The Red Strings Club – Profundidade complexa em pixel art

Recentemente a Devolver Digital lançou mais um jogo aparentemente simples, mas profundamente complexo. O cyberpunk sempre me chamou atenção, não só pelo visual e as musicas que são únicas, mas pelo leque de possibilidades criativas que vem com esse sub-gênero de ficção cientifica, diferentes formas possíveis de questionar nossa humanidade.
The Red Strings Club questiona não só nossa humanidade, mas nossa individualidade, como seria um mundo utópico onde pessoas são livres de preocupações, ansiedades, medos e tristezas. Se todo mundo fosse feliz, “ninguém estaria disposto a lutar, a se revoltar, a agitar o nosso mundo. As letrinhas miúdas da felicidade eterna são a obediência absoluta” como dito por Donovan, o protagonista do jogo, um barman que ganha a vida trocando e vendendo informações.
O jogo é bem simples quando se trata do gameplay, totalmente Point-and-Click, você apenas vê a historia acontecendo enquanto toma decisões que podem redefinir o mundo do jogo e faz drinks para seus clientes, que, aliás, é um conceito especial de The Red Strings Club, o barman tem uma ‘musa’ que consegue ver a alma do cliente, e assim ele consegue fazer o drink que acerta em cheio onde é preciso; No orgulho? No medo? Na ansiedade? A escolha está em suas mãos, em forma de garrafas de bebida.
Esse é um daqueles jogos que suas escolhas importam, você colhe o que planta, o que foi dito será lembrado. Cada ação escolhida por você te leva por um caminho novo, tecendo um ‘fio vermelho’ que pode mudar dependendo de cada jogador.
Em certo momento no jogo, você é apresentando a uma dinâmica onde você controla um androide Akara, um androide capaz de ter empatia e tomar decisões próprias sobre como cada situação deve ser lidada. Como este Androide, você recebe a tarefa de fazer transplantes inibidores e/ou potencializadores, para clientes “insatisfeitos” com algo na vida.

É aí que vem o ponto chave desse jogo pra mim. A primeira cliente é uma cosplayer, que diz estar precisando aumentar seus seguidores nas redes sociais, nesse ponto, o mais óbvio a ser feito é, ajudar ela com um transplante que aumente o carisma dela, e assim, ela ganha mais seguidores. Mas, alguns clientes depois ela retorna, dizendo que aumentou sim de seguidores, mas agora está tendo problemas em lidar com os ‘haters‘. Então você faz um transplante em que você inibe os comentários maldosos que ela recebe, nesse momento o software assistente te alerta: “Ignorar aqueles que te odeiam, não fará com que outros gostem mais de você”.

 

Você é meio que obrigado a ficar nesse ciclo vicioso, de um futuro onde pessoas podem escolher se elas querem sentir mais, ou menos, até você entender de fato que, na verdade, é isso que nos faz humanos. Errar, sentir, sofrer, ser feliz, tudo isso junto. Ter controle sobre o que sentimos seria um regresso, e não o contrário.
Eu amo a ideia de como um jogo independente consegue te fazer questionar coisas tão profundas quanto sua própria felicidade, quanto de controle temos sobre nossas ações, etc. Já tenho um histórico de amor com a Devolver Digital graças a outros jogos como Hotline Miami e Titan Souls, mas esse foi o que me acertou mais em cheio, e espero que você que está lendo isso possa ter uma experiência tão legal quanto a minha. O jogo custa atualmente R$ 28,99 na Steam, mas se não couber no seu orçamento é só ficar de olho naquele desconto maroto que tá sempre acontecendo.