As Golpistas – Além do glitter e do salto agulha

Dirigido por Lorene Scafaria, As Golpistas (Hustlers, 2019) não é um filme apenas sobre sexo, drogas ou o submundo de Nova Iorque, mas sim sobre a jornada de quatro mulheres e a busca pelo vislumbre da vida que desejam. Intrigante, sensual e divertido, a diretora cria uma narrativa autêntica, colorida e que quebra a expectativa do espectador.

Baseado no artigo publicado pela New York Magazine, a trama se inicia com Destiny (Constance Wu) sendo entrevistada pela jornalista Elizabeth (Julia Stiles) que tenta entender o grupo que aplicou golpes em grandes figuras da Wall Street. Através das lembranças de Destiny é que conhecemos as outras integrantes, entre elas: Ramona (Jennifer Lopez), Annabelle (Lili Reinhart) e Mercedes (Keke Palmer).

Uma narrativa que aparentemente poderia ser apenas sobre o intrigante golpe, ganha uma nova visão quando Scafaria expõe os questionamentos sociais e pessoais vividos por essas mulheres. No meio dessa complicada rede, Jennifer Lopez rouba a atenção com sua Ramona. Cativante, sensual e bem-humorada, Lopez hipnotiza em cena ao dar vida a está personagem que provoca sentimentos contraditórios no espectador. Amando-a ou odiando-a, a atriz/cantora brilha, sendo compreensível o burburinho sobre uma possível indicação ao Oscar 2020.

 Já Constance Wu é uma perfeita parceira de cena, a química entre ambas é inebriante e sua Destiny é inteligente e sagaz. Personalidades que entram em constante conflito, mas que acima de tudo apoiam uma a outra. Lili Reinhart e Keke Palmer completam o quarteto ao darem vida, respectivamente, a insegura e as vezes inocente Annabelle e a engraçada e apaixonante Mercedes.

 

Muito mais do que a busca pelo dinheiro, é perceptível o prazer em cada golpe aplicado. Os papéis se invertem e vemos cada uma usar seus alvos do mesmo jeito que foram usadas. É um prazer pessoal, que vai além da necessidade que envolvem as personagens. Contudo, é por meio dele também que lições são ensinadas e conflitos surgem.

Adotando quase um estilo documental, assistimos o início da amizade entre Destiny e sua melhor amiga/mentora Ramona. Percebemos a exorbitância que o dinheiro pode conceder, mas que também pode ir embora tão rápido assim como chegou. E é na crise econômica de 2008 vivida pelos EUA, tempos das vacas magras, que a boate de striptease apaga suas vibrantes cores neons para dar espaço ao esquema que mudaria suas vidas.

“As Golpistas”, como disse no começo deste texto, é um filme que quebra expectativas, não por conta de sua história, mas das mulheres que a protagonizaram. Se desfazendo de todo o glitter que as cerca, de seus personagens criados e dos saltos altos que machucam seus pés, elas nos mostram as pessoas que existem por trás dessa ilusão.