Cats (2019) é um filme ruim. A ideia de trabalhar com adaptações de musicais da Broadway para o cinema já foi bem executadas diversas vezes. Até o diretor do filme Tom Hooper já trabalhou com o gênero antes com o excelente Os Miseráveis (Les Misérables, 2013). Contudo a ideia de adaptar um musical no qual os gatos são antropomorfizados não pareceu uma boa ideia.
Antes de começarmos gostaria de salientar que isso não é um problema. A premissa do musical, seja sua versão para o teatro como a versão de cinema, é apresentar gatos com feições humanas. Portanto quem vai assistir ao filme ou à peça já deveria saber ou, ao menos, não estranhar ver o elenco agir como gatos. Isso pode parecer exponencialmente mais estranho na tela grande, mas não deve ser motivo de críticas, pois afinal o título do filme é Cats. Dito isso, o que pode e deve ser criticado no filme é uso abominável de efeitos especiais mal acabados.
A escolha para realizar o filme inteiro em CGI foi equivocada. Primeiro, tornou o filme bem mais caro do que ele poderia ser; segundo, ficou muito ruim justamente por ser um musical e todos os personagens precisarem cantar e dançar em cena. É um festival de horror desde cabeças não encaixadas no corpo até erros bizarros de proporção do tamanho dos gatos para os cenários. Isso fica ainda mais evidenciado nas cenas em que aparecem os gatos principais, aqueles que receberam um tratamento de CGI melhor, o abismo fica pior quando a cena exige uma interação com outros animais, por exemplo, o desfile das baratas cantantes.
O CGI mal feito obrigou o diretor e a equipe de montagem a se virar nos 30 para conseguir esconder algumas falhas do filme. O resultado disso foi um filme com vários problemas de montagem e em que algumas cenas simplesmente não fazem sentido, por exemplo, personagens que nos seus números musicais cantam sem ser capturados pela câmera, justamente para mascarar o efeito ruim. Isso prejudicou todo o ritmo do filme e os diversos números musicais que estão nele.
A melhor coisa do filme é sua música. Embora os números musicais estejam prejudicados devido aos problemas já relatados, a qualidade sonora e as músicas que tocam no decorrer da película certamente são o ponto forte do filme, com destaque para a canção Memory interpretada pela Jennifer Hudson, essa música e a atuação dela nessa cena são o auge da qualidade do longa. Além disso, vale a pena considerar a coragem de lançar uma versão desse filme para cinema e manter a ideia original, mesmo que claramente ela estivesse fadada ao fracasso, diferentemente de outras franquias que mudam de acordo com a recepção que a fan base passa.
De um modo geral, fica claro que as escolhas para a realização do filme foram o principal problema de Cats, talvez se tivessem pensando em algo mais teatral ou voltado para um olhar clássico da Hollywood da década de 30 e 40, tipo um O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939), ou se tivessem quebrado a barreira da metalinguagem e filmassem estilo Birdman (2014), um filme sobre um filme de Cats, provavelmente o resultado seria infinitamente melhor seja na qualidade artística ou no valor de entretenimento. Ao final, Cats só diverte por vergonha alheia de seu visual e por músicas de boa qualidade em um filme ruim.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.