RESENHA | O Que o Sol Faz com as Flores, de Rupi Kaur

O segundo livro da autora de “Outros Jeitos de Usar a Boca” segue o mesmo estilo, com poesias fortes, empoderadoras e feministas, recheadas com ilustrações representativas e minimalistas da própria autora. Rupi Kaur é uma imigrante da Índia vivendo no Canadá desde pequena. Ela coloca em seus livros toda a carga de lutas de gênero que traz de seu país natal, a força da mulher que deixa de ser dona de casa e submissa ao marido para fazer o que ela quiser. O primeiro livro é bem mais focado nessas situações de luta social, de empoderamento. O segundo vem com um conteúdo mais sentimental. É dividido em cinco partes: murchar, cair, enraizar, crescer e florescer. Toda a composição usa as plantas como metáfora para a vivência humana, desde o título até a caracterização de cada parte e as poesias contidas nelas.

A autora traz como mensagem todas as fases em que se passa ao se viver o término de uma relação. Metaforicamente, o murchar e o cair representam a fase de luto, com poesias repletas de sofrimento, de auto-piedade e de submissão e adoração para com o ser amado.
“tentei fugir tantas vezes mas
assim que eu dava as costas
meu peito sucumbia ao peso
eu voltava ofegante
talvez por isso te deixasse
arrancar minha pele
qualquer coisa
era melhor que nada
deixar que me tocasse
mesmo que sem gentileza
era melhor do que não ter suas mãos
eu aguentava o abuso
eu não aguentava a ausência
eu sabia que queria vida de uma coisa morta
mas não importava
que estivesse morta
porque pelo menos
era minha”
O enraizar, o crescer e o florescer representam, claro, a fase de renovação da vida e início de novas relações, com poesias cheias de amor-próprio e segurança.
“aqui bocas nunca faltam
mas quase nenhuma merece
o que você oferece
doe-se a poucos
e a esses poucos
doe muito”

Em meio às poesias de dor e de crescimento, sempre está presente o traço de honrar as raízes, honrar sua cultura e seus ancestrais. Há também muitas poesias com a pegada forte da autora – apesar de mais presentes em “Outros Jeitos de Usar a Boca”: o feminismo, o empoderamento e a importância de se amar acima de tudo.
“nosso trabalhos deve preparar
a próxima geração de mulheres
para nos superar em todas as áreas
esse é o legado que vamos deixar”

Para quem se interessa por poesia contemporânea ou pelos temas abordados, irá se deliciar com o livro. É uma leitura prazerosa, curta e com muita presença de espírito. Pode até substituir uma mão amiga numa fase difícil que o leitor esteja atravessando. Dá um acalento no coração e revigora a alma ler uma autora tão cheia de ensinamentos sobre o que é ser mulher, sobre como se amar e como sair de relacionamentos abusivos. Talvez seja também um ótimo presente para aquela sua amiga que está presa numa relação assim. Afinal, nós, mulheres, precisamos ajudar e empoderar umas às outras. Sempre.

“mais amor
não dos homens
mas de nós mesmas
e umas das outras”