The Rocky Horror Picture Show é um filme musical que tem sua estreia em 1975, dirigido por Jim Sharman, sendo uma adaptação do espetáculo musical britânico de 1973 chamado The Rocky Horror Show. O filme, assim como a peça, é uma sátira/paródia das obras de ficção científica e terror dos anos 30, 40, 50, e também se aproxima de uma linguagem da televisão ao mostrar em determinados momentos uma quebra da quarta parede. Essa sátira já fica bem claro na primeira música, Science Fiction – Double Feature, que faz menção ao próprio filme que está começando, bem como os filmes e séries do passado como King Kong, Flash Gordon e Drácula.
Com a clara intenção de ser bem trash e com um baixo orçamento, o longa nunca se leva a sério, o que o torna capaz de dialogar com suas várias referências. A partir disso, temos a história em torno de um casal recém noivos, Brad (Barry Bostwick) and Janet (Susan Sarandon) que, por conta de um pneu furado, veem-se obrigados a procurar ajuda e acabam encontrando o castelo do Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry). O roteiro a princípio é bem clichê com atuações claramente bem estereotipadas feitas de maneira proposital, mas o filme tem consciência disso, aceita e, em determinados momentos, usa isso a favor de sua narrativa.
As atuações são primorosas, com destaque para Janet vivida por Susan Sarandon que dentro do filme é a prsonagem que possui o arco dramático mais bem desenvolvido, desde seu ar inocente do início do filme até o momento em que se rende à “criatura da noite”. Do outro lado, temos a brilhante atuação de Tim Curry que se entrega de corpo e alma ao personagem, entregando um dos mais memoráveis dentro do gênero musical, seu corpo em cena, sua mise-en-scène e, principalmente, sua voz ultrapassam a barreira do filme e se finca dentro da cultura pop de forma geral, tendo seu visual homenageado constantemente em outros filmes, e até mesmo em animações como Os Simpsons e South Park. Sua atuação é tão marcante que ficamos nos questionando o motivo pelo qual ele não fora indicado ao Oscar de 1976.
As música, como já falamos, exploram bem os filmes de terror e ficção científica mais antigos, mas além disso, é atualizada para temas que eram novidades e pertinentes na época. O primeiro e o mais óbvio era a liberdade sexual alcançada na cultura não só americana, mas mundial. No filme, era comum a maioria das músicas terem insinuações sexuais, debate de gênero e liberdade, destacamos aqui duas músicas Time Warp e Sweet Tranvestite. As demais músicas faziam referência diretas aos filmes antigos como as primeiras adaptações de Frankenstein de Marry Shelly, isso fica claro na canção Over at the Frankenstein Place. Por fim, o filme também faz questão de apresentar a ascensão da TV e o debate com o cinema, em uma das últimas cenas é possível ver antenas de transmissão de televisão da época.
Por ser um filme de baixo orçamento, ele contém efeitos visuais não muito chamativos e até mesmo ultrapassados para a época, caso o filme fosse um músical com temática mais séria ele correria o risco de se tornar um dos piores filmes da história, mas como o baixo orçamento faz parte da narrativa e o filme brinca com isso, os seus escassos recursos tornam-se um aliado dentro da dramaturgia do filme fazendo com que momentos sérios se tornem engraçados pelos efeitos ruins.
Com um visual icônico e músicas relevantes, The Rocky Horror Picture Show se torna um dos musicais mais importantes do século XX. Também por trazer consigo temas tão comuns às sociedades da época, quebra de tabus, liberdade sexual e de gênero. Sua importância para cultura pop é tanta que até hoje em dia é reverenciado por diversos artistas, ganhando diversas adaptações sejam na Broadway ou na televisão , e pelo seu fiel público que se reúne para sessões de meia-noite pelo mundo para apreciar o filme.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.