De Pernas pro Ar chegou aos cinemas brasileiros em dezembro de 2010, com um orçamento de pouco mais de 5 milhões de reais e conseguiu faturar mais de 30 durante seu período em cartaz. Tamanho sucesso financeiro abriu portas para sua continuação em 2012, dessa vez o filme arrecadou mais de 50 milhões de reais. Um terceiro filme parecia ser algo certo, mas demorou a vir.
Finalmente em 2019, chega aos cinemas De Pernas pro Ar 3, seu elenco principal continua o mesmo e certamente o pouco de acerto que o filme traz está ligado a ele. Ingrid Guimarães é uma força de carisma e talento, embora o filme não consiga transmitir por meio de seu roteiro boas piadas, a atuação de sua protagonista carrega as boas cenas engraçadas do filme, seja pela sua falta de tato com as relações familiares ou sua obsessão pelo trabalho. Bruno Garcia também está muito bem, sua personalidade oferece um bom contraponto a protagonista, muitas das vezes a confrontando, o que é muito benéfico para o desenvolvimento da narrativa, as nuances do seu personagem variam entre o cansaço e a esperança da mudança de comportamento da sua esposa workaholic. Samya Pescotto é uma grata surpresa no papel de Leona, uma jovem que oferece um contraste e serve como espelho para a protagonista, muito das atitudes de Leona são iguais a de Alice, mas ambas percebem isso e tentam, a sua maneira, mudar a si e a relação com os seus familiares.
O filme apresenta alguns problemas, tanto no roteiro quanto na montagem, o primeiro é bem básico, Alice decide se aposentar para passar um tempo com a família e recuperar o tempo perdido, durante esse período ela vê Leona crescer no ramo de produtos eróticos por meio da tecnologia de realidade virtual, a partir daí segue uma série de tentativas de Alice superar Leona, mesmo que essa superação seja colocar a vaidade em cima do interesse de ficar com sua família. O plot não é ruim, poderia ser uma história interessante a ser contada, muito dos problemas contemporâneos está ligada ao desejo sempre de se trabalhar mais, deixando assuntos familiares de lado, o problema está na superficialidade com que trata o tema, a maioria das piadas não funciona ou são fora de tom, o timing cômico muitas vezes não funciona, a maioria das cenas engraçadas se dá pela performance de sua atriz principal que se sobressai em relação ao roteiro. A montagem do filme é boba e infantil, com direito a janelas das redes sociais saltando o plano para explicar para o público a situação que está bem óbvia e também para operar milagres, como um personagem achar outro em Paris pela foto postada no Instagram, é inverosímil. Contudo, faz-se necessário falar sobre uma das poucas cenas bem montadas do filme, já no arco final, uma montagem paralela de um diálogo entre quatro personagens.
Além disso, há algumas cenas muito boas, mérito aqui para o elenco e direção, destacamos duas delas, além da montagem paralela já citada, e curioso que ambas tem como ação um diálogo entre Alice e Leona, a primeira sobre Leona informar a Alice que não é sua rival, e a outra em que a personagem da Ingrid Guimarães chega com uma garrafa de vinho para fazer as pazes. Essas cenas citadas não apelam para uma montagem espalhafatosa e entregam uma boa atuação de suas atrizes.
De Pernas Para o Ar 3 se apoia para o básico da comédia, com um roteiro pouco inspirado e uma montagem ruim, ele se salva graças ao carisma e talento de Ingrid Guimarães e elenco, além da direção de Julia Rezende que traz bons momentos quando não está presa a algumas piadas insossas do roteiro.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.