A série original do serviço streaming DC Universe Titans (2018 -) teve em 2019 a estreia de sua segunda temporada, com episódios lançados semanalmente no serviço ainda indisponível no Brasil. Após o final bem anti climático da primeira temporada, a série continua a narrativa sobre a vinda de Trigon para este mundo enquanto ainda foca no processo de descobrimento dos poderes de sua filha, Rachel (Teagan Croft). A verdadeira razão da primeira temporada ter sido marcada por um final extremamente fraca é pela razão de o último episódio da temporada não ter sido de fato um final para nenhuma das narrativas.
Isso se tornou ainda mais evidente com o lançamento da segunda temporada, cujo primeiro episódio não se solidifica como um episódio de início de temporada mas sim um para concluir os arcos da primeira temporada e dar um gostinho do que viria na segunda. O combate entre Rachel e Trigon poderia ter sido um final ótimo para a primeira temporada, mas levar um ano inteiro para haver esse confronto, mas que não durou o tempo suficiente para realmente significar uma temporada inteira para acontecer. Mas a personagem de Rachel se tornou uma das coisas boas e bem desenvolvidas ao longo da segunda temporada, aprimorando mais seus poderes e descobrindo mais sobre eles.
Enquanto a proposta inicial da série era uma formação da equipe conhecida como Titãs, a segunda temporada ignora muito disso e estabelece o time como algo já existente e abandonado. A mesma temporada opta por dar protagonista ao personagem de Dick Grayson (Brenton Thwaites) e sua longa jornada para deixar o manto de Robin para trás e se tornar o Asa Noturna. Conectar a história de Dick com o antagonista principal da temporada, Slade – Exterminador, interpretado por Esai Morales – foi uma escolha extremamente fiel aos quadrinhos mas não deixa de se tornar maçante.
Uma das maiores falhas da segunda temporada é se prolongar demais em um enredo muito desnecessário, sobre como os antigos Titãs haviam se separada e sobre o foco nessa equipe e em todos esses personagens brancos e sem poderes. Uma forma mais resumida de um passado teria sido bem melhor recebido. Arrastar a série por mais de um episódio de flashback, com personagens bem menos carismáticos do que os supostos protagonistas, se mostrou uma escolha bem ruim por parte da equipe da série.
Necessário ressaltar um dos pontos positivos da trama e da produção, a existência dos personagens Jericho e da personagem Rose. Ambos são filhos do antagonista da série e inimigo mortal dos Titãs desde sua “primeira versão”. Jericho foi interpretado por Chella Man, um ator surdo e também trans, cuja personalidade e o carisma capturam totalmente o personagem de Jericho. É importante ter uma série baseada em quadrinhos ter um personagem interpretado por um homem trans de descendência chinesa e judia, barreiras ainda bem presentes no universo geek.
Chelsea T Zhang dá vida a outra cria de Slade Wilson, Rose, com um passado misterioso que se encontra em caminhos cruzados com a equipe dos Titãs. A personagem não só é interessante mas suas sequências de batalha são muito bem elaboradas e ótimas de se assistir, mas o enredo falha em lhe fazer justiça ao longo da temporada. O enredo ainda falha em fazer justiça a personagens como Rose e também à Kory – interpretada pela magnífica Anna Diop – em detrimento à história de personagens brancos e sem poderes.
Quanto a Kory e Gar (Ryan Potter) ambos terminam muito colocados de lado em meio a uma trama repetitiva sobre os personagens sem poderes não sendo capazes de superar o passado. A história de Kory se estende ao longo da temporada, com espaços bem grandes e sem uma maior atenção mas indicando uma continuação na temporada seguinte. Enquanto isso Gar ganha um certo destaque quando se apresentam os antagonistas secundários e a narrativa do Superboy (Joshua Orpin).
O universo DC nos trouxe uma série com um incrível potencial, mas cujas escolhas optaram por persistir em erros de narrativa tornando a história menos interessante. Nos apresentaram muitos personagens, escolheram dar o foco aos personagens menos interessantes e necessários para ganhar foco. Enquanto o Exterminador se fez um vilão bem mais memorável do que Trigon e com uma presença bem mais sentida ao longo da temporada, ainda falhou em estabelecer um foco adequado para o fazer um verdadeiro antagonista.
Uma das coisas mais criticadas durante essa temporada foi a presença do Bruce Wayne, interpretado por ninguém menos do que Ian Glen, da série Game of Thrones (2011 – 2019). É importante reconhecer a presença de um Batman mais velho, não tão musculoso e forte já que o personagem vem sendo representado da mesma forma desde a década de 70. Por quê o homem morcego não pode envelhecer? Essa é a série sobre os jovens heróis e sua jornada como uma equipe, nada melhor do que apresentar os heróis como mentores.
Interessante também o fato de termos sempre o Bruce, nunca de fato o Batman, o pai de Dick Grayson – o protagonista da temporada. Um dos outros destaques da temporada foi a performance de Curran Walters como o segundo Robin, Jason Todd. O personagem é um dos mais novos com direito a maior destaque dentro da trama e também permitido ter um arco lhe possibilitando mostrar muitas das facetas de seu personagem.
Se tratando de um mundo baseado em quadrinhos, há muito para se explorar e infinitas possibilidades de personagens para incluir mas a forma como a segunda temporada da série original do DC Universe o fez. Os personagens da série terminaram por serem mal aproveitados ou até mesmo ignorados pela maior parte do tempo e a narrativa principal se alongar por 13 episódios tornou toda a experiência mais cansativa. A expectativa da terceira temporada focada na personagem de Anna Diop é bem alta, envolvendo a origem de seus conflitos
Termina sendo uma temporada abaixo da média, com desenvolvimento fraco de seus personagens mas termina por preparar um terreno bem interessante para a vindoura terceira temporada. É de se esperar que não permaneçam nos erros e saibam desenvolver melhor seus arcos e em especial as batalhas finais com seus antagonistas.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.