Paródias de Filmes – O ridículo que nós gostamos | Parte 1

Estando presente em gêneros como o terror, suspense, ação e romance, a comédia tem um único objetivo para os seus apreciadores: fazer rir. Mas isso não significa que a categoria não tem relevância além do seu maior objetivo: seja para quebrar uma tensão (o que às vezes não funciona), dar a cenas embaraçosas um tom cômico ou poder utilizar do humor para fazer altas críticas sociais, inserir a comédia se mostra uma preciosidade para a narrativa da obra.

Dentro desses exemplos, é fácil lembrarmos de personagens que existem para o propósito humorístico, tal como Olaf (Jonathan Groff) nos filmes de “Frozen”, e outros que são usados para esse fim, como Homem Formiga (Paul Rudd) e Homem-Aranha (Tom Holland) em Capitão América: Guerra Civil (Captain Ameirca: Civil War, 2016).

Dentro do universo da comédia, há um nicho que tratou de nos divertir do jeito mais ridículo possível: as paródias de filmes. Partindo da ideia de pegar títulos famosos, onde não importa se foram aclamados pela crítica, e sim ter feito burburinho com o público, as paródias cinematográficas nada estão preocupadas com continuidades, coerências e nem limites do absurdo se no final o foco em fazer rir com vergonha alheia der certo.

É notório que filmes nesse estilo não estão mais tão em alta assim, mas vamos relembrar algumas das paródias mais ridículas que nós gostamos.


Todo Mundo em Pânico (2000 – 2013)

Ah, esse qualquer um conhece, e é impossível esquecer a frase “Cindy, sua bunda tá caída”. Brincadeiras a parte, o estilo das imitações debochadas da franquia Todo Mundo em Pânico focou em pegar filmes de terror e suspense para personalizar com a sátira total. E cá entre nós, ainda que o título original Scary Movie (filme de terror, na tradução) deixe claro o gênero que irá embarcar, o batismo no nome nacional foi certeiro e colaborou muitíssimo para a repercussão dos longas.

Seguindo a onda de sucesso que o subgênero slasher voltou a ter depois de que Pânico (Scream) foi lançado em 1996, e no ano seguinte, surgiu um tal de Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer, 1997) se aproveitando para também receber um pouco dos holofotes com a sua trama aguada e genérica, em 2000, conduzindo o roteiro escrito por seis cabeças, Keenen Ivory Wayans fez a mistura do ingrediente bom e ruim e achou a fórmula perfeita para Scary Movie: brincar com os filmes de terror do momento.

Para quem não lembra, o primeiro filme citado trouxe o Ghostface aterrorizando a cidade fictícia de Woodsboro em busca de um acerto de contas com Sidney Prescott (Neve Campbell) por conta do passado conturbado de sua mãe Maureen (Lynn McRee). O segundo exemplo se desdobrou com o plot de um grupo de quatro amigos que se tornou cúmplice de um crime depois que um deles acidentalmente atropelou um homem e decidiram jogar seu corpo ao mar. Um ano depois, alguém vestido com um roupão preto encapuzado e com um gancho nas mãos executa uma vingança contra os adolescentes.

Basicamente, esses foram os dois longas que serviram para o miolo da trama de Scary Movie (dando como origem ao passado dos personagens o início de Eu Sei O Que Vocês Fizeram Há Um Tempo Atrás, risos, para depois trazer o Ghostface como a vítima vingativa que foi atropelada), porém, outros filmes de terror foram referenciados e até os movimentos de Matrix deram as caras.

Mas não só de referências Todo Mundo em Pânico fez seu triunfo, e assim como Pânico usou da metalinguagem para desconstruir os clichês do slasher, a versão de Keenen Ivory também zombou com sagacidade das inúmeras escolhas irritantes e estúpidas que temos de ver os adolescentes fazerem só para morrer nas mãos de um assassino mascarado. E por falar em personagens, Scary Movie foi genial por misturar as personalidades dos personagens dos longas que inspiraram sua trama (como Sidney de Scream e Julie James de Eu Sei O… é, a gente já sabe). O resultado foi ganharmos figuras impagáveis como Cindy (Anna Faris) e Brenda (Regina Hall).

Mesmo após a saída de Keenen Ivory do cargo de diretor depois do segundo filme, David Zucker, de Corra que a Polícia Vem Aí! (The Naked Gun: From the Files of Police Squad!, 1988), deu conta até a quarta sequência, pois em 2013, no quinto capítulo da franquia, em parceria com Malcom D. Lee, na pior recepção da crítica e público, Scary Movie se despediu (ou não?).

Nos 13 anos que a franquia nos ofereceu “terror” e humor, pudemos ver paródias a filmes como As Panteras (Charlie’s Angels, 2000), O Exorcista (The Exorcist, 1973), O Chamado (The Ring, 2002) (vide a cena de Brenda x Samara), A Casa Amaldiçoada (The Haunting, 1999), A Casa da Noite Eterna (The Legend of Hell House, 1973), Poltergeist: O Fenêmeno (Poltergeist 1982), Terror em Amityville (The Amityville Horror, 1979), 8 Mile: Rua das Ilusões (8 Mile, 2002), Sinais (Signs, 2002), A Vila (The Village, 2004), Jogos Mortais (Saw, 2004), Guerra dos Mundos (War of the Worlds, 2005), O Grito (The Grudge, 2004), Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), Mama (2013), Cisne Negro (Black Swan, 2010), A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013), Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011), etc.


Jason Friedberg e Aaron Seltzer

Se esses dois nomes são desconhecidos para você, com certeza seus longas já foram vistos pelo menos uma vez nesta vida. Apesar de terem escrito os personagens da franquia que relembramos acima, a filmografia de Jason Friedberg e Aaron Seltzer teve início em 1996 com Duro de Espiar (Spy Hard) filme de ação e comédia protagonizado por Leslie Nielsen na trama que parodiou o gênero de espionagem, e principalmente, os filmes encabeçados por James Bond.

Em 2006, a dupla optou por parodiar os tradicionais filmes de comédia romântica, com Uma Comédia Nada Romântica (Date Movie), o qual trouxe Alyson Hannigan e Adam Campbell como os dois pombinhos apaixonados envoltos numa trama confusa que torna a felicidade do amor entre eles quase impossível. Como base do enredo o filme se inspirou em Casamento Grego (My Big Fat Greek Wedding, 2002) e Entrando Numa Fria Maior Ainda (Meet the Fockers, 2004).

Como de praxe, mesmo massacrado pela crítica, o sucesso das empreitadas da dupla era garantido com o público, o que rendia sempre uma boa bilheteria, o que logo possibilitou o lançamento de Deu a Louca em Hollywood (Epic Movie) em 2007. Como o nome já sugere, a bola da vez tratou de satirizar algumas das produções americanas queridinhas, dando pontapé na trama com a história de As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa (The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe, 2005), e além de Gnárnia (como o filme nomeou o lugar mágico graças aos direitos autorais), o humor escrachado trouxe A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory, 2005), Uma Noite no Museu (Night at the Museum, 2006), O Código da Vinci (The Da Vinci Code, 2006), X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006) e Piratas do Caribe: O Baú da Morte (Pirates of the Caribbean: Dead Man’s Chest, 2006)

O próximo trabalho da dupla de diretores foi em 2008 com Espartalhões (Meet the Spartans, 2008) que claro, fez de 300 (2006) o alvo da esculhambação, trazendo elementos da cultura pop para fechar com chave de ouro o deboche aos espartanos. Ainda em 2008, o mundo está prestes a acabar, mas o que Will (Matt Lanter) deve fazer para salvar a amada, Amy (Vanessa Lachey) no meio do caos? Essa foi a premissa de Super-heróis: A Liga da Injustiça (Disaster Movie) que, quando a Marvel ainda estava preparando seu terreno para Vingadores (Avengers, 2012), os cineastas da paródia convocaram diversos heróis, fazendo crossover entre Marvel e DC com Thor, Homem de Ferro, Hulk e Batman no mesmo filme. E não acabou por aí, Hancock, Indiana Jones, o Po de Kung Fu Panda e Hellboy se fizeram presentes também para salvar a humanidade. A lista de participantes foi grande, mas você pode relembrar aqui.

Nem os vampiros se salvaram, ou indo direto ao ponto, Friedberg e Seltzer não pouparam o temido clã dos Volturi em Os Vampiros que se Mordam (Vampires Suck, 2010) ao satirizar a famosa saga de romance adolescente Crepúsculo (Twilight, 2008). Com outras referências a cultura pop como para a cantora Lady Gaga e o grupo musical Black Eyed Peas, ficou impossível não rir de Jenn Proske imitando a personagem de Bella Swan, na figura de Becca e Matt Lanter dando vida ao mozão de Becca, Edward Cullen Sullen.

Em 2013, além dos personagens de Todo Mundo em Pânico 5 (Scary Movie 5), a dupla trabalhou em duas sátiras. A primeira Jogos Famintos (The Starving Games), parodiando a trama distópica de Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012), fazendo humor também com filmes como Os Mercenários (The Expendables, 2010) e Avatar (2009), já a segunda produção chamada de Best Night Ever se responsabilizou de parodiar os longas em que adolescentes e adultos se prestam a uma noite de altas trapalhadas, descobertas e bebedices, como Finalmente 18 (21 & Over, 2013) e Se Beber, Não Case! (The Hangover, 2009).

Com uma pausa menor entre os lançamentos, a última investida de filmes toscos e tom grosseiro da dupla foi em 2015 com Super Velozes, Mega Furiosos (Superfast!), fazendo o ridículo com a franquia de Velozes e Furiosos. Ainda assim, no perfil dos diretores no site IMDb já consta a mais nova sátira registrada, agora para Star Wars, titulado de Star Worlds Episode XXXIVE=MC2: The Force Awakens the Last Jedi Who Went Rogue que se encontra em fase de pré-produção.

Se sentiu falta de algum filme paródia que curte, não se preocupe, veja a Parte 2 aqui.