Pode-se dizer que eu sou uma grande defensora da Netflix. Principalmente quando alguém questiona a qualidade das séries originais do serviço de streaming. Claro que nem todas são realmente boas. Mas, acredito que quando se coloca na balança, muitos projetos conseguem se sobressair sim, como Stranger Things (2016 -) e Sex Education (2019 -) por exemplo, mesmo aqueles que são cancelados por falta de audiência, como é o caso de Everythings Sucks! (2018)
Mas, não é porque eu defendo que eu também não reconheço os erros e os defeitos, o modelo mais comum de lançamento da Netflix, meio fastfood – sem muita substância, feito para ser devorado rápido, as famosas maratonas – acabam prejudicando muito suas séries, que desperdiçam plots interessantes e personagens que poderiam deixar marcas muito maiores na cultura pop como um todo, isso aconteceu com Trinkets (2019 -) e Daybreak (2019) e, de certo modo, também é um dos motivos pelo qual I Am Not Okay with This (2020 -), série recém estreada, seja boa, mas não tão boa quanto poderia ser.
Quando a série foi anunciada a internet não se aguentou e começaram os memes a respeito da temática que, realmente, parecia não passar de mais uma tentativa de repetir o inegável sucesso de Stranger Things usando das mesmas ferramentas: nostalgia, crianças em desenvolvimento e acontecimentos sobrenaturais. Muitos ainda ressaltaram que era uma mistura da série do mundo invertido com o remake de It: A Coisa (It, 2017) e o elenco de I Am Not Okay with This ser protagonizado não por uma, mas duas crianças do filme com certeza não ajudou muito nessa primeira impressão.
Não fossem as críticas, talvez o trailer até tivesse passado direto por mim, mas não passou e agora que terminei de maratonar a primeira temporada posso dizer que I Am Not Okay with This é boa, é leve, e provavelmente esquecerei da série antes do final de semana chegar. Infelizmente.
Infelizmente porque o problema não está na história. Embora os conflitos não sejam os mais inovadores e imprevisíveis do mundo, ainda assim são bem competentes em fazer a narrativa caminhar, os personagens são minimamente cativantes e as atuações são boas. A obra é uma adaptação de um quadrinho de mesmo nome publicado em 2017, criado por Charles Forsman, mesmo autor por trás de The End of the F***ing World (2017 – 2019) (que também virou série para o streaming e curiosamente, também não consegui gostar tanto) eu não tive acesso ao material original então não tenho como julgar se é fiel ou não ao quadrinho, mas é seguro dizer que I Am Not Okay with This não se dá tempo e por conta disso, não encontra seu ritmo e seu tom, sobrando pouca coisa fora a trilha sonora fenomenal.
Não há tempo para realmente se identificar e se emocionar com as histórias dos personagens, existe um certo humor na série que nunca consegue realmente se firmar e os episódios curtos facilitam a maratona mas não ajudam no desenrolar da trama, só a deixam muito apressada, a isso se junta alguns artifícios que dificilmente me agradam, como a narração excessiva da protagonista, explicando e reforçando coisas que estão sendo ditas de outras maneiras em tela e uso de fragmentos de cenas anteriores, que funcionam como flashbacks da personagem principal, repetindo cenas que às vezes acabamos de ver, principalmente se vista no formato de maratona. Essas coisas acabam mastigando a mensagem para quem está assistindo e acaba empobrecendo o resultado final, o que não é necessariamente um problema se você estiver procurando algo interessante para assistir sem desgrudar os olhos da timeline do twitter, mas que não deixam de ser uma pena quando se tem tanto potencial no elenco e na história.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.