É incrível como amor por um esporte, um amor pela velocidade e, principalmente, o amor pelo automobilismo, pode levar os seres humanos a atingir o limite de suas capacidades físicas e mentais para desenvolver carros esportivos velozes e quebrar recordes e mais recordes disputando provas nos circuitos mais rápidos do mundo. É seguindo essa linha de pensamento utilizando-se de todos esses ingredientes que o diretor James Mangold moldou seu novo longa de drama automobilístico Ford vs Ferrari (Ford v Ferrari, 2019), em uma narrativa focada muito na paixão pelo esporte em meio a rivalidade entre duas marcas.
O ano foi 1963, quando um dos responsáveis pela estratégia e desenvolvimento de carros da Ford, Lee Iacocca (Jon Bernthal) tem a ideia de entrar em um acordo com o chefão da Ferrari, o todo poderoso Enzo Ferrari, para começar a produzir carros de corrida com a marca Ford. Com a recusa de Enzo, começou-se aí uma rivalidade entre o mesmo e Henry Ford II que culminaria numa disputa acirrada entre as marcas Ford e Ferrari durante quase toda a década de 60.
A narrativa foca em dois personagens específicos, Carroll Shelby (Matt Damon) o famoso dono da Shelby American e o piloto e engenheiro inglês Ken Milles (Christian Bale), os dois cabeças por trás desta tentativa da Ford entrar para o ramo das corridas e competições esportivas automobilísticas. O roteiro escrito a três mãos por Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Jason Keller, não traz grandes novidade em termos narrativos, seguindo uma trajetória bem linear, usando a trajetória de Shelby e Milles como base para humanizar a história, principalmente Miles que é mais aprofundado como personagem devido a presença da esposa (Caitriona Balfe) e do filho (Noah Jupe) em sua história. A trama principal foca em mostrar como a Ford conseguiu um carro veloz o bastante para tentar vencer seu maior rival na famosa competição de 24 horas em Le Mans, além de aproveitar para mostrar o lado mais sujo e ganancioso do corporativismo que acaba por atrapalhar muito a equipe da Shelby e Miles a obter sucesso em sua empreitada, aqui representado pela figura quase vilanesca de Leo Beebe (Josh Lucas).
A grande característica de “Ford vs Ferrari” ao meu ver se deve ao fato de o filme resgatar aquele sabor de drama dos velhos tempos, da chamada era de ouro de Hollywood, uma história que não tem grandes pretensões, mas é contada de uma forma empolgante que consegue prender o público com uma mistura bastante consistente de drama e ação. A consistência na direção que James Mangold dá ao longa um ar sofisticado, entre o glamour e o amor pelo automobilismo, os diálogos mais técnicos são ótimos e as corridas são extremamente empolgantes e bem dirigidas, com ângulos arrojados, privilegiando os belos carros em cenas de tirar o fôlego.
Talvez um ponto mais negativo desta narrativa seja que o filme poderia ter explorado mais o lado Ferrari da disputa para aumentar ainda mais a rivalidade que o título sugere, durante o longa fica claro que o ponto de referência é o lado Ford da disputa, por assim dizer. Outro ponto é que a narrativa tem um ritmo bastante consistente, mas poderia sim ter alguns minutos a menos, porém isso não atrapalha a condução do longa no geral, que cresce bastante quando os carros estão na pista ou nos testes em hangares pomposos.
Em termos de produção “Ford Vs Ferrari” é um deleite, seja na fotografia dourada e estilosa, privilegiando cenários abertos principalmente onde acontece as 24 horas de Le Mans, assim como a trilha sonora vibrante, sem falar numa edição e mixagem de sons bastante impecáveis que fazem deste longa ideal para assistir no cinema ou na maior tela que você conseguir e com o melhor som possível.
No campo das atuações, o elenco é bastante consistente apesar de não ter nenhuma performance extraordinária, mas são atuações corretas e que convencem. Matt Damon no papel de Carroll Shelby esbanja charme e estilo, em contraponto com o jeito mais grosseirão e obstinado de Christian Bale na pele do gênio Ken Miles. Aliás, Bale aqui é o destaque, apesar do sotaque inglês levemente diferente do habitual, sua atuação é muito boa em termos dramáticos, na verdade a dupla segura o filme muito bem e passam muita verdade na paixão que ambos tem pelo automobilismo e pela engenharia por trás dos carros, realmente dá gosto de vê-los em cena.
De um modo geral “Ford vs Ferrari” é um filme estupendo, muito bem feito e muito bem produzido, se não inova ou não traz nada de novo para o gênero, ao menos é um produto de entretenimento de qualidade, bem dirigido, com um enredo bastante acessível principalmente para os fãs da velocidade e automobilismo. As atuações são bastante sólidas e a direção é correta, o roteiro é redondinho e se apoia na emoção que as corridas trazem e na paixão de seus personagens pelo esporte para fazer trama funcionar, desde Rush: No Limite da Emoção (Rush, 2013) dirigido por Ron Howard não se vê um longa com esta temática que entregue um filme tão vibrante e emocionante como este.
Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.