MOSTRA PERCURSOS: Sessão “O Regresso de Ulisses” (26/10 às 18h)

A Mostra PERCURSOS é uma ação de docentes e discentes do Curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tem por objetivo dar visibilidade aos trabalhos cinematográficos produzidos pelos alunos do curso, além de estimular o diálogo entre esses jovens artistas e a sociedade. Chegando à sua nona edição em 2019, a Mostra PERCURSOS vem abrindo espaços de exibição e reflexão crítica sobre os rumos apontados pelas produções do curso de Cinema e Audiovisual da UFC.

Nesta edição, nós do Só Mais Uma Coisa, publicaremos uma resenha, escrita por alunos e ex-alunos do curso, para cada uma das sessões da Mostra, que acontece do dia 24 a 26 de outubro, no Cinema do Dragão, em Fortaleza.

Para mais informações acesse o site (www.percursos.ufc.br/2019) e as redes sociais da Mostra.


É com “O Regresso de Ulisses” que se encerra a 9ª edição da Mostra PERCURSOS. Da obra homônima de Alexandre Veras surge o mote da sessão: diante da câmera, corpos vagam, performam e colidem. Preenchem a tela, a sala e a cidade. É no encontro entre multilinguagens que as obras se forjam. Pequenos exercícios de experimentação, em que corpo, música e montagem articulam-se para a elaboração de uma experimentação cinematográfica. É na construção do sensível que as obras se aproximam.

“D(C)or”, de Camila Andrade

A primeira imagem de D(C)or, de Camila Andrade, é a sombra do corpo de uma mulher projetada contra um fundo branco. É sobre esse corpo que o filme vai ser construído. Antes mesmo que seu rosto possa ser visto, são os recortes de sua pele que mostram os fragmentos de sua existência. Através de um jogo entre cores, luz e sombra, a diretora articula as dores de uma personagem, que aos poucos vai se revelando. As cores constroem um manto e é só quando está protegida por uma grossa camada colorida que essa mulher surge completa diante de nós. Seu corpo espalha-se pela sala e o que antes era apenas um tecido em branco, torna-se sua tela de pintura. É na explosão das cores e na contaminação do entorno que a personagem encontra abrigo.

Em um pequeno retângulo centralizado na tela, um corpo dança com a luz. Esse é o primeiro fragmento de Derivas, dirigido por Fernanda Barros, que chega a nós. Logo, outras duas imagens eclodem em nossa retina e, em trios de quadros, vemos as performances de Corazón, Victoria Servente e Rycleson Rodrigues. Imagens se repetem, se sobrepõe, se isolam, divergem e logo voltam a dividir o mesmo espaço, em consonância. O uso de multitelas proposto pelas montadoras Marina Chen e Sofia Saraiva, alinhado a trilha musical de Mariah Duarte, propõe uma experimentação cinematográfica entre corpo e luminescência. Girassóis que dançam diante da tela.

“Derivas”, de Fernanda Barros

Sobre o corpo do performer, uma luz vermelha pisca pela segunda vez e uma contagem é ouvida. Isso é suficiente para que os gestos, que antes eram pontuais, entrem em cadência. É assim que tem início a obra realizada por Yuri Vefago, Evelyne Alves, Kezya Torquato e Rebeca Karam, intitulada Farol. Luzes e cores brincam sobre o corpo de Yuri. Corpo esse que nunca é visto só. Está sempre somado, duplicado, sobreposto. Ava canta que o mar está ao fundo e se é para o mar que Ulisses segue, é com o mar que Yuri brinca.

Primeiro chega o som e só depois vem a imagem. Em um grande cubo branco, com luzes sobrepostas, um corpo sai da água e vem em direção a nós. É assim que tem início a obra kkkkkkkatravessamentos, de Fabiano Nardy. Seus movimentos oscilam entre repetições e ações únicas, curvas e diagonais, deslocamentos ascendentes e descendentes, aproximações e afastamentos. Durante toda a performance, o artista interage conosco. Tudo que é feito é para que olhemos e é impossível resistir ao convite.

“Tudo tranquilo”, de Alisson Freitas

Tudo tranquilo, dirigido por Alisson Freitas, é o único videoclipe que compõe a sessão. Nele, o realizador e sua equipe constroem imagens para a música homônima, da banda Vacilant. No vídeo, vemos uma personagem que busca aproximar-se de seu objeto de desejo. E é dessa proximidade que a imagem é construída. Com planos que privilegiam o rosto e enaltecem a beleza dos movimentos da performer, vemos o deslocamento da personagem pelas ruas do Centro. Tudo é fluído e compõe um grande ritual de dança que busca impressionar. Assim como o objeto de desejo, nós também somos conquistados.

O filme que encerra a mostra, documenta o encontro entre a dança, o cinema e a cidade. Na obra VI Temporal, realizada por Nadine Ribeiro, Fernando Maia e Lucas Campos, vemos o que foi o Temporal – Encontro de Dança Contemporânea e Composição em Tempo Real, realizado pelo Curso de Dança da Universidade Federal do Ceará. No curta-metragem, artistas relatam seus processos de criação e encontros com a cidade. Em duplas, trios e grupos, eles passeiam e intervém nos mais diversos lugares de Fortaleza, propondo diálogos entre o corpo e o lugar que o rodeia, entre a arte e a urbe.

Por Beatriz Lizaviêta