Os vikings fazem parte da história do cinema desde o seu início, ocupando atenção tanto de Hollywood quanto da Europa. Realizar uma lista de melhores filmes não é uma tarefa muito fácil, devido à grande quantidade de produções. Inquirindo os membros do NEVE, obtivemos listagens que incluem não apenas produções reconstituindo a Era Viking, mas também de períodos posteriores e mesmo do final do medievo na Escandinávia, além de outras que mesclam ficção científica e fantasia. O resultado muitas vezes é bem pessoal. Os comentários a seguir foram realizados pelo professor Johnni Langer.
O NEVE (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos) é um grupo que tem por principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval e em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Conta com a colaboração de professores, pós-graduandos e graduandos de diversas universidades brasileiras, além de colaboradores estrangeiros. Visite e curta a página do NEVE no Facebook e o canal do You Tube.
(The War Lord, 1965, EUA)
Direção: Franklin J. Schaffner
Sinopse: O nobre Chrysagon recebe terras na Normandia, assolada frequentemente por ataques frísios. Ele se envolve com uma camponesa e reclama o direito de jus primae noctis, o que acaba originado conflitos com a população local.
Comentário: Apesar de não ser diretamente um filme sobre nórdicos, os frísios são retratados como vikings pagãos, inclusive portando martelos do deus Thor. O filme é magistral, tendo como protagonista um dos maiores atores épicos de todos os tempos, Charlton Heston.
9
(The Viking Sagas, 1995, EUA)
Direção: Michael Chapman
Sinopse: Na Islândia da Era Viking, o jovem Kjartan (Ralf Moeller) inicia uma jornada para vingar a morte de seu pai.
Comentário: Produção de baixo orçamento, com roteiro envolvente e personagens cativantes. As cenas de ação e batalhas são muito fracas, mas as relações familiares, os conflitos e as disputas de poder são bem condizentes com os relatos das sagas islandesas, o que confere um grande atrativo ao filme.
8
(Stara basn. Kiedy slonce bylo bogiem, 2003, Polônia)
Direção: Jerzy Hoffman
Sinopse: No século 9 d.C., os poloneses são atacados por incursões vikings.
Comentário: Interessante filme polonês sobre o período da Alta Idade Média, mesclando elementos históricos com fantasia e sobrenatural. Os vikings aparecem de forma estereotipada, com exceção do personagem arqueiro. As cenas de ação e o roteiro em geral são razoáveis. Destaque para as cenas religiosas e as práticas mágicas.
7
(Í skugga hrafnsins, 1988, Islândia)
Direção: Hrafn Gunnlaugsson
Sinopse: O personagem Trausti volta para a Islândia e se envolve com uma briga familiar, devido a um cadáver de baleia. Sua mãe é ferida e ele acaba se envolvendo amorosamente com Isold.
Comentário: Segundo filme da trilogia “viking” do diretor Gunnlaugsson, baseado na narrativa de Tristão e Isolda, mas também mesclando diversas sagas islandesas. Considerado pela crítica um dos melhores filmes abordando a questão da cristianização na Escandinávia. O diretor também utiliza de diversos elementos simbólicos relacionados com a cultura islandesa ao longo do filme, como o véu branco e o corvo negro.
6
(Beowulf & Grendel, 2005, Islândia/França/Canadá)
Direção: Sturla Gunnarsson
Sinopse: O rei da Dinamarca mata um grande troll, mas deixa escapar seu filho, que depois retorna (já crescido), em busca de vingança.
Comentário: Uma das várias adaptações cinematográficas do épico anglo-saxão Beowulf, com personagens escandinavos. As filmagens na Islândia, a direção e diversos atores escandinavos conferem uma atmosfera extremamente condizente com a ambientação do relato, apesar de modificar muito a sua narrativa original. Um dos poucos filmes sobre nórdicos medievais em que todos estão caracterizados corretamente com equipamento militar da época (cotas de malhas e elmos). Destaque para a representação da feiticeira e suas práticas mágicas. É considerado por vários escandinavistas como a melhor adaptação do épico britânico.
5
(Birkebeinerne, 2016, Noruega)
Direção: Nils Gaup
Sinopse: No ano de 1206 a Noruega está tomada pela guerra civil. O filho do rei ilegítimo, Håkon Håkonsson, que metade do reino quer morto, é guardado em segredo por dois homens. Uma história que mudou o curso da história do país.
Comentário: Excelente produção fílmica norueguesa, reproduz alguns momentos da guerra civil norueguesa após a Era Viking (séculos XII-XIII d.C.). Gaup é especialista em filmes históricos retratando cenas de batalhas nórdicas em neve, como
Fugindo da Morte (Ofelas, 1987), produção enfocando a região da Lapônia do ano mil. Entre os personagens principais da produção O Último Rei, está o ator Kristofer Hivju, que interpreta o personagem Tormund Giantsbane, da série Game of Thrones. A principal trama do filme é a fuga de um bebê bastardo (futuro rei Hakon IV), conduzido por dois homens, um tema icônico na cultura norueguesa (em 1869 o pintor Knud Bergslien realizou a famosa pintura “
Birkebeinerne på Ski over Fjeldet med Kongsbarnet“). Se as questões políticas e sociais não são tão aprofundadas no filme, a narrativa é muito bem conduzida e as cenas de ação são excelentes. O filme possui reconstituições de batalha muito superiores a outras produções escandinavas reproduzindo o medievo, como a islandesa O Desafio de um Guerreiro (The Viking Sagas, 1995). O reinado de Hakon IV é um dos mais famosos da Noruega medieval (durou quase 50 anos). Sob seu mecenato cultural algumas das grandes produções literárias do medievo nórdico foram produzidas, como a Volsunga saga e a versão norrena de Tristão e Isolda. O título do filme, Birkebeinerne, se refere a um grupo militar-político da Noruega, criado entre os anos 1174 a 1218, originalmente criado contra o rei Magnus V da Noruega.
4
(Erik, the Viking, 1989, EUA)
Direção: Terry Jones
Sinopse: Um viking de nome Erik (Tim Robbins), após assassinar acidentalmente uma mulher, parte em busca dos deuses nórdicos.
Comentário: A mais famosa comédia sobre o tema. Consegue manter o ritmo divertido do início ao final, trazendo diversas paródias e muita irreverência ao tratar especialmente da mitologia e religiosidade nórdica. As cenas em que o sacerdote cristão não vê a mesma realidade que os pagãos (por não acreditar nelas) é um dos pontos fortes do filme.
3
(The Long Ships, 1964, EUA)
Direção: Jack Cardiff
Sinopse: Um jovem líder viking (Richard Widmark) envolve-se na busca por um lendário sino de ouro, do mesmo modo que um príncipe mouro (Sidney Poitier).
Comentário: Baseado no famoso romance
Röde Orm escrito por Frank G. Bengtsson em 1941, mas influenciado esteticamente por
Vikings, os Conquistadores (The Vikings, 1958). O filme é uma das poucas produções que teve como tema o encontro dos nórdicos com as populações islâmicas da África, mas também contém elementos fantasiosos. O ponto mais positivo do filme é a atuação do excepcional ator Sidney Poitier, no papel de Aly Mansuh.
2
(The Vikings, 1958, EUA)
Direção: Richard Fleischer
Sinopse: Dois irmãos de origem escandinava, separados no nascimento, disputam o amor pela mesma mulher – uma princesa inglesa, iniciando uma disputa que torna-se o clímax da narrativa.
Comentário: o mais famoso e importante filme com temática nórdica da história do cinema. Influenciou diretamente a moda viking cinematográfica até os anos 1970, mas ainda tendo influências estéticas mesmo em nossos dias. Faz parte da onda épica dos anos 1950, tendo a frente do elenco nomes importantes deste estilo, como Kirk Douglas – memorável no papel de Einar, assim como o ator Ernest Bornigne no papel de Ragnar – popularizando a imagem irreverente e aventureira do viking no imaginário contemporâneo. Apesar de ter auxiliado a desconstrução de diversos estereótipos sobre os escandinavos medievais – como a ausência de elmos chifrudos e a barbárie selvagem, além de uma das primeiras produções que reconstituem as vilas e as embarcações da Escandinávia (todos com assessoria de historiadores nativos desta região), o filme também contém diversos problemas historiográficos e outros erros de interpretação do passado (como o uso de bússolas magnéticas; a falta de calças em alguns personagens masculinos; a mistura de tempos históricos, como a mescla do período feudal e castelos com Alta Idade Média, etc). Ainda assim, possui cenas memoráveis e uma narrativa empolgante, típicas do cinema clássico.
1
(The 13th Warrior, 1999, EUA)
Direção: John McTiernan
Sinopse: Um aventureiro árabe, ao fugir de problemas em sua cidade, envolve-se numa aventura no mundo nórdico da Era Viking, confrontando seres fantásticos chamados de Wendols.
Comentário: Baseado no romance Os devoradores de mortos, de Michael Crichton, o filme funde elementos históricos com fantásticos, assim como o livro de Crichton, que é uma mistura do relato árabe de Ibn Fadlan com o épico anglo-saxão Beowulf. Apesar de apresentar diversos erros de reconstituição histórica, nos equipamentos bélicos, na sociedade, vestimentas, habitações, etc, o filme foi o mais votado pelos escandinavistas pelo fato de ter uma narrativa envolvente, uma ação vigorosa e uma atuação memorável de seus atores, muitos de origem nórdica (Dennis Storhøi, Sven Wollter, Turid Balke, Maria Bonnevie, entre outros). Particularmente, o filme estreitou no Brasil durante o início das novas pesquisas acadêmicas sobre Escandinávia (em 1999), o que confere também um apreço especial a ele pelos pesquisadores.
Além do Professor Johnni Langer os outros mebros no NEVE que ajudaram a escolher os filmes da lista foram André de Oliveira, Fábio Baldez Silva, José Lucas Cordeiro Fernandes, Leandro Vilar Oliveira, Luciana de Campos, Marlon Maltauro, Pablo Gomes de Miranda, e Ricardo Wagner Menezes de Oliveira.
Alguns outros filmes que foram cotados, mas não entraram para a lista final, em ordem cronológica são:
– Os Nibelungos: A morte de Siegfried, 1924
– Deuses Vencidos/O Viking, 1928
– O sétimo selo, 1957
– Príncipe Valente, 1957
– A fonte da donzela, 1960
– A vingança dos vikings, 1961
– Os bravos tártaros, 1961
– O último dos vikings, 1961
– Alfredo, o Grande, 1969
– Outlaw: The Saga of Gisli. 1981
– Quando os Corvos Voam, 1984
– Kristin Lavransdatter, 1995
– A maldição do anel, 2004
– Desbravadores, 2007
– Arn, o cavaleiro templário, 2007
– Outlander, guerreiro vs predador, 2008
– A Saga de Biorn, 2011
– Northmen: A Saga Viking, 2014
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.