Uma Dobra no Tempo – Um bom visual não é o bastante

 

Meg (Storm Reid) é uma jovem que tornou-se negativa e desmotivada após o desaparecimento de seu pai (Chris Pine), sumido há 4 anos. Ela vive com sua mãe (Gugu Mbatha-Raw) e seu irmão, Charles Wallace (Deri McCabe), e possui uma rotina difícil na qual tem que lidar com casos de bullying moral na escola. Após o aparecimento de mulheres estranhas na sua rotina, que entram em contato com ela através do caçula, a protagonista começa a ter um vislumbre do possível paradeiro de seu pai. Com isso, passa a desconfiar de que ele pode estar vivo em outra dimensão, o que confirma os resultados da pesquisa científica que ele desenvolvia com sua mãe, uma pesquisa sobre dobras no tempo e espaço, que permitem viagens pelo universo.
O filme baseia-se na obra de mesmo nome lançada em 1962, escrita por Madeleine L’Engle, em que narra a jornada de Meg em busca de seu pai perdido. Dirigido por Ava Duvernay, diretora do aclamado Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma, 2014), o filme possui uma presença feminina muito forte e isso se mostra pela escolha da protagonista, das três guias mágicas (Oprah Winfrey, Reese Witherspoon e Mindy Kaling) e como a história se desenvolve no aprofundamento das questões de Meg.
Sem poupar o sentimentalismo, o filme se inicia ambientando a relação da protagonista com seu pai. Mas o que é mostrado não é suficiente para estabelecer uma relação do público com a perda dela, tudo se dá de maneira rápida e não se consegue construir verdadeiros laços de importância para com a necessidade dela em esperar que o pai desaparecido volte. É como se a narrativa tentasse construir situações sem mostrar os porquês de forma coerente. Entende-se que uma criança sofre com a perda de um de seus pais, mas a construção mostrada é rasa.
E o mais lamentável é que as questões da protagonista em relação a sua posição no mundo são bem desenvolvidas e amarradas, mesmo que o foco da história não devesse pairar por esse aspecto apenas. Com a jornada, passa-se a torcer para que a personagem consiga se superar em busca de ficar bem consigo mesma. Seu pai, que deveria ser o cerne narrativo, passar a ter nenhuma importância.
Outro aspecto problemático nas escolhas de roteiro é o personagem Calvin (Levi Miller). Ele é um colega de escola de Meg que surge de maneira a contribuir para a história no momento decisivo em que as três guias surgem para ela e seu irmão. Por acaso, ele acaba embarcando na aventura por acidente, porém ele não possui nenhum peso real na resolução dos conflitos da protagonista que encontra em si e na sua família a força que precisa.
Tudo isso vai sendo construído por duas histórias em paralelo: o acompanhamento do presente de Meg e uma visão onisciente do passado de seus pais na realização de sua pesquisa científica. O teor teórico e a junção com a fantasia não é crível. Dessa forma, as explicações científicas e a versão mais mágica das “três guias” são conflituosas e só servem para complexificar algo sem acertar o tom entre fantasia e física.
A história constrói tudo isso baseando-se numa mensagem importante sobre o poder de confiar em si e na aposta do desenvolvimento pessoal para superação dos medos e dos próprios limites. Pena que ao passo em que a trama se desenvolve as coisas perdem o sentido. O filme foi competente em abordar os dilemas intimistas de Meg, mas perdeu completamente o sentido em tentar se justificar ou ser explicado. Dessa forma, não chega a lugar nenhum. No fim das contas é mais um filme feito para encher os olhos do espectador e os bolsos da Disney. Mesmo com mensagens importantes o roteiro é fraco e sem sentido.