Nas décadas de 80 e 90 Hollywood passou por um fenômeno bastante interessante: o auge dos Brucutus. Jean-Claude Van Damme, Steven Seagal, Dolph Lundgren, Jet Li, Kurt Russel (talvez Mel Gibson e Bruce Willis em menor escala), e os maiores de todos, Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger (basicamente os elencos da franquia Os Mercenários). Claro que não foi um fenômeno inédito, antes destes tínhamos Clint Eastwood e o saudoso Chuck Norris, e mais recentemente temos toda uma nova geração composta por Jason Stathan, Vin Diesel, Dwayne “The Rock” Johnson, e companhia (basicamente os elencos da franquia Velozes e Furiosos), mas certamente os anos 80 e 90 foram o auge deste tipo de personagem.
São caras durões, que não afinam pra ninguém, às vezes entram na briga no mano-à-mano, às vezes usam armas das mais variadas possíveis (desde facas à granadas, desde canivetes à lança-chamas), e sempre agem por vingança, ou algum acerto de contas, ou resgate de alguém indefeso, etc. São um dos maiores estereótipos do gênero ação criados pela indústria cinematográfica. E seu filmes não ficavam apenas na ação, muitas vezes se misturando com muitos outros gêneros, geralmente filmes de guerra ou policiais, mas também ficção científica e horror/thriller e até comédia (inclusive as várias paródias). O clássico O Predador, de 1987, é uma mistura de vários destes.
O enredo é o mais simples possível. Uma equipe de elite de resgate, liderada pelo intrépido major Dutch (Schwarzenegger) é convocada para fazer uma busca em algum lugar da América Central pelos sobreviventes de um helicóptero oficial. Acompanhados a contragosto pelo amigo de longa data do major, o oficial Dillon (Carl Weathers, o eterno Apollo Creed) o grupo se embrenha na selva fechada e combatem um grupo de guerrilheiros que supostamente havia capturado os sobreviventes do voo. Até aqui vemos um perfeito filme de guerra aos moldes de Rambo II – A Missão (Rambo: First Blood Part II, 1985), com Stallone, ou Comando Para Matar (Commando, 1985), estrelado pelo próprio Arnold poucos anos antes. Só sabemos que há algo mais naquela selva por conta de um plano de uma nave entrando na órbita terrestre no início do filme e por algumas coisas estranhas encontradas pelo caminho, como os corpos totalmente sem pele dos pilotos do helicóptero. E, claro, a clássica visão de calor da criatura (em câmera subjetiva) observando cada passo do grupo sem jamais ser visto.
Mas após perceber que havia sido usado para uma missão diferente da que pensava estar realizando Dutch decide levar seus homens embora do lugar o mais rápido possível. Mas, para isso precisam andar vários quilômetros para atravessarem a fronteira, onde poderão ser resgatados com segurança. E é somente aí que temos os primeiros ataques da criatura. A demora para apresentar este caçador alienígena, bem como a totalidade de suas habilidades e seu real objetivo (na verdade nunca sabemos muito bem o porque de ele estar caçando aqueles homens, mas algumas pistas indicam que ele é apenas um caçador e colecionador de… cabeças), é bastante efetiva para criar o clima de desespero no grupo, e consequentemente no espectador. Afinal, eles foram escolhidos para a missão por serem os melhores, como Dillon afirma no início, treinados para ultrapassarem qualquer dificuldade, combaterem os piores inimigos, mas frente aquela criatura não passavam de presas indefesas, todas as habilidade do grupo não seriam capazes de derrotarem o caçador, a não ser o major Dutch, é claro.
E todo o filme leva ao épico embate final entre o major e o Predador. Dutch já consegue entender um pouco das habilidades do monstro, e também sua fraquezas, sua capacidade de se camuflar, sua visão baseada em temperatura, suas poderosas armas que atiram laser. Dutch agora precisa se comportar com inteligência, criando armadilhas e se fazendo de isca. E após cobrir-se de lama, o que atrapalha a visão do bicho, consegue finalmente se colocar de igual para igual com a poderosa criatura, derrotando-a, mas não sem antes passar por vários perrengues.
O Predador não é um filme genial, longe disso, atuações fracas (marca registrada desse tipo de filme), plot simplório e personagens estereotipados e superficiais, mas certamente é memorável como filme de gênero pois sabe muito bem utilizar-se destes, com uma direção competente de John McTiernan e a ótima trilha de Alan Silvestri, além das sensacionais frases de efeito (outra marca dos filmes de brucutus). Um filme que envelheceu bastante bem, diferente da maioria dos brucutus de sua época.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.