MOSTRA PERCURSOS: Sessão “Diário de Bordo” (26/10 às 14h)

A Mostra PERCURSOS é uma ação de docentes e discentes do Curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tem por objetivo dar visibilidade aos trabalhos cinematográficos produzidos pelos alunos do curso, além de estimular o diálogo entre esses jovens artistas e a sociedade. Chegando à sua nona edição em 2019, a Mostra PERCURSOS vem abrindo espaços de exibição e reflexão crítica sobre os rumos apontados pelas produções do curso de Cinema e Audiovisual da UFC.

Nesta edição, nós do Só Mais Uma Coisa, publicaremos uma resenha, escrita por alunos e ex-alunos do curso, para cada uma das sessões da Mostra, que acontece do dia 24 a 26 de outubro, no Cinema do Dragão, em Fortaleza.

Para mais informações acesse o site (www.percursos.ufc.br/2019) e as redes sociais da Mostra.


“Velha História”, de Paulo Victor e Anne Linhares

Assim com a obra que lhe dá nome – Diário de Bordo, trabalho experimental de Uirá dos Reis –, a sessão em questão é marcada por trabalhos que misturam música e imagens, bem como por obras que fazem brincadeiras narrativas, seja experimentando com montagem, efeitos visuais e/ou estética. São exercícios que priorizam o estilo, sem, no entanto, esquecer da substância.

A sessão inicia-se com o videoclipe Velha História, de Paulo Victor e Anne Linhares, trabalho que ilustra de forma sensível a música de mesmo nome da banda Aborígenes Viajantes. Através de uma performance delicada que trabalha um domínio de corpo em um espaço reduzido, tem-se uma relação com a música que não resvala no óbvio. Os movimentos praticados pela atriz em cena, na realidade, revelam um equilíbrio entre dança e espaço, texto e melodia. A temática do recomeço trabalhada na música torna-se quase concreta. No fim, esse trabalho mostra grande potencial em uma produtora – Suco de Groselha – que não deixa a falta de recursos significar amadorismo.

“Mambembe”, de Mariana Ellen

A seguir, tem-se Plantinhas, de Fernanda Barros, um pequeno – na duração – exercício de estilo, que captura a natureza, supostamente sob o domínio humano, em um jardim. Ao enquadrar as plantas através de grades, fios elétricos e com o máximo de proximidade, Fernanda nos traz a ideia de que há o desejo de se aprisionar a natureza; porém, ao contrastar isso mostrando o céu de forma límpida e com um azul infinito, pode-se compreender que esse pretenso aprisionamento é em vão. Por mais simples que seja, Plantinhas é o poder da imagem em seu máximo de força.

Com Hipnose, de Gefe Fontes, há um hibridismo narrativo que passeia entre a estética de videoclipe e da videoarte, e que busca dar conta da música apresentada através de jogos de montagem e efeitos visuais, em um mergulho bastante pessoal na vida e psique do diretor/intérprete/protagonista. Gefe busca apagar a linearidade para conseguir representar os efeitos da hipnose, não como ação real sobre o indivíduo, mas como um estado permanente que o faz questionar o passado, o presente e o futuro de si mesmo.

“Refúgio”, de Camila Andrade e Victor Hugo

Em mais uma produção da Suco de Groselha, dessa vez em parceria com a VesicPis, será apresentado o videoclipe Mambembe, de Mariana Ellen, também da banda Aborígenes Viajantes. Apesar de manter uma esperada identidade visual similar à Velha História, Mambembe é muito mais lúdico, brincando com um colorido exuberante, pantomineiros e a fronteira entre sonho e realidade. Além disso, em contraponto ao videoclipe anterior, este passe totalmente em espaço aberto, evidenciando um caráter mais de diversão e alegria.

O último trabalho da sessão, intitulado Refúgio, de Camila Andrade e Victor Hugo, também é um videoclipe, da música de mesmo nome da banda Ócios do Ofício. Todo construído em primeira pessoa, com um personagem que passeia por pontos bastante reconhecíveis de Fortaleza, é uma obra que não necessariamente inova; isso, porém, não se torna um problema, pois é extremamente bem construída narrativamente e possui uma montagem notável, que casa perfeitamente com a música, sem, no entanto, ser apenas uma transcrição desta.

Por Cândido Netto