Ad Astra: Rumo Às Estrelas – Melancolia Espacial

O cinema Hollywoodiano, de tempos em tempos, sempre traz uma trama espacial com algum diretor renomado para tela de cinema. Ficções Cientificas não são novidades na sétima arte, uns são baseados em fatos, como O Primeiro Homem (First Man, 2018)), outros são puro apuro visual com toque de suspense e drama, como Gravidade (Gravity, 2013), alguns são complexos e interpretativos , como High Life (2018), outros preferem juntar o espetáculo espacial com uma narrativa complexa, como em Interestelar (Interstellar, 2014) e outros são simplesmente clássicos, como 2001: Uma Odisséia No Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), mas todos tem um ponto em comum, a ambição humana em desbravar o desconhecido.

A nova aposta da vez é Ad Astra: Rumo Às Estrelas (Ad astra, 2019) dirigido por James Gray, de Z: A Cidade Perdida (The Lost City of Z, 2016), e estrelado por Brad Pitt. O que posso dizer de mais importante sobre este longa, é que ele acima de tudo é um drama, até mesmo antes de ser uma ficção científica, que está presente em cada minuto da narrativa, mas só funciona porque o fator emoção consegue ser o cerne de toda a história.

É claro que Ad Astra tem várias semelhanças com clássicos da ficção científica como 2001: Uma Odisséia no Espaço, por exemplo, mas para mim senti que a comparação com Primeiro Homem e o recente High Life são mais oportunas. Este filme de James Gray funciona em sua maior parte por fazer as perguntas certas e questionar o valor da vida humana em meio a ambição daqueles que buscam expandir seus domínios na vasta imensidão do espaço.

Narrativamente a história trilha um caminho bastante linear, a construção de universo mostrando a definição de um futuro que possivelmente poderia ser (mas não é) o nosso status atual empolga, vide a sequência inicial numa estação espacial próxima a atmosfera da Terra que é de tirar o fôlego, assim como toda a sequência em solo lunar onde temos uma perseguição interessante com direito a piratas da lua.

Enquanto o roteiro abre os olhos do expectador para este rico universo em todo seu primeiro ato, a narrativa começa a traçar o caminho que vai seguir. Após um problema na estação espacial, constatou-se que elementos de antimatéria estão causando ondas de sobrecargas que estão sendo lançadas no espaço e podem causar uma destruição eminente na via láctea e extinguir toda a vida humana conhecida no processo.

A premissa é simples, talvez até clichê demais, mas a resposta tende a ser mais complicada que isto quando a origem do problema se encontra em Netuno e ao que parece envolve o pai de Roy McBride (Pitt), até então desaparecido. Ad Astra pode até parecer um filme com respostas fáceis, mas diz mais sobre nós seres humanos do que podemos imaginar inicialmente e isto tudo se deve a uma atuação profundamente marcante de seu protagonista.

Uma das qualidades de James Gray como diretor é deixar que a história fale por si, ainda que a narração em off de Roy seja óbvia, diz muito sobre os reais pensamentos de uma pessoa que se vê como um ótimo astronauta, mas incapaz de se relacionar com alguém para manter o foco naquilo em que ele é bom, desta forma há uma internalização  das emoções do personagem, mas o turbulento relacionamento com o pai (Tommy Lee Jones) ausente traz toda essa mágoa para superfície fazendo com que Roy sempre esteja à beira de um desequilíbrio emocional.

Tudo isso é entregue de uma forma autêntica por Brad Pitt, o ator mostra aqui uma maturidade e uma de suas melhores atuações na carreira, seja através das expressões, seja através de palavras, potencializando uma performance melancólica e por muitas vezes triste, numa carga dramática poucas vezes vista em tela. A dedicação de Pitt em cada cena vende bem a jornada de Roy e os sacrifícios que têm que fazer para atingir com êxito sua missão, mesmo que isto faça o público questionar a índole do personagem em determinados momentos.

Esta busca de um propósito através do desconhecido é a base das ações humanas de Ad Astra e tal seja o que mais atrai em termos de trama, o diretor sabe disso e mostra várias vertentes sobre o assunto, mas foca em Roy para dar um tom mais intimista a história, que ganha em complexidade despertando interesse na trajetória do personagem.

É claro que o foco em Roy, acaba por deixar os personagens que orbitam a sua volta apenas como suporte, fazendo que a maioria deles sejam mal aproveitados no enredo, exemplo disso é Liv Tyler e Donald Sutherland que poderiam render muito mais aqui, mas servem apenas para humanizar mais o protagonista. Posso dizer que as participações de Ruth Negga e Tommy Lee Jones seguem a mesma linha das outras citadas, porém suas aparições mesmo que breves conseguem deixar marca, tanto no protagonista, quanto no expectador, a participação de Lee inclusive é bastante significativa e um ponto de ruptura para o personagem de Pitt em determinado momento da história.

Em termos técnicos, Ad Astra é impecável, a concepção belíssima das estações na Terra e na Lua ressaltam o apreço do diretor por design de produções complexos. A fotografia é bastante limpa e intrigante, ressaltando o ar de mistério e vai ficando mais elaborada e claustrofóbica à medida que o personagem viaja de um planeta para outro. A trilha sonora não é tão marcante, mas é eficiente em atuar nos momentos que ressaltam um tipo de paranoia, perigo e obsessão no ar.

De um modo geral Ad Astra funciona melhor quando explora o lado humano da narrativa através de seu protagonista (Pitt merece uma indicação ao Oscar por esse papel), do que quando explora seu lado mais ficção científica. A história, as vezes, carece de uma injeção de ânimo no meio do segundo ato, mas nada que torne a experiência menos interessante, onde somos levados a questionar até onde a obsessão humana pode nos guiar, ou até onde nos deixamos levar por nossas ambições, ou o que fazemos quando confrontamos nossos medos. Conseguimos obter quase todas essas respostas através da jornada de Roy, mas no final das contas, o longa leva o expectador a questionar a si mesmo, parece óbvio, mas esta melancólica jornada espacial abre nossa mente para o desconhecido dentro de nós em busca de um propósito definitivo.