira que ele se aproxima diz muito sobre sua personalidade e como o enredo o trata: de maneira impulsiva e ansiosa, repleto de boas intenções, mas também egoísta pelo luto que a garota está passando. De alguma forma, Finch acredita saber do que Violet precisa, é simplesmente invasivo enquanto vemos o romance desleixado ser jogado com a dupla que mal exala carisma em tela. Para um filme focado no público jovem e na abordagem de temas como luto e saúde mental, falha por trabalhar de um jeito superficial as questões que rodeiam Theodore até chegar ao ato final da história: o garoto é instável, ansioso e apresenta uma constante dificuldade para se manter seguro com seus relacionamentos, mas é perceptível a falta de informações que talvez dessem mais valorização para a proposta.

Ao menos a atuação de Justice faz jus a um adolescente conflitante no seu próprio meio e com altos e baixos nas emoções, assim como Fanning, que transmite bem uma garota tão presa no trauma e luto que não considerava atitudes que pudessem fazê-la melhorar. O problema é quando eles precisam ser um casal e lá vai o longa transitar entre cenas bonitinhas e lugares tão emblemáticos que tornam a experiência dos apaixonados especial. O que faz tais cenas serem agradáveis é a fotografia de Rob Givens que acerta na estética leve e simples e nos enquadramentos. Dando um up a esta cinematografia, a trilha sonora de Keegan DeWitt é outro aspecto que surpreende aqui, sendo do tipo que faz falta quando silenciada.

Oscilando entre os acertos e tropeços, Por Lugares Incríveis detém a mensagem sobre lembrarmos de viver a vida mesmo com todos os embaraços. E no espaço mais escuro de nossas questões, optarmos falar do que nos aflige. Mas a maior implicação é carregar o perfil de tantos filmes juvenis que transitam sobre tragédias, adolescentes que se apaixonam e passam por cima disso e depois vem o final tocante capaz de extrair nossas lágrimas. Nisso, acaba caindo no dilema de quando o livro continua sendo melhor que a adaptação que afunila um fator e outro que conseguiria manter a essência estabelecida no material de origem. Por tantos lugares incríveis que a produção nos fez passar, a sensação da estrutura formulada do longa é que acabamos voltando para um ponto comum desse universo compartilhado de mesmices que não se aprofundam.