2001: Uma Odisseia no Espaço – 50 anos do clássico de Stanley Kubrick

 

Stanley Kubrick é um dos maiores cineastas de todos os tempos. Sua figura é tão importante para o cinema que diversas vezes é citado como influência de cineastas famosos. Seus filmes tem uma força narrativa e um preciosismo que vão além do ordinário. Em 1968, chega 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: Space Odyssey) que revolucionaria a ficção científica naquele tempo e traria uma série de questionamentos do ser humano contemporâneo.
A cinematografia do filme é belíssima, como em todos os filmes do cineasta. Desde o natural, com o segmento “A aurora do homem”, até chegar às viagens espaciais. O filme contém planos bem compostos e uma trilha sonora com base em música clássica, em especial com Johann Strauss e Richard Strauss. Uma das cenas que mais se perpetua na memória dos espectadores é o raccord plástico do osso lançado pra cima que se transforma em nave espacial, fazendo surgir assim, uma das maiores elipses da história do cinema.
“2001” é inspirado no conto The Sentinel, de Arthur C. Clark, que assina junto com Kubrick o roteiro do filme. A escolha do nome do filme é curioso. É possível remeter à cultura clássica do mundo antigo, quando Ulisses, após a Guerra de Troia tenta regressar a sua casa e até mesmo a série de histórias e contos populares do Oriente Médio e sul da Ásia, As Mil e Uma Noites. Aliás, o título pode ser considerado um trocadilho dessas duas obras tão importantes para a cultura mundial, seja pela a história contada por Homero ou pela série de contos fantasiosos.
Contudo, o filme vai além dessa homenagem, trata-se de uma reflexão ao mundo contemporâneo daquele tempo, mas com um discurso que se prova cada vez mais presente nos dias atuais, o uso da tecnologia. O monolito pode ser interpretado de diversas formas, mas inegavelmente todas as suas aparições no filme estão relacionadas com o avanço de pensamento humano ou tecnológico, sua primeira aparição surge para mostrar aos primeiros primatas o uso do osso como ferramenta ou até mesmo uma arma, entrando numa máxima que perdura o pensamento da humanidade até hoje: conhecimento é poder e quem o detém pode controlar o outro. Claro que esse tipo de pensamento pode ser usado para o mal e Kubrick faz questão de mostrar isso.
A medida que a história avança e os recursos tecnológicos se desenvolvem, inteligências artificiais surgem com o intuito de auxiliar a raça humana em suas expedições, novamente aqui a ideia dessa constante odisseia de busca de novos recursos e novos planetas. Outras questões são trazidas aqui, como a maneira que os personagens principais dessa viagem interagem com o computador HAL 9000. Nesse segmento do filme é mostrado como a inteligência artificial pode ser útil ao homem, mas também assustadora quando contrariada. É possível inferir um espelhamento narrativo, agora o avanço do pensamento e tecnologia está voltado para as máquinas, ultrapassando assim a capacidade humana.
O fim da viagem do astronauta, aqui feita por meio de um primeiro plano que mostra todo o vislumbre da raça humana perante as fronteiras do espaço tempo, revela mais questionamentos que soluções. A última aparição do monolito comprova isso, mostrando como a velhice afeta a raça humana e como essa pode ir além. O bebê dentro da esfera brilhante, “star child”, possibilita uma infinidade de interpretações desde um novo passo na evolução do homem até mesmo a presença de Deus na vida humana.
Todas as questões desse filme são metaforicamente complexas e possibilita uma infinidade de interpretações que vão desde uma abordagem mais literal do que acontece até as mais complexas reflexões. O certo é que o filme torna-se atemporal, suas questões filosóficas e dogmáticas perduram até hoje e são pertinentes em um mundo onde cada vez mais estamos dependentes de tecnologia para resolver coisas do nosso cotidiano.
Do ponto de vista técnico, o filme é impecável. A fotografia transmite todas essas etapas da evolução tecnológica e intelectual do homem, variando de planos extremamente abertos no início do filme até uma claustrofobia bem executada nos segmentos da viagem espacial. Os efeitos visuais são fascinantes, na época era quase como filmar no espaço e, nos dias de hoje, ainda impressiona.
2001: Uma Odisseia no Espaço é um filme primoroso e difícil de se assistir, mas muito recompensador nas reflexões que causa em seu espectador. Sempre que possível, é bom assistir em uma sala de cinema com a maior tela disponível. Lá será possível encontrar um dos melhores trabalhos do Stanley Kubrick e uma das melhores ficções científicas de todos os tempos.